Capítulo 14

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 É possível que um ou outro detalhe tenha se perdido no tempo, mas o que acabei de contar foi tudo o que li a respeito de como tudo começou – Simon disse, ao concluir sua narração.

- É... – disse, sentindo os olhos umedecidos, enquanto pensava em um termo que qualificasse a história cheia de reviravoltas - ...densa – declarei, na falta de palavra melhor. Permaneci com as mãos fechadas em torno dos pulsos de Simon durante todo o seu relato, tentando encontrar com esse gesto algum suporte para conseguir digerir as partes mais tristes e complexas da história. – Então quer dizer que todas as histórias sobre bruxas e feiticeiros são reais?

- Aí eu já não sei – ele disse distraidamente, percorrendo com as mãos grandes a extensão das minhas pernas. - Existem muitas histórias sobre nós, vampiros, e nem todas são reais. Pode ser que aconteça o mesmo com os feiticeiros e bruxas ou qualquer um dessa ordem. Mas a verdade é que eles existem, assim como uma grande variedade de todo tipo de criaturas.

- Opa, peraí – sorri, de puro nervosismo, erguendo as mãos. - Eu acabei de descobrir que feiticeiros realmente existem e você quer me dizer que além deles, dos humanos e dos vampiros, ainda existem mais... mais...

- Seres? – sugeriu.

- Isso.

- Bom, não é porque os olhos não veem que significa que não existam coisas que vão além da nossa compreensão, não é mesmo? – Simon declarou, me sorrindo ternamente. - Então, sim, minha querida, existe uma infinidade de seres sobrenaturais e mitológicos que, de fato, habitam essa terra, mas que ao contrário de nós, vampiros, ainda preferem, muito sabiamente, a meu ver, manterem-se nas sombras.

- Oh, Deus – suspirei, e fechei os olhos, levando uma mão à testa. Senti um formigamento na nuca, seguido por um frio percorrendo o corpo, típico de quando minha pressão caía.

- Não é algo muito fácil de assimilar, não é mesmo? – ele perguntou.

- Não, não é – neguei com a cabeça. - Realmente, saber de certas coisas não é lá muito reconfortante.

- Eu sei – Simon pareceu soltar um longo suspiro. - Levou um tempo até que me acostumasse com a ideia de que existiam muito mais coisas entre o céu e a terra, além das que eu tinha conhecimento. Quando descobri, eu não sabia se preferia ter continuado na ignorância, ou não. Era sombrio pensar que vivi mais de vinte anos da minha vida cercado por outras classes de seres e totalmente alheio a isto.

- Acho que é como eu me sinto agora – confessei, com a voz baixa.

- Tá tudo bem? – Simon perguntou, acolhendo a lateral do meu rosto com uma mão.

- Tá, tá sim. É só que... acho que vai demorar um pouquinho até a ficha sobre tudo isso cair – sorri para tranquilizá-lo, mas por dentro eu temia ao pensar no risco desconhecido que eu, assim como todos os humanos, corria, sempre que colocava os pés para fora de casa. – Bom... – disse com um suspiro, me movendo em seu colo - ...quer dizer então que se vocês estão aqui hoje é devido a uma maldição... Tudo isso foi causado por uma maldição.

- Também – Simon fez uma careta, erguendo as sobrancelhas. - Eu diria que tudo isso foi resultado de um sentimento não correspondido, e a não conformidade do sujeito em aceitar. Noah poderia muito bem ter deixado a moça seguir seu caminho com o Drago, deixá-los viver juntos, e cuidar da criança que teriam. Mas não. Ele preferiu ir atrás dos dois e suas ações irracionais condenaram não só ao Drago, mas a toda uma geração que começou a ser assolada pelo mal proveniente dele. Egoísta, foi o que o Noah foi. Se ele realmente a amasse, a deixaria partir e viver a vida que desejava. No final, ele optou por seguir pelo caminho mais difícil. Acabou ficando sem ela, deu início a um mau que ninguém conseguiu conter até os dias de hoje, e ainda desencadeou uma guerra entre vampiros e feiticeiros que ceifou várias vidas ao longo dos anos.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now