Estava em frente ao espelho do banheiro, terminando de pentear os cabelos, quando Simon surgiu pela porta do quarto, sustentando nas mãos uma belíssima e reluzente bandeja de cristal.
- Aqui está. Tudo o que precisas para se sustentar de forma a recuperar suas forças – Simon anunciou, sorrindo, depositando a bandeja retangular sobre uma pequena mesa redonda de madeira localizada em um canto do quarto. Quando me aproximei, vi que ele tinha trago não só uma bela porção de massa, como também vinho e um pedaço de torta de limão. Minha sobremesa preferida.
- Hummm... parece delicioso.
- Deve estar – ele riu. - Eu não tive a oportunidade de experimentar a comida do Victor, mas devo supor que é excelente, assim como tudo o que ele faz. Eu pensei em tomar um banho, enquanto você come. Importa-se em comer sozinha ou quer que eu te faça companhia?
- Não, pode ir, querido. Fique tranquilo.
- Eu não demoro – seus dedos alcançaram minha nuca, segurando-a, e ele se inclinou para beijar calidamente minha testa, antes de seguir para o banho.
A forte chuva que horas antes caía, finalmente cessara. Resolvi então tomar a bandeja e fazer minha refeição na varanda. Encontrei no espaço uma bela espreguiçadeira de almofadas e vime negro, seca, pois não pegara uma gota de chuva sequer, devido à proteção do teto que cobria a varanda, onde me sentei. A peça possivelmente havia sido feita por encomenda, visto seu tamanho amplo. Algo lógico e necessário, para conseguir acomodar um homem do tamanho de Simon. Saboreei tranquilamente minha refeição. Quando terminei de comer, fiquei um tempo em pé, na sacada, contemplando a noite.
Com as mãos apoiadas no parapeito, fechei os olhos e puxei uma respiração profunda, sentindo o cheiro de terra molhada invadir meus pulmões. Era algo quase divino de sentir. Quando abri os olhos novamente, observei o céu, antes coberto por nuvens espessas, mas que agora se expunha límpido de qualquer sinal de tempestade. Preenchendo a imensidão azul, havia milhares de diminutas estrelas e uma grande, e amarelada, lua cheia. Era como se a chuva torrencial que caiu passasse e levasse consigo toda impureza, fazendo com que as folhas das árvores ficassem mais verdes, tornasse o céu limpo e reluzente e deixasse o ar mais leve e fresco.
Quando uma rajada de vento soprou, fazendo com que as folhas das plantas e árvores farfalhassem, e um arrepio percorresse meu corpo, senti o peito de Simon na altura da minha cabeça e seus braços fortes me cercando. Ele me acolheu em um abraço, e me vi presa em um casulo que ele formou com seu corpo e uma manta que ele trazia sobre o corpo e que agora me rodeava.
- Ah, sim – suspirei, fechando os olhos. - Agora está bem melhor – declarei, envolvendo suas mãos com as minhas, segurando-as na altura do peito.
- O alimento foi suficiente? Quer que eu busque algo mais? – ele perguntou, cuidadoso.
Talvez Simon não tivesse consciência, mas a verdade era que todas as ações que ele disse que faria se fossemos casados em sua época como humano, ele fazia agora, quando vampiro, mesmo sem termos nenhum compromisso legal firmado. Ainda que nem tudo o que ele relatara fosse possível de acontecer, o amor, o carinho e o zelo se faziam evidentes, e isso era comovente.
- Foi mais que suficiente, querido. Obrigada – agradeci, beijando-lhe os dedos. - A única coisa que eu quero agora é poder ficar assim, abraçada a você.
- Venha, sente-se aqui comigo – Simon chamou, me conduzindo à espreguiçadeira. Assim que ele se sentou, me acomodei entre suas pernas, tendo seu peito as minhas costas. Seus braços então se fecharam a minha volta, me envolvendo com a aconchegante manta novamente.
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Meia-noite Sombria
VampiroSegundo volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Conhecidos, mas não descobertos. Saídos das sombras, os vampiros firmaram-se como cidadãos na sociedade e provaram que tudo o que era sabido a seu respeito não passavam de lendas. Ou não. Passa...