Meia-noite Sombria

Capítulo 23

Inglaterra

Nesta mesma noite...

Os dois vampiros discutiam acerca das decisões firmadas a pouco com os malfadados comissários de Boston, quando foram interrompidos pelo som abafado de alguém batendo a porta.

- Entre – Baron ordenou, já sabendo de quem se tratava. Aos poucos a porta foi aberta e o rosto anguloso de Aaron, secretário dos mais antigos, apareceu.

- Com licença, senhores – o vampiro pediu, trazendo sua figura, ruiva e esguia, a vista dos conselheiros quando adentrou lentamente o ambiente suntuoso.

- Ela chegou, não é? – Baron perguntou, já sabendo do que se tratava.

- Sim, meu senhor - Aaron respondeu, enfatizando a resposta com um movimento positivo da cabeça.

- Peça que entre, por favor – Baron pediu.

Sentado na cadeira ao lado de Baron, Torrence soltou um resmungo em um claro de reprovação. Reação que Baron se limitou a ignorar.

- Não sei por que aceitou vê-la – Torrence ralhou, movendo-se impaciente na cadeira. – A mulher mal disse do que se trata. Não bastasse isso, ela nem ao menos procurou seguir o protocolo e buscar primeiro pelo comissário a quem responde para lhe expor a questão. Ao contrário disso, veio diretamente a nós! Desde quando aceitamos essa postura, irmão? Comece abrindo exceções e logo todos estarão batendo a nossa porta – reclamou.

Ignorando novamente a Torrence, Baron teve que concordar, apenas internamente para não massagear o ego, já bem inflado, do irmão e companheiro de conselho que ele estava certo. Tinha aberto uma exceção para receber a mulher que sequer conhecia porque o pouco que ela tinha dito havia lhe chamado a atenção.

Noites atrás, um contato um tanto curioso foi feito com a sede do conselho. Curioso, pela perspectiva de Baron. Vago, e uma perda de tempo, pela perspectiva de Torrence. Emma Gonzalez, responsável pelo primeiro contato dos que procuram a sede em busca de falarem com os conselheiros, observou de sua mesa a aproximação de uma mulher vestida de forma elegante que ganhava o corredor a passos fluídos, mas decididos.

- Boa noite! – a vampira saudou, assim que alcançou a mesa da recepção. - Meu nome é Charlote Jones – apresentou-se, sua voz firme contrastando com suas feições delicadas. Eu necessito agendar uma audiência com o conselho. Trata-se de um assunto de extrema urgência – a mulher disse a Emma.

"Isto é o que todos dizem" – Emma pensou, enquanto olhava a figura feminina que possuía olhos grandes, e incrivelmente azuis, e longos cabelos castanho-escuro.

Apesar de Emma ter insistido de forma sutil para que a mulher revelasse a origem do assunto, Charlote manteve-se relutante em dar maiores detalhes, atendo-se apenas a mencionar um nome. Só um nome. E foi esse nome que fez com que Emma se valesse de toda a sua coragem para repassar o contato aos conselheiros. E teve certeza de que foi a menção desse nome que fez com que os mais antigos, em específico Baron, concordassem em receber a mulher.

- Se não deseja participar da reunião, sinta-se a vontade para partir, Torrence. Eu posso lidar com isso – Baron declarou. Não mostrou-se aborrecido ao dizer tal coisa, mas em seu interior sabia que há essa altura, e com tudo o que estava acontecendo, a última coisa que queria era passar as últimas horas da madrugada com Torrence pregado ao seu lado falando ladainhas.

- De forma alguma. Faço questão de ouvir o que a mulher tem a dizer – Torrence disse, e encarou o perfil, maduro e cinzelado, de Baron. – Imagina do que se trata?