Capítulo 09

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Simon permaneceu parado junto à porta aberta, ainda segurando a maçaneta, enquanto seus olhos percorriam o ambiente. Rapidamente, soprei a chama do fósforo que segurava, apagando-a. Tentei saudá-lo com um "Seja bem-vindo!", mas minha boca secou e as palavras ficaram presas em minha garganta. Apesar de já conseguir identificar algumas nuances da personalidade de Simon, e entender suas expressões, algumas vezes ele ainda era um mistério, totalmente imprevisível para a minha compreensão. E agora era uma dessas ocasiões. Ao observá-lo, parado junto à porta aberta, eu não sabia muito bem o que pensar. Elevando-se em seu 1,90m de altura, vestindo um elegante terno azul marinho e com os cabelos castanhos penteados para trás, com os fios roçando o colarinho da impecável camisa branca, ele manteve a testa franzida e percorreu com os olhos, que tive a impressão de brilharem em confusão, as pétalas vermelhas distribuídas pelo piso de madeira e as velas acesas dispostas pelo cômodo. Segundos, que pareceram minutos, se estenderam longamente, até que seus olhos pousaram no meu rosto, que devia estar mais vermelho do que um pimentão. E então ele sorriu. Um sorriso de canto de boca, mas sorriu.

- É... – Simon disse, elevando as sobrancelhas e finalmente fechando a porta atrás de si. - Parece que, na minha ausência, alguém andou bem ocupada por aqui. Boa noite, Ana! – ele saudou, me encarando, e encostou as costas largas na porta, cruzando os braços na frente do peito.

"Caramba, ele não gostou!" – minha mente gritou. "Boa noite, Ana!"? Nada de boa noite, minha amada, minha querida, meu amor, nem nenhuma de suas formas carinhosas de se referir a mim?! E para piorar, ele ainda pregou as costas na porta e nem se aproximou para me abraçar ou beijar, preferindo manter-se longe? Definitivamente, ele não gostou – concluí.

Apesar de tudo, ouvir sua voz desencadeou um turbilhão de sentimentos e sensações dentro de mim. Minhas pernas bambearam e apesar do desejo enorme de correr e me lançar em seus braços, fiquei plantada no lugar, sendo consumida pela agitação.

- Ei... boa noite! – lhe saudei, sorrindo. As palavras saíram quase sussurradas. - E então... – levantei as mãos como se estivesse lhe apresentando o próprio quarto. - O que você achou?

Em vez de responder, Simon tomou um pequeno impulso, afastando as costas da porta, e começou a caminhar pelo quarto. Tomando cuidado para não pisar nas delicadas pétalas de rosas, ele avaliou a disposição das mesmas em cima da cama e chão e então correu os olhos pelas velas. Ele foi em direção à cômoda, onde eu havia colocado uma pequena vela branca, e deteve-se a sua frente.

- Hum... – ele disse, acomodando as mãos nos bolsos da calça, e inclinou-se para frente, aproximando o rosto do objeto. Por alguns segundos Simon observou intensamente sua chama cintilar. – Interessante – concluiu, depois de um tempo, afastando o rosto da vela. - Isso é jasmim? – perguntou, olhando para mim.

- Aham – disse, concordando com a cabeça. – Você gosta? – minha pergunta foi quase uma súplica por qualquer demonstração de aprovação, ou não, da iniciativa.

Enquanto eu estava com o coração batendo a mil dentro do peito, e com as palmas das mãos suando frio, Simon mantinha-se tão calmo em sua avaliação, que chegava a irritar. E o pior de tudo era que ele sabia, exatamente, como eu me sentia e não estava facilitando, em nada, o meu lado.

- Está maravilhoso – declarou, com um tom de voz espesso. Ele caminhou em minha direção e então se deteve a minha frente, avaliando-me dos pés a cabeça. Minhas bochechas queimaram quando seus olhos dedicaram atenção especial para a pele exposta das minhas pernas, devido ao robe curto, subiram pelo meu ventre e contemplaram o volume dos meus seios por entre o decote em "V". Quando seus olhos azuis encontraram os meus, Simon deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. Envolvendo uma mecha do meu cabelo entre os dedos, ele a lançou por sobre o meu ombro. Inesperadamente, o homem trouxe sua boca em direção ao meu pescoço. Estremeci, achando que nesse momento seus braços se fechariam possessivamente a minha volta e ele fosse beijar minha pele de forma ávida, e cerrei os olhos, ansiando por sentir seus lábios. Mas o beijo não veio, e apenas ouvi seu sussurro rouco dizendo: – Você também está maravilhosa.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now