Capítulo 21

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Na terça-feira, dois dias depois da visita de Drago ao clube, Gabriel achou por bem que voltássemos ao local para contabilizarmos os prejuízos. O caminho até o estabelecimento foi feito no carro de Simon. Enquanto eu dirigia, Gabriel, sentado no banco do carona, passava orientações para que nenhum de nós revelasse o estado de Simon aos demais funcionários do clube. Quanto menos pessoas soubessem, melhor, ele disse. Simon e Dixon, que iam no banco traseiro, não concordaram nem discordaram, e limitaram-se a guardar um silêncio sepulcral. Assim que chegamos ao clube, a primeira providência foi a de fixar um cartaz na entrada informando que o clube permaneceria fechado por tempo indeterminado e pedindo desculpas aos frequentadores pelo transtorno.

Quando adentramos ao interior do local, o cenário me pareceu ainda mais desolador do que na noite do confronto. Sem dúvida nenhuma, o prejuízo seria grande, não só pela reconstrução do interior do clube e a reposição das peças utilizadas na decoração, que em sua maioria não se encontravam disponíveis no mercado a pronta entrega, sendo feitas por encomenda, quanto pelos lucros que deixariam de serem ganhos, enquanto a casa permanecesse fechada. Pelo tempo que nos mantivemos no local, conseguimos organizar para que os entulhos e escombros fossem removidos, levantar quais peças deveriam ser repostas, além de agendar para que um engenheiro comparecesse ao clube e fizesse todo o levantamento quanto à estrutura e reconstrução das partes afetadas. Analisando por cima, era bem possível que o clube não voltasse a abrir por pelo menos três semanas.

O restante da semana transcorreu ora de forma tranquila, ora conturbada. Por não aceitar ficar de fora do grupo de caçadores, Simon estava extremamente irritado e arredio, agindo de uma forma como nunca antes o tinha visto. Sua insatisfação, porém, não vinha por meio de embates, mas sim de um silêncio preocupante e olhares frios e indiferentes. Ele ouvia o que falávamos, fazia algumas perguntas, mas não nos dava espaço para nenhum tipo de conversa mais pessoal. Gabriel, Victor, Dixon e eu tínhamos nos tornado seus informantes e ele deixava claro, por meio de seu comportamento distante, que não permitiria que nos aproximássemos dele de outra forma. Não tínhamos mais seus sorrisos espontâneos e gargalhadas contagiantes, nem seu espírito protetor ou conversas descontraídas. Doía, não só em mim, mas em Gabriel e Victor também, vê-lo assim. Apesar de manter-se resignado, era evidente que Victor sentia falta do patrão respeitoso. Gabriel, que nos últimos dias parecia ter envelhecido centenas de anos, devido à pressão da situação, revelara outro lado de sua personalidade, menos risonho e mais maduro. A sua maneira, ele sofria pelo irmão e amigo.

Quanto a mim, evitei atender as ligações de Sara e Emily e quando não foi mais possível ignorar seus telefonemas, desconversei e arrumei inúmeras desculpas para não me encontrar com ambas, o que me fez sentir-me extremamente mal e a pior das amigas. Mas, se as encontrasse, elas imediatamente perceberiam que algo não estava bem e eu não queria me obrigar a mentir para nenhum das duas. Em um de seus telefonemas, Sara disse que queria devolver o vestido que eu havia lhe emprestado para ir ao casamento de Rachel. Tentando me esquivar de um possível encontro, lhe disse que ela poderia ficar tranquila, pois não tinha pressa. Quando ela insistiu em me encontrar e contar sobre as boas novas com Peter, não tive mais como evitá-la e marquei para encontrá-la em minha casa, no sábado.

Durante o dia, eu mal conseguia me concentrar no trabalho ou me alimentar, e a noite, quando não estava acompanhando Simon e Gabriel, sofria de insônia e ver o sol nascer estava se tornando uma rotina. Na última noite eu conseguira dormir por duas hora, mas tinha sido um sono tão agitado que não proporcionara nenhum descanso. A fadiga e as dores de cabeça, provocadas pela privação do sono, também passaram a fazer parte do meu cotidiano. Nada disso, porém, era pior do que o sentimento de perda e vazio que sentia em relação a Simon.

Meia-noite SombriaWhere stories live. Discover now