Ana? O que tá fazendo? – Gabriel perguntou, quando me encontrou no corredor, olhando confuso para os itens que eu trazia nas mãos. Assim como as minhas, suas mãos também estavam ocupadas, só que com livros. Um punhado deles. Todos com páginas amareladas, evidenciando que eram antigos.
- Eu só... vou procurar um quarto em que eu possa dormir.
- Por quê? Você tá com medo de dormir sozinha com o Simon nesse estado? – ele perguntou, avaliando meu rosto.
- Não, não é isso não. É que... ele me perguntou se podia dormir sozinho. Disse que quer pensar um pouco em tudo o que a gente contou pra ele. Acho que ele quer um pouco de privacidade – encolhi os ombros.
- E isso a incomoda – constatou.
- Bom, se fosse eu no lugar dele, acho que também não iria querer dividir a cama com alguém que eu não reconheço. Eu entendo ele, mas é que... dói – confessei, e meus olhos arderam, quando mais lágrimas brotaram. - Dói saber que faltou pouco para eu o perder essa noite. Dói saber que ele não reconhece nenhum de nós e nos considera como estranhos. E dói saber que agora ele está lá no quarto, sozinho, e eu não posso nem abraçá-lo ou confortá-lo, que é tudo o que eu queria fazer nesse momento.
Ouvi um barulho abafado quando os livros caíram e se chocaram com o tecido da passadeira que cobria o piso do corredor. No instante seguinte, os braços de Gabriel estavam a minha volta, me prendendo em um forte abraço.
- Eu sei. Nós vamos resolver isso – ele sussurrou contra os meus cabelos. – Nós vamos resolver isso, tá bom? – repetiu, e afastou o rosto para me olhar. Quando concordei com a cabeça, ele prosseguiu. - Eu consegui falar com o conselho e eles marcaram uma videoconferência para amanhã à noite com todos os membros do conselho, o Simon e eu. Se quiser acompanhar o que vamos conversar, você pode estar presente, mas tem que ficar em silêncio até que a gente termine de falar com eles. Em hipótese alguma eles podem saber que você está ciente desses acontecimentos, entendeu?
- Entendi – concordei, e ele me liberou.
- Eu queria te pedir algumas coisas... – Gabriel disse.
- Ok, pode falar – disse, limpando o rosto molhado com as costas das mãos.
- Será que você podia passar uns dias aqui, enquanto a gente resolve isso tudo? Eu vou precisar tanto do seu suporte quanto o do Victor para me ajudar a contar as coisas pra ele e o colocar a par de tudo. Será que você pode ficar aqui, por enquanto?
- Claro, Gabriel. Eu ficarei.
- Certo. Tem outra coisa também. Eu acho que não é muito justo da minha parte te pedir isso, mas eu preciso que você guarde segredo do que aconteceu esta noite no clube e sobre o estado do Simon. Por favor, não comente sobre isto com ninguém. Sabe-se lá o que o conselho faria se descobrisse que esse assunto se tornou do conhecimento de humanos. Eu sei que o Simon não costumava te guardar segredo das coisas e eu também não pretendo fazer isso com você. Mas eu preciso que você não compartilhe com ninguém o que ouvir e acontecer aqui. Pode fazer isso?
- Posso sim. Você tem a minha palavra de que eu não vou contar nada – lhe garanti.
- Obrigado – ele me sorriu, e se abaixou para recolher os livros - Fique a vontade e escolha o quarto que você quiser. Se precisar, o Victor está lá embaixo. Ele deve saber qual quarto está mais apropriado pra você utilizar.
- Valeu. Acho que eu devo ter pelo menos uma horinha pra tentar descansar um pouco, antes de ir para o trabalho.
- E você está em condições de ir? – Gabriel perguntou, pondo-se de pé. – Não será melhor se você faltar?
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Meia-noite Sombria
VampireSegundo volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Conhecidos, mas não descobertos. Saídos das sombras, os vampiros firmaram-se como cidadãos na sociedade e provaram que tudo o que era sabido a seu respeito não passavam de lendas. Ou não. Passa...