Segundo

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(Poncho)

Quando saí da corretora minha intenção foi chegar cedo em casa, fazer as pazes com Elizabeth. Pois, o clima em minha casa estava insuportável. Tão empenhado eu estava em agradar que até mesmo comprei rosas para Elizabeth. O problema, porém foi quando recebi uma ligação de Anahí. Ela estava irritada. Na verdade mais irritada que o habitual e disse que precisava ver-me, eu até tentei me esquivar, afinal precisava buscar os meninos no colégio. Mas, como ela sempre conseguia o que queria com uma nova onda de ameaças concordei. Diferente das outras vezes, entretanto. Ela me esperaria em casa. Levei as flores que comprara para Elizabeth para ela.

A decepção seria maior quando vi que Anahí me esperava na portaria do condomínio. Seria, se ela não estivesse tão estonteante. Os cabelos – mais claros que o habitual – caiam em cachos mal feitos até a altura da cintura, nos lábios traziam o habitual batom rubro, porém dessa vez nada nos olhos, o que em minha opinião destacava ainda mais o azul celeste da íris.

Quando nosso olhar se encontrou percebi que ela sorria, enquanto me via ali, encostado da porta do carro com as rosas nas mãos, aguardando-a. Sorri-lhe em reposta bem a tempo de perceber que o sorriso de Anahí não passava de um cinismo. Um dolorido sorriso sarcástico era o máximo que eu podia esperar dela.

– Flores, Poncho? – Questionou divertida ao aproximar-se o suficiente. – Que patético! – Sem dizer mais uma única palavra entrou na porta do banco carona.

Ao ver que eu permanecia ali, parado sem nenhuma reação, ela abriu o vidro e reclamou:

– Ande depressa! Não quero que ninguém me veja com você! Ah, e quando quiser me agradar, eu prefiro sapatos. – Completou incisiva.

Ao me juntar a ela nem tentei uma nova aproximação. Eu já sabia de cor o ritual dissoluto dos nossos encontros. Não fazia sentido receber novamente um balde de água fria em minhas expectativas. E naquele momento senti falta da Anahí que eu conhecera.

– Para onde vamos? – perguntei pragmático com os dedos nas têmporas, engolindo forçadamente a decepção que tivera.

– Oh, querido. Pode ter certeza que não vamos jantar. – Ela sorriu acariciando o meu rosto com a ponta das unhas. Porém afastou-se rapidamente.

Obviamente eu não poderia esperar nada melhor que isso. Nunca. Minutos depois estacionei na frente de um motel.

– Nem pensar! – Ela baixou a viseira solar, arrumando os cabelos no espelho. – Já é bastante humilhante precisar do meu ex-marido para satisfazer minhas necessidades físicas. Não me deitarei com você em uma espelunca pulguenta!

– É um dos melhores motéis da cidade, Anahí. Você só sabe reclamar de tudo! Estou perdendo a paciência! – disse isso já voltando a acelerar o carro

– Pare a droga do carro!

– Nem pensar. Você não vai a lugar nenhum agora.

– Você não está em posição de ditar ordens, meu bem. Ou leve-me para um lugar melhor ou pare o carro para eu ter a oportunidade de arrumar companhia melhor.

– Pare de uma vez por todas de ameaçar-me, meu amor! Eu vou até o inferno atrás do desgraçado que chegar perto de você, ouviu bem? – Quando terminei de proferir as últimas palavras minhas mãos tremiam, fechadas em punho, pressionando com força o volante. Os olhos de Anahí cerraram-se e ela, incrédula levou os dedos ao puxador interno da porta, com a intenção de abri-la.

Sem dizer nenhuma palavra a mais, acelerei o carro novamente, parando somente no estacionamento de outro motel – o mais caro que eu conhecia –.

Acasos IIOnde histórias criam vida. Descubra agora