O espetáculo matinal de Alfonso me fizera perder a hora completamente, isso porque precisei permanecer no mínimo meia hora sentada no sofá chorando como uma criança que perde a boneca preferida. E depois disso demorei mais tempo que o esperado tentando no mínimo amenizar a cara de choro que eu ficara. Amaldiçoei-o em pensamento inúmeras vezes. Como resposta do meu atraso o meu advogado havia ligado centenas de vezes obrigando-me a parar o carro para atende-lo coisa que só fazia com quem eu me atrasasse mais.
Ofegante e tremula cheguei ao tribunal, com um medo tremendo de sucumbir novamente as lágrimas. Seria no mínimo humilhante chorar na frente de toda aquela gente. Assim que cheguei o Dr. Martinez me recebeu:
– Até que enfim, Anahí! Pensei que não viria.
– Estou aqui não estou? – respondi seca, mirando os olhos escuros do senhor.
Fomos juntos para a sala de julgamento. Todos estavam ali, até mesmo o juiz que provavelmente já havia solucionado outros casos no mesmo dia. Quase que não pude reconhece-lo. Não havia ali nada que denotasse que exercia um cargo tão importante, e ele era pelo menos dez anos mais novo que o doutor Martinez. Tinha ali mais pessoas do que eu imaginei ser necessário e de nenhum deles emanava tensão, ao contrário. Eles conversavam em tom baixo, quase casualmente.
Doutor Martinez me conduziu até uma das cadeiras que estava vaga, uma placa indicava que o acusador deveria sentar-se ali. Acomodei-me sem encarar ninguém na mesa. Doutor Martinez sentou-se ao meu lado e cumprimentou a advogada de Alfonso com um aperto de mãos. Ao lado do doutor Martinez, com o canto dos olhos vi Elizabeth e na ponta da mesa estava o advogado dela que eu já conhecia do escritório. Na frente do meu advogado estava uma mulher, advogada de Poncho imaginei. Era loira e tinha um ar rude. Estremeci.
Somente quando o juiz autorizou que doutor Martinez começasse a falar que levantei os olhos e encarei Alfonso. Fazia um mês que eu não o via, mas quando o meu olhar encontrou com o dele, percebi que esse tempo parecia ainda maior. A pele antes viscosa perdera todo o brilho, estava quase quebradiça. Os olhos verdes destacavam-se pois a pele ao seu redor estava arroxeada e funda. Enormes olheiras. A barba de Alfonso sempre tivera um certo ar descuidado, mas agora cobria-lhe boa parte do rosto e estava muito espessa. O colarinho da camisa branca estava manchada e encardida e o nó da gravata torto. E definitivamente ele havia perdido algum peso.
Precisei de todo o meu autocontrole para não sair correndo dali. Para longe de Alfonso. No dia em que nosso casamento havia acabado eu achei que tinha visto a versão mais melancólica do homem, mas nada, nada se comparava aquilo. Meu estomago retorceu-se e tive medo de vomitar.
Eu estava levemente alheia a conversa ao meu redor. Doutor Martinez havia me explicado que se houvesse um acordo eu não precisaria falar nada, mas disse também que muito provavelmente não haveria um acordo, já que a acusação era grave e que se ganhássemos Alfonso iria preso. Doutor Martinez explicava passo a passo da história que eu conhecia bem, começando pelo casamento de Poncho e Elizabeth e terminando no dia que eu havia o colocado para fora da minha casa.
Depois dele foi a vez do advogado de Elizabeth e ao fim a advogada de Poncho. Que contou a mesmíssima história, mas que misteriosamente soou como se Elizabeth fosse uma espécie de amante. O que deixou o clima na mesa muito mais tenso. E assim chegara a minha vez:
Doutor Martinez acariciou meu braço incentivando-me a começar. Olhei para todos sentindo pânico. Pigarreei duas vezes e a voz pareceu não sair.
– Posso conversar com você um minuto lá fora? – ele perguntou-me baixo.
Eu apenas assenti e juntos deixamos a sala de julgamento.
– Está tudo bem? – ele perguntou.
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Acasos II
FanfictionContinuação estendida da mini Acasos. Nas mãos de um vigarista ficou esperança, Coração e sonhos destruídos. Deixados para trás por um indivíduo, Que não fez valer meus sacrifícios. Me deixando sozinha e levando consigo Minha maior virtude: Crer na...