Quarto

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Eu já estava arrependida de meu comportamento desesperado na frente de Pablo quando ele ligou – conforme prometido – a noite. Eu odiava que vissem minha fragilidade em relação a Alfonso. Eu estava a frangalhos, é verdade, mas ninguém mais precisaria conviver com isso além de mim mesma. Prometi que seria forte, custasse o que custasse. Eu não tinha a mínima intenção de chorar minhas magoas no ombro do meu ex-cunhado, mas quando falei com ele tive uma ideia ainda melhor: Eu podia utiliza-lo para atingir Alfonso. Minha vingança tinha gosto de acre para mim, mas afinal era o que me mantinha em pé. Com esse último pensamento, agarrei minha bolsa e saí de casa, decidida.

Combinamos de nos encontrar em um restaurante – ideia dele – o lugar era bem pequeno, cheio de mesinhas de madeira escura, perto demais uma das outras para meu gosto. A iluminação era baixa, talvez com o intuito de ser romântica. Que ironia! Eu estava evitando todo e qualquer tipo de romance, mas não me deixei abalar por miseras luzes, ou no caso, a falta delas.

Pablo já me esperava, bem ao fundo do restaurante. Caminhei vacilante até ele e sentei na primeira cadeira no intuito de ficarmos frente a frente. Sorri discreta.

– Olá. Está tudo bem? – Pablo perguntou avaliando com muita atenção o meu rosto sério. Como se esperasse um novo escândalo.

– Sim. Desculpe-me, por mais cedo. – Justifiquei com um aceno de mãos. – Você não merecia escutar todas aquelas coisas.

– Está tudo bem. Mas, você estava certa eu devia ter a alertado. Teria amenizado o seu sofrimento. - Eu sorri amplamente.

– Agora as coisas estão se ajeitando. Coloquei-o para fora, vou pedir o divórcio.

– E é realmente o que você quer? – Pablo bebericou a cerveja que já tinha pedido.

– É o que tem que ser feito. – Disse convicta.

— Mas é realmente o que você quer? — Questionou pela segunda vez, intrigado

– É sim. – Concordei contrariada. – Mas chega de falar de Alfonso, sim? – Segurei uma das mãos de Pablo por cima da mesa, com meu melhor sorriso estampado nos lábios.

Pablo gargalhou e balançou a cabeça contrariado. Levou ainda a caneca de cerveja nos lábios entornando todo o seu conteúdo, antes de mirar bem em meus olhos.

– Não fara isso. Não vai me usar para causar ciúmes em Alfonso. – Ele soltou gentilmente a minha mão da dele, colocando-a em cima do tampo escuro.

– Desculpe-me – Levei as mãos nos lábios reprimindo um sorriso. – Oh, céus, desculpe-me. Eu sou tão óbvia! – Para minha surpresa Pablo também começou a rir, permanecemos assim convulsionando belos momentos, até que me dei conta que afinal de contas o jantar tinha valido a pena.

Depois do jantar, como várias pessoas ali, aliás. Eu comecei a dançar entre as mesas. Porém, a música era lenta e eu era uma das únicas que estava sozinha. Não me deixei intimidar, talvez fosse a coragem recém adquirida pelas cervejas que Pablo gentilmente comprara para mim. Eu nunca bebia cerveja com Alfonso, nos jantares que fazíamos juntos geralmente era servido champanhe ou vinho, me senti ousada bebendo cerveja e principalmente porque aquela noite eu não estava na companhia de Alfonso. Eu não estava alcoolizada, mas a pequena quantidade de álcool tinha sido o suficiente para fazer com que eu dançasse sozinha, com os braços pra cima e os olhos fechados. Ondulando meu próprio corpo no ritmo da música.

– Que tal se eu te levasse para casa agora, bailarina? – Pablo aproximou-se me mim, por trás. Falando em meu ouvido.

– Péssima ideia. – Nesse momento a música fora trocada. – Oh, eu adoro essa música!

Acasos IIOnde histórias criam vida. Descubra agora