Eu nunca tinha ficado tão aliviada a ver uma pessoa em toda minha vida. Porque eu tinha absoluta certeza que precisava de uma força para sair daquele torpor que eu estava na casa de Elizabeth. De Alfonso e Elizabeth. Eu nunca imaginara que aquilo seria fácil, mas eu não pensei em nenhum momento que seria tão difícil. Eu me sentia o último dos seres, a pessoa mais perversa do mundo. Os olhos de Elizabeth e toda a fúria que eu vira ali estava tatuado em minha mente, os gritos dos meninos ecoavam como se estivesse dentro de mim. Mais uma vez eu estava me sentindo culpada por algo que Alfonso fizera.
Eu tinha chegado só até o gramado da casa quando Pablo me encontrou ali, pelas feições dele notei que ficou preocupado com minha reação. Ele disse um palavrão bastante audível e me colocou sentada no banco da frente de um carro, prendendo-me em seguida com o cinto de segurança. Depois ele sumiu no interior da casa.
Mais gritos, choro, vidro quebrando. E de repente tudo acabara. Tão fácil quanto tinha começado. Ou talvez não tivesse sido tão rápido. O relógio do som do carro indicava que os minutos passavam-se, rápidos, acelerados para mim. E eu continuava sozinha.
Quando Pablo voltou, sem falar comigo ele colocou o carro para funcionar, fazendo o atrito dos pneus com os asfalto um barulho agudíssimo. Os ombros dele subiam e desciam devido a respiração rápida, as mãos seguravam com firmeza o volante e tinha um filete de sangue escorrendo do nariz de Pablo. Mais uma vez me senti culpada.
O velocímetro indicava que passávamos os 160 km/h. Algo que deveria me deixar apavorada, mas não foi assim que me senti. Pablo parecia bastante concentrado na direção e mesmo ali com ele me sentia sozinha.
– Você sumiu. – murmurei mesmo sabendo que aquele não era o assunto que deveria ser abordado ali.
– Você me pediu para sumir, se não lembra! – a voz gélida de Pablo me fez estremecer.
Só voltamos a conversar quando chegamos na república onde Pablo morava. Ele soltou o cinto de segurança de cima de mim e puxou-me para fora do carro com impaciência.
– Não vai me levar embora? – perguntei intrigada enquanto Pablo me arrastara para dentro, jogando as chaves do carro para um rapaz de uns dezoito anos que fumava sentado relaxado no chão.
– Não posso, o carro é do Heitor – explicou ainda sem me soltar, conduzindo-me por um corredor mal iluminado comprido e fino.
– Mas, eu preciso ir para casa!
– Raios, Anahí. Não posso! O desgraçado relutou em emprestar o carro, não posso abusar, e de qualquer forma não poderia deixa-la sozinha.
– Porque está fazendo isso? – perguntei muito mais contida.
– Manuel me ligou, ele estava assustado. – ele abriu uma das portas, a penúltima com um forte pontapé. – Fique à vontade. – pronunciou soltando-me e fechando a porta atrás de nós.
Não tive certeza sobre o que exatamente era o ambiente. Parecia com um quarto mais do que qualquer outra coisa. Mas no canto esquerdo tinha uma geladeira pequena, de hotel, branca encardida. Em cima dela um copo de choppe vazio e várias latas de cerveja tombadas. Do lado da geladeira uma nova porta menor e entre aberta porque tinha uma toalha azul marinho pendurada ali, claramente aquele era um banheiro que transformava aquele quarto em uma suíte.
Do lado oposto do quarto estava a cama de casal com um dossel, mas que apenas deixava o ambiente claustrofóbico, já que o metal estava enferrujado e não possuía cortina presa ali. Apesar de ser de casal apenas uma pessoa caberia ali, pois do lado que estava encostado na parede tinha pilhas de cobertas e roupas enroladas e até mesmo um capacete e um computador portátil cheio de adesivos colados. Na parede de frente para a cama uma enorme TV de plasma, a coisa mais nova do ambiente, combinando com um vídeo-game que estava no chão com os cabos enrolados.
Interpretei o "fique à vontade" de Pablo como um convite para sentar, e fiz isso na cadeira que fazia vezes de um bidê ao lado da cama, precisei tirar de cima um copo e um carregador de celular antes de sentar. Coloquei os dois objetos em cima da cama.
– Você contou a ela? – Pablo aproximou-se de mim, sentando despreocupado na beirada da cama, ficamos frente a frente.
– Não quero falar sobre isso – pigarreei
– Não vou tirar sua razão, mas fez isso da maneira errada. Os garotos não mereciam passar por aquilo.
Eu que estava timidamente com as mãos sobre os joelhos e olhando para os próprios pés, ergui o queixo, decidida. Quando meus olhos encontraram-se com o castanho brilhante de Pablo, eu cerrei levemente as pestanas.
– Eu não ligo nenhum pouco para os sentimentos daqueles monstrinhos!
– Não se torne uma pessoa má em reação a Poncho. Aqueles meninos são os maiores lesados em toda essa situação, eles nem mesmo entendem o que está acontecendo!
Dei de ombros de forma bastante infantil. O nó em minha garganta era um aviso claro que eu deveria parar de falar para não acabar chorando novamente na presença de Pablo.
– Tarde demais. – confessei, intrigada com os olhos de Pablo fixos em mim – Já me tornei alguém péssimo. Eu armei tudo, aproximei-me dela, fingi que éramos amigas e queria que ela fosse a advogada que cuidaria da minha separação com Poncho. Mas ela estragou tudo ouvindo conversa atrás das portas.
Pablo meneou a cabeça e passou uma das mãos pelo rosto, percebi que os fios da barba dele já estavam crescidos, deixando o rosto escurecido de certa forma desleixado. Exatamente como Alfonso fazia.
– Você precisa parar com isso, Annie.
– Eu sei. – abaixei os olhos, subitamente constrangida.
Era muito mais fácil lidar com Pablo quando ele estava revoltado, era mais fácil discutir com ele do que ver a decepção estampada no rosto bonito.
O moletom preto, tão clássico, tão característico serviu-me de travesseiro onde eu derrubei todas as lágrimas que ameaçavam afogar-me quando Pablo passou os braços pela minha cintura, abraçando-me com força. Tão protetor. Passei vários minutos ali, soluçando com a cabeça em seu ombro, ou talvez tivessem sido horas eu não saberia dizer.
x.x.x.x
Eu dei uma sumidinha, mas vcs também né?
Então agora todas aparecemos e ficamos de bem!!
Desculpa pelo atraso nos posts :(
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Acasos II
FanfictionContinuação estendida da mini Acasos. Nas mãos de um vigarista ficou esperança, Coração e sonhos destruídos. Deixados para trás por um indivíduo, Que não fez valer meus sacrifícios. Me deixando sozinha e levando consigo Minha maior virtude: Crer na...