Nono

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Meu sangue pulsava descontrolado em todas as minhas veias, eu quase podia vê-lo rápido e espesso. Combinando com a minha respiração irregular, rápida e ofegante. Meus pés batiam no asfalto criando um ritmo sem sincronismo algum e meus braços estavam cruzados abaixo dos seios, com uma força desnecessária. Meus olhos focalizavam apenas uma coisa: Um colégio, as grades coloridas e a pintura amarela do prédio de dois andares denunciava claramente que tratava-se de um colégio infantil, assim como o enorme e desbotado pinocchio desenhado do lado esquerdo da estrutura.

Assim que meus olhos localizaram Alfonso, na aglomeração de pais na frente daquele local. Eu saí em disparada ao encontro dele. Não prestando atenção nem mesmo na rua, que eu atravessei sem hesitar.

Impecável como sempre ele vestia o costumeiro terno escuro que usava para trabalhar, a gravata alinhada com capricho era cinza, combinando drasticamente com meu sobretudo da mesma cor. Percebi com um leve arfar. Os olhos verdes, meio cerrados pela quantidade de vento focalizaram os meus e arregalaram-se em resposta com a minha presença.

Ignorei-o.

– Eu disse oito horas, Alfonso. Oito horas! – Esbravejei

– E eu disse que levaria os meninos antes de encontrar-me com você! – Ele deu de ombros, fingindo desinteresse.

Mas, eu sabia bem o porquê seu rosto moreno adquiria uma leve palidez, e a boca secara imediatamente. Sorri deliciada com a visão. Porque obviamente não estávamos sozinhos, os dois filhos de Poncho observavam a cena curiosos. O mais velho inclusive, me observava com o canto dos olhos e com os cenhos contraídos demonstrando claramente o seu descontentamento.

– Pai? – O menor dos meninos agarrou a calça de Poncho na altura da perna, chacoalhando até que ele olhasse para o filho. – Essa mulher que disse que o Manuel é metido – confessou ele com os olhinhos escuros dessa vez fixados em mim.

– Já sei, Igor. – Impaciente Poncho apenas passou os dedos entre o cabelo do filho, bagunçando-os mais que arrumando – Agora vão para dentro, andem!

Igor saiu correndo atrás dos alunos que andavam rumo ao prédio. Porém Manuel, permaneceu ali, com o corpinho encostado no pai. Poncho olhou o filho, intrigado.

– Vamos, garoto. Entre! – o menino negou com um aceno de cabeça.

– A mãe disse pra eu não sair de perto enquanto a cunhada do tio Pablo estivesse aqui – precisei esforçar-me para ouvir a voz baixinha do garoto.

Senti meu rosto ruborizar tanto quanto o do menino a simples menção do nome de Pablo. Mas tentei disfarçar com uma enorme risada e abaixei-me para poder olhar para o filho de Poncho mais de perto.

– Além de metido e convencido você também é bastante inconveniente, sabia? – Usei o tom de voz mais baixo que consegui para ser ouvida apenas por ele, mas Poncho também pode ouvir e rolou os olhos descontente.

– Entre agora mesmo, Manuel! – O tom de ordem foi muito mais incisivo e o menino correu, carregando a mochila azul em um dos ombros.

Alfonso encarou-me duro na tentativa clara de intimidar-me, senti uma vontade irresistível de baixar os olhos e sair correndo, como fizera o menino. Mas eu não era filha de Alfonso, e não permitiria ser acuada por ele. Por isso levantei o queixo, olhando bem fundo nos olhos esverdeados.

– Você precisa ser um pouco mais paciente, querida. – A última palavra denunciou toda a raiva dele. – O que queria comigo com tanta urgência? – o sorriso bem colocado na frase fria teve o poder imediato de derreter-me.

Acasos IIOnde histórias criam vida. Descubra agora