Sexto

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(Poncho)

Eu já estava pronto para ir embora depois que Anahí pulou fora do carro, ainda arrumando o vestido colado com um leve movimentar do quadril. Eu ri deliciado com a visão. Ela estava nervosa, como sempre. Depois de amolecer em meus braços sentindo os espasmos musculares e suada da cabeça aos pés como consequência do nosso amor. Ela apenas se lançou para fora, sem se despedir. Encantadoramente rude.

A cada encontro nosso eu tinha a mais absoluta certeza do quanto pertencíamos um ao outro. Ela não resistia a mim, mesmo magoada. E eu era fascinado naquela mulher, na sua beleza estonteante e em sua jovialidade marcante. E tudo isso tinha um sabor ainda mais especial, pois eu sabia que ela era minha e sempre seria, porque era absolutamente certo.

Antes de dar a partida, observei meio atônito aquela pessoa indo em direção a portaria do condomínio de Annie. As mãos enfiadas no bolso da blusa de moletom comprido e com o capuz tapando boa parte do rosto. Eu conhecia apenas uma pessoa assim. Quando o vulto aproximou-se o suficiente pude ter certeza de quem era, agora minha dúvida era o que diabos ele estaria fazendo ali.

– Pablo? – Perguntei enquanto saltava do carro, fechando a porta em seguida e correndo até meu irmão.

– Poncho?! O que faz aqui? – Ele tirou uma das mãos do bolso e o capuz da cabeça. Fixando-me intrigado.

– Eu é que pergunto. O que faz aqui?

– Vim ver Anahí. – Ele respondeu óbvio, como se compartilhássemos um segredo.

– Porque raios quer vê-la? – Minha entoação denunciou uma pontada de irritação.

– Oras, Alfonso!! Porque ainda está procurando-a?

Senti a pontada de irritação ganhar proporções exorbitantes. Meu irmão passara de todos os limites dessa vez. Não havia mais razão para que ele ainda estivesse na vida de Anahí, agora ela sabia de toda a verdade. E a presença dele perto dela, sempre me desagradou. Por saber que ele nutri sentimentos ridículos em relação a ela. Uma mulher casada.

– Porque sou o marido dela! – Peguei-me contestando algo obvio, senti-me um adolescente inseguro. Tudo isso por culpa da habilidade de sedução de minha esposa, ela tinha me encantado, poderia muito bem encantar a outro. Fechei os punhos com força, para conter pelo menos em parte toda a raiva que sentia.

– Creio que seu joguinho foi descoberto não? – Perguntou-me apático. – Porque não a deixa em paz?

– Vejo que está muito informado sobre minha relação com a minha esposa!

– Só tire-me uma dúvida, Alfonso. Quando diz esposa se refere a quem exatamente?

– Não seja cínico, Pablo. Não me agrada sua proximidade com ela. Não se meta em minha vida com Anahí! Estou sendo claro?

– Não tenho a mínima pretensão em ficar no meio dessa sujeirada toda. – Tranquilo ele apenas balbuciou as palavras. – Só quero saber como ela está. Alguém tem que se preocupar com a pobre moça, coisa que você não está fazendo!

– Com Anahí, me acerto eu.

– Oras Poncho, em que mundo você vive? Não pode ser prepotente ao ponto de iludir-se com a ideia que ainda estão casados! É cego o suficiente para não conseguir notar a extensão de danos que causou a ela? – Pablo perdera toda a irritante compostura do início da discussão, agora gesticulava com movimentos duros dos braços, porém nada suficientemente agressivo para intimidar-me. – Anahí está com sede de vingança! – Eu ri abertamente.

– Quer saber, irmãozinho? – Eu ri ainda mais alto – Fique aí, exatamente onde está, fale com ela, ouça-a reclamando de mim, angustiada. Pobrezinha. Talvez ela precise mesmo de um amigo. Eu realmente não gosto nada daquela vizinha que agora anda de um lado para outro com ela. – Expliquei – Acredito que seja exatamente essa a sua pretensão, não? – Hesitei até obter a confirmação com um aceno de cabeça de Pablo. – Mas, – sorri amplamente – fique sabendo, que quando ela deseja um homem, é a mim que ela procura. E não tem ideia irmão – arqueei um cenho, divertido e enfiei as mãos no bolso, imitando-o – do quanto éprazeroso ouvi-la chamar o meu nome em meio a gemidos, enquanto eu a sinto. Por dentro. – Fiz uma careta teatral como se houvesse contado algo deveras grave. – Mas, quem sabe, eu esteja apenas me iludindo e isso seja parte da vingança dela, não é? De qualquer forma, mande lembranças minhas, certo? Diga que eu a amo.

Dei as costas para Pablo entrando novamente em meu carro. Quando o vi, ele permanecia ali, na calçada, atônito. Com os pingos de chuva caindo generosos em cima dele. Com um último aceno, acelerei o carro e saí dali. Meu corpo inteiro convulsionando pela ira.

x.x.x

Oi

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