(Poncho)
Eu já estava equipado com dois brinquedos tinindo de novos no porta-malas do meu carro, para em uma tentativa astuta e desesperada de comprar o silencio de meus filhos. Quando Elizabeth acabou com a chance de eu poder sequer tentar, dizendo que buscaria eles ela mesma. Meus argumentos tinham sido inúmeros e foram ignorados inúmeras vezes, até que não me sobrou nenhuma alternativa se não aceitar o fato que ela logo saberia da visita amável de Anahí no colégio dos meninos.
Imaginando que as coisas já estavam bastante ruins para ficarem piores resolvi que veria Anahí antes de ir para casa.
Como minha entrada nunca era permitida no condomínio onde morávamos eu precisei espera-la, pacientemente do lado de fora.
Até que a vi. Encantadoramente irritada, procurando com destreza algo definitivamente perdido na bolsa imensa que ela segurava apenas com uma mão. Já que a outra estava deveras ocupada, enfiada até os cotovelos na bolsa, ela revirava o conteúdo lá de dentro de um lado para o outro e o insucesso a fazia suspirar. Os passos lentos dela enfim alcançaram a portaria, eu sabia que precisava intercepta-la nesse momento, ou não conseguiria mais, ela se trancafiaria dentro de casa e não me receberia, eu tinha certeza. Mas, a minha contemplação estava tão interessante, assim que me visse a irritação inicial se ampliaria, eu tinha certeza. Provavelmente era gritaria coisas abusivas na intenção de me ferir. E os dois sairiam machucados. Como sempre, era um ciclo vicioso.
– Olá, querida. – balbuciei criando coragem e entrando em seu campo de visão, abri meu melhor sorriso.
O que recebi em troca de tamanha simpatia forjada foi um olhar fulminante e um estalar de lábios irritadiço.
Ela estava com a habitual maquiagem carregada, uma verdadeira máscara de hostilidade de que ela estava despida durante a manhã. O olhar escurecido não fixou-se em mim por mais de míseros segundos. Logo ela os desviou e cumprimentou o porteiro. Na tentativa insensata de me ignorar.
– Temos uma conversa pendente – tentei novamente, aproximando-me com cautela daquela que era o meu amor.
– Não, não temos. – pragmática ela concluiu.
Antes que ela pudesse entrar e ficar inalcançável para mim, agarrei-a pelos ombros como sempre era necessário. Conte-la havia se tornado o meu hobby preferido.
– Você sempre teve essa mania desagradável de segurar as pessoas? – perguntou jocosa olhando as minhas mãos.
– Só é um reflexo da sua mania desagradável de fugir de mim o tempo todo.
(Anahí)
Livrei-me com um dar de ombros das mãos de Alfonso. O sorriso ainda permanecia ali em seus lábios, a capacidade que Alfonso tinha de me deixar nervosa era algo que eu nunca poderia entender. Mesmo depois de tantos anos juntos e de tantas decepções causadas por ele eu ainda sentia-me nervosa simplesmente quando o olhar de Poncho estava sobre mim. Ainda mais quando estavam daquela forma, estreitados como se quisesse observar mais do que eu mostrava externamente, o que provavelmente aconteceria de fato. Poncho me conhecia como ninguém, por isso usava esse poder todo a seu favor. Sabia o quanto eu me tornava fraca em sua presença.
– Deixe-me em paz, Alfonso. Já falei tudo o que queria durante a manhã.
– Não posso, Anahí. Simplesmente não posso! – falou determinado – Até quando vai viver amedrontada?
Eu ri sarcástica, aproximando-me de Alfonso.
– Vamos entrar – eu apontei em direção a entrada do condomínio – estou quase curiosa para saber quais serão os seus argumentos. – Caminhei a passos largos deixando Alfonso para trás, o sorriso prepotente ainda brilhando nos lábios. Mas meu coração palpitava como o de um bebê. – E a propósito, Poncho. – encarei-o olhando para trás – Não tenho medo de você.
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Acasos II
FanfictionContinuação estendida da mini Acasos. Nas mãos de um vigarista ficou esperança, Coração e sonhos destruídos. Deixados para trás por um indivíduo, Que não fez valer meus sacrifícios. Me deixando sozinha e levando consigo Minha maior virtude: Crer na...