Décimo Sétimo

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Eu estava saindo de casa pela manhã. Estupidamente cedo, em uma segunda-feira. Aliás como tinha feito todos os dias durante a semana que passou. Tudo porque se eu estava disposta a me divorciar seriamente de Alfonso eu precisaria andar com minhas próprias pernas e como também por Alfonso eu estava sem emprego eu era obrigada a levantar cedo todos os dias para conseguir um novo. A minha única experiência tinha sido desastrosa, tanto que eu preferia dizer que não tinha nenhuma.

Puxei o casaco leve mais para junto do meu corpo para livrar-me do vento frio da manhã na mesma hora que meus saltos estalaram na calçada. Quando voltei a olhar para cima não pude conter um leve arfar. Minha respiração acelerou vertiginosamente e meus punhos tremeram.

Era Elizabeth, parada na calçada olhando em minha direção. Mesmo não sendo algo delicado em se fazer em pensei em correr dali, fugir de Elizabeth. Porém com um último resquício de dignidade resolvi apenas passar ao seu lado sem olha-la.

– Anahí? – Ela chamou perfeitamente audível para que eu pudesse usar a desculpa que não tinha ouvido.

Virei-me em sua direção encontrando nossos olhares. Porém ao contrário do que eu imaginava ela não parecia irritada, chateada e nem raivosa. A única expressão que reconheci ali foi apatia.

– Tem um minuto? – voltou a questionar.

– Claro. – esganicei

Permanecemos ali, nenhuma das duas suficientemente a vontade para propor outro lugar para aquela fatídica conversa. Cruzei os braços e aguardei.

– Eu queria pedir desculpas. – falou simplesmente.

Mais uma vez a única resposta que ela obteve minha foi o silencio. Pois, definitivamente ela havia me surpreendido. Eu estava preparada para novos gritos, novos tapas, novos surtos e o único que recebo dela foi um pedido de desculpas.

– Coloquei em você uma culpa que não era sua. Sinto muito. – ela desviou os olhos de mim por um momento, encarando as copas das arvores ao longe. Perdida.

E eu conhecia tão bem aquela sensação que fui capaz de sentir certa empatia por minha rival, uma rival que me foi imposta que eu nunca escolhi. Uma mulher que havia inclusive estendido as mãos para mim quando eu precisei e que a única forma que eu retribui foi dando-lhe todo o meu rancor que nunca deveria ser destinado a ela.

As olheiras dela eram fundas, a palidez evidente no rosto de coração, até mesmo uns quilos eu imaginei que ela havia perdido e mesmo assim estava ali, descendo ao nível mais baixo possível porque tinha conseguido ser alguém melhor do que eu.

– A culpa foi minha também, no final. Eu a usei para ferir a ele. – lamentei-me.

– Por vingança. Isso eu sou capaz de entender. – balbuciou decidida, seus olhos lampejaram nos meus, havia um brilho quase doentio ali.

Eu assenti, ficando sem palavras mais uma vez.

– Eu tenho uma proposta a fazer. – engoliu em seco – Quero ajuda-la. Como sou parte envolvida não poderei ser sua advogada, mas posso arrumar um melhor ainda para você.

– Obrigada. – agradeci sem jeito, sentindo meu rosto queimar.
– Mas acima de tudo, ofereço a minha ajuda para a vingança. – falando isso ela estendeu a mão direita tentando selar um acordo.


x.x.x

Alguém acredita na Elizabeth? Ou acham melhor a Anahi seguir com seus planos sem a ajuda dela?

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