Epílogo

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(Poncho)

Você simplesmente precisa de uma pausa de tudo, isso não é pecado.


Lembrei a mim mesmo em pensamento. Era apenas um drink, com um colega de trabalho, nada mais que um drink então eu iria para casa. Para Anahí e para Jully.

Desde que Anahí e eu havíamos retomado o nosso casamento, eu me tornara um marido exemplar. Além de fiel ainda tentava ser o mais romântico dos homens, jamais esquecera nenhuma data importante, levava flores e chocolate para Annie. E durante sua gestação saia de madrugada para comprar-lhe coisas como "amora com calda de pêssego" e "fígado assado na brasa" e isso sem reclamar. E tudo isso porque amava e ainda amo minha esposa.

Mas nem mesmo isso muda o fato que meus dias estavam se transformando em um martírio, pouco a pouco e principalmente depois que a nossa pequena filha, Jully havia nascido. A pobre menina nasceu prematura, trazendo consigo dezenas e mais dezenas de problemas de saúde, uns graves e outros leves, mas a verdade é que durante os primeiros três meses de vida dela, Annie e eu tememos em perde-la. E depois que ela foi para casa, Anahí dedicava todo o seu tempo disponível para a garotinha. Tinha desistido até mesmo do seu trabalho para que pudesse cuidar de Jully.

Um gesto memorável, mas que teve o poder de desgastar o nosso casamento. Ela vivia cheia de reclamações, dizendo-me que eu era um pai ausente e quando eu dizia que trazia o sustento da casa ela me contrariava, pois isso em sua opinião era o mínimo que eu poderia fazer. Já não éramos um casal, éramos apenas os pais de Jully. Conhecendo Anahí como conhecia sabia que era uma questão de tempo para que nossa vida voltasse ao mar de rosas que sempre fora, porém até lá eu merecia pelo menos uma hora para relaxar.

Um drink, definitivamente não fara mal algum.

Escolhemos uma mesa bem no centro do bar, a música alta e as luzes piscando quase me fizeram nausear, quem sabe, eu estivesse velho demais para isso.

Quem te viu e quem te vê, Alfonso. Falei para mim mesmo divertido.

Eu só tinha bebido dois drinks e inclusive já me preparava para ir embora quando a vi. Chegando acompanhada de duas amigas. Certamente ela não passava dos vinte anos, morena, alta, magra com os olhos cor de esmeralda e a pele cor de pêssego. As três sentaram-se uma mesa longe da que eu ocupava com meu amigo e eu não desgrudei os olhos dele por um momento sequer, estava hipnotizado.

A maneira com que ela jogava o cabelo longo para trás era estonteante, podia sentir seu cheiro feminino, sensual dali de onde eu estava. Os pelos do meu corpo todo estavam eriçados. E tal reação ficou ainda pior quando seu olhar encontrou-se com o meu e ela riu discretamente apontando-me para as amigas.

E então como se estivesse vivendo um déjà vu levantei-me a passos lentos, com o olhar ainda fixo naquela mulher, recriminando-me por dentro, mas ainda sim sem hesitar.

– Se eu ganhasse um dólar para cada sorriso como este que recebi essa noite... – comecei abrindo meu melhor sorriso, ficando de frente para ela, fazendo suas amigas corarem, mas a morena simplesmente sustentou meu olhar, enigmática. Perfeita.

– Você não teria nenhum dólar. – ela riu, provocando-me.

Sentei-me ao seu lado sem esperar pelo convite.

– O que a faz pensar isso? – perguntei apoiando os cotovelos na mesa, aproximando-me ainda mais dela.

– Meu sorriso é único.

E eu não tive como discordar e ri com ela.

– Tudo bem, você me convenceu. É esperta o bastante. Me chamo Alfonso e você?

Ela ergueu ainda mais o queixo fino, lisonjeada e ainda sim sem nenhum constrangimento.

– O que te faz pensar que eu esteja convencida? Não me surpreendeu o bastante para saber o meu nome. – ela arqueou a sobrancelha negra, desafiando-me.

– Está blefando! – eu ri, e pela primeira vez ela ficou sem resposta e abaixou levemente o olhar para que eu não percebesse. – Está nervosa com a minha presença. Seus pelos estão eriçados, – coloquei a palma da mão estendida em seu braço desnudo, fazendo-a arrepiar ainda mais – sua pupila está dilatada e sua pele está corada. – levei a mão até seu rosto, acariciando a pele macia. Ela tremeu.

– Você me convenceu. – ela confessou com a voz embargada, parecendo altamente sensual.

– Não importa. – levei um dos dedos á seus lábios, fazendo-a se calar. – Não quero saber o seu nome. – murmurei levando as mãos para baixo da mesa, tirando a minha aliança sem que ela percebesse e guardando no bolso de trás da minha calça.

– E como pretende me chamar? – ela inclinou-se na minha direção, fazendo-me ter uma visão privilegiada do enorme decote.

Pecado.

Fim!


Depois de uns 75 anos enfim Acasos II chegou ao fim. Obrigada por todo mundo que leu, de verdade, eu sempre me surpreendo quando existem pessoas dispostas a ler as minhas esquisitices. Espero que não estejam muito decepcionadas com o final, mas existem pessoas que simplesmente não tem rendição e eu nunca prometi um romance saudável HAHA

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