|11| princess

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S k y l a r

Estou na minha cama, a observar o teto branco e sem graça, enquanto as lágrimas caem uma a uma pela minha face. É algo inevitável.

O vento frio que vem através da janela, embate na minha face e as lágrimas continuam a descer sem parar. Agarro na minha almofada com toda a força e aperto-a para descarregar toda a minha raiva.

A minha vida tinha tudo para dar certo. Eu tinha uma família unida, mas como eu disse, tinha. Eu não tinha medo de nada, e muito menos de ser rejeitada. Sempre tive uma melhor amiga ao meu lado, sempre tive um porto de salvação. A minha família amava-me mutuamente, e estávamos sempre unidos. Íamos ao cinema ver filmes estúpidos só para acabarmos a rir bastante. Íamos à praia no verão carregados de malas com comida, e divertiamo-nos bastante. Boas lembranças.

Não sei o que aconteceu. Passaram anos e anos. De repente, o meu pai abandonou-nos. Deixou-me a mim, à minha irmã e à minha mãe desemparadas no sofá, sem saber o que fazer ou como reagir. A minha mãe agarrou-se ao álcool e o meu pai? Não sei.

O problema é que eu perdoo tudo e faço-me de forte, e eu não deveria fazê-lo. Eu deveria chorar na frente das pessoas, para elas verem o quanto me magoam. Devia gritar nas suas caras para abrirem os olhos e verem o quanto me fazem mal, o quanto me matam aos poucos. Eu deveria gritar para toda a gente a dor que estou a sentir, e de que modo ela está a consumir-me. Deveria gritar nas ruas o quanto o vazio me consome a cada dia que passa. Eu devia, mas não o faço.

Eu simplesmente finjo que as palavras não me magoam, eu finjo que sou forte. É sorriso para ali, sorriso para aqui. É um estou bem para o vizinho, para a amiga, para toda a gente, mas ninguém sabe. Ninguém sabe o que se passa por detrás desta máscara onde eu escondo tudo. Eu nunca choro perto das pessoas porque sei que, se o fizer, elas vão magoar-me mais e vão chamar-me de fraca.

E talvez eu até seja uma fraca. Eu não sei lidar com tudo isto, eu não me sinto a mim própria. Eu sou eu, mas ao mesmo tempo, não sou. Por fora, tão sorridente e carismática, por dentro tão destruída e sombria. Mas eu aprendi a ser assim. Eu tenho de fingir que sou fria, para não me magoarem. Mas eu não sou nada disso. Eu tenho um coração, mas sinceramente, não sei onde é que ele está agora. Talvez esteja no fundo do poço.

Odeio estes dias nostálgicos, em que eu começo a sentir saudade de tudo, começo a pensar em momentos bons que eu nunca mais terei,e isso fica corroendo-me por dentro, até escorrer a primeira lágrima. A primeira gota de saudade.

Todos se afastam de mim. A minha mãe, o meu pai e até a minha melhor amiga. Não sei que problema é que eu tenho, para todos se afastarem. Foram todos eles que me fizeram ser assim, tão fria e com ódio da vida. Foram eles que sempre me deitaram para baixo, para o fundo do poço, quando eu estava a chegar à luz. Foram eles que acabaram com as últimas esperanças que eu tinha dentro de mim. Quando estava quase a chegar à luz, eles levaram-me de volta para o fundo do poço.

E é por isso que eu tenho uma parede em volta do meu coração. Ninguém pode destruí-la. Sou uma pedra fria, incapaz de amar alguém. Incapaz de voltar para a luz novamente. A minha vida acabou no momento em que me deitaram para as mãos destes demónios que circulam à minha volta.

- Sky, tens visitas! - Allison interrompe os meus pensamentos.

Escondo a minha face na almofada e enrolo-me entre os lençóis desta pequena cama. Allison não pode saber que eu estou a chorar, aliás, ela nem pode suspeitar de uma coisa dessas. A porta abre-se e consigo ouvir alguém a caminhar na minha direção. Sinto os seus passos cada vez mais próximos, e tento-me esconder mais na pequena almofada. A mão daquela pessoa vai de encontro às minhas costas e uma corrente elétrica alastra-se por cada membro do meu corpo. Esta mão é demasiadamente grande para ser de Allison. Isso quer dizer que...

Duas Metades {HS}Onde histórias criam vida. Descubra agora