Duas Metades {HS}

|16| pain

Skylar

O ar daquele local tinha-se tornado denso de um momento para a outro, e eu sentia-me encobrida por um nevoeiro imenso, estando impossibilitada de enxergar as pessoas à minha volta e a algazarra ensurdecedora que se destacava pelos corredores; naquele momento, a minha vida parecia ter dado uma volta enorme, onde eu fiquei de cabeça para baixo, e com os cabelos a taparem a minha visão. Não conseguia visionar nada à minha volta, nem tampouco, ouvir.

- Percebeste o que eu te disse, Skylar? - A Kelly interrompeu novamente o meu mar de pensamentos.

Os meus olhos direcionaram-se para a rapariga de cabelos escuros, que balançava as suas pernas de um lado para o outro, à espera de uma resposta, aparentemente. Não sabia o que dizer à tal rapariga, e nem tampouco sabia que palavras adequadas usar para formar uma frase com algum sentido. Os meus lábios entreabriam-se várias vezes, mas nada saía deles, e eu engoli em seco várias vezes; a minha língua enrolava-se nas minhas palavras e as mesmas, prendiam-na com tanta força, que eu não conseguia tampouco formar uma pequena frase.

- Tu estás a insinuar que a Bella fez tudo i-isto? - Gaguejei e engoli em seco.

Observei novamente a fisionomia daquela morena, e podia não parecer, mas eu estava com medo da sua resposta. Só queria que tudo isto passasse de um mal entendido da minha cabeça, ou até de boatos mal contados. A Bella não poderia ter feito tal coisa, eu sei que ela não seria capaz; Aquela rapariga nunca foi de fazer uma mediocridade sequer, excepto às suas inimigas e às raparigas que se metiam com ela, ou a tramavam. Ela sempre foi vingativa com algumas raparigas, mas para comigo, nunca foi e sei que nunca o seria. Pelo menos, quero acreditar nisso.

Quando a cabeça daquela pequena rapariga, assentiu morosamente, eu arregalei os olhos e levei as minhas mãos até ao meu semblante, não acreditando no que se estava a passar neste momento. Direcionei o meu olhar até aos olhos daquele ser, e vi que naquele azulado imenso, encontrava-se uma calma inigualável e uma sinceridade tremenda e arrebatadora; e isso assustou-me mais que qualquer coisa no mundo. Isso - de uma certa forma - fez o meu coração apertar-se dolorosamente, e uma dor aguda atingir a zona do meu peito rapidamente.

- Foi a Bella que me contou que tinhas sido tu a fazer aquilo às fotos do Harry. - Ela baixou o seu olhar para o chão de cimento. - E eu não acreditei numa única palavra dela.

- Isto é um mal entendido. - Comecei a andar de um lado para o outro. - Ela não seria capaz.

- Então porque razão ela iria contar-me isso? - Ela retorquiu. - Porque razão é que ela iria espalhar esse acontecimento por toda a escola?

O meu corpo parou naquele momento, e as minhas mãos encaminharam-se para o meu cabelo, remexendo nele vezes sem conta; eu ainda não tinha processado toda a informação que tinha recebido em meras horas, e elas já tinham acabado comigo. Eu ainda não acreditara que Bella - a minha melhor amiga - foi capaz de fazer uma coisa malvada como essa, e ainda ter o prazer de espalhar esta mentira por toda a escola.

- Não, não pode ser. - Eu encostei-me aos cacifos azulados, e um nó enorme ganhou forma na minha pequena garganta.

- Eu vi-a mexer no cacifo do Harry. - Confessou Kelly e eu abri bastante os olhos. - Lamento, Skylar, mas a tua opinião sobre a Bella, estava completamente errada.

Naquele instante, senti um camião enorme apoderar-se das minhas costas fracas e magras, e uma remessa de pedras frias e grandes, acumularem-se uma a uma na minha garganta. Os meus olhos começaram a arder, e sabia que eu estava com as lágrimas penduradas por um fio, pronto para se soltar; as minhas costas doíam tanto que fui obrigada a deslizar pelo cacifo morosamente, na tentativa de tirar aquele incômodo do meu corpo. O meu pequeno corpo, embateu no chão duro e gélido, e uma dor tremenda atingiu toda a minha extensão de costas, fazendo a primeira lágrima descer pela minha face tão rapidamente como a diluição do açúcar no leite; tão doloroso como a acumulação de memórias de um passado marcante e de uma certa forma, feliz.