|40| childhood

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Anos atrás

P.O.V Harry.

Não sei o que me estava a acontecer naquele momento; não tinha noção, a minha imaturidade levou-me ao fim do poço. Olhei para o homem que estava à minha frente. Era barbudo, usava uns óculos achatados no rosto. Com as suas  mãos, agarrava fortemente a papelada, tantos papéis que se os jogasse agora para o chão, seria impossível metê-los por ordem novamente. Sorria para mim e voltava a olhar para aquele amontoado; e depois fazia o mesmo. E voltava a fazê-lo. Era um ciclo vicioso.

- Sabes Harry, sempre pensei em ti como um bom rapaz para o negócio que quero fazer. - Disse-o naquele momento, a um rapaz de apenas oito anos.

Os homens que estavam ao seu lado - eram dois - olhavam-me maliciosamente, como se me quisessem fazer algum mal; e eles queriam. O pior de ver o mal de longe, é vê-lo de perto; tão perto que se poderia cheirar o inferno em apenas poucos segundos. Olhava simultaneamente para cada um deles. Não sabia determinar qual era o mais assustador.

- Depois da tua mãe morrer, desculpa-me a palavra, mas por pura fraqueza, a única opção que tens é juntares-te a nós. - Disse-o sílaba por sílaba, palavra por palavra.

Lembrava-me naquele momento da minha mãe; a mulher de cabelos pretos longos e uns olhos verdejantes, iguais aos meus. Era tão linda. O seu sorriso era capaz de contagiar as pessoas por longos minutos. As pessoas da aldeia adoravam-na; todos os dias vinham a minha casa falar com ela, pedir-lhe todos os tipos de conselhos. Ela era uma boa ouvinte, uma grande confidente. No dia em que ela morreu, a aldeia caiu em uma tristeza irreversível. As pessoas já não sorriam, já não se sentiam bem consigo mesmas. Ela era o sol da aldeia; e o sol morreu.

- Não me vou juntar a si. - Disse-o, com a educação que a minha mãe me deu. - Pertenço aqui, não me pode obrigar a nada.

- Não te perguntei se querias ou não. - Disse, a rir falsamente. - Agarrem nele.

E a morte chegava vestida de preto; olhava para mim com os seus grandes olhos obscuros e agarrava-me fortemente, sem ideias de me largar algum dia. Estava acorrentada a ela: era a minha inimiga, mas às vezes a minha melhor amiga. Os homens agarraram-me, e cheiravam a morte. Tresandavam ao inferno. Comecei a debater-me nos seus braços fortes e ágeis, mas era impossível. A força deles era muita comparada com a minha. Já tinha perdido antes de começar alguma coisa. E perder era um grande sinal de fraqueza.

Tiraram-me da minha própria casa e meteram-me na parte de trás da carrinha deles; uma carrinha preta, que por dentro, parecia obscura. Atiraram-me violentamente para lá e fecharam as portas. Estava sozinho no mundo; e ninguém me podia salvar do que já estava predestinado. E a carrinha começou em andamento; conduziam rapidamente, e algumas vozes confusas começaram a ouvir-se. Algumas sussurravam, outras sibilavam. Era difícil entendê-las.

- Isto é tudo culpa da mãe dele. Se não nos falhasse, nós não teríamos de utilizar o seu querido filho para o nosso êxito. - Disse aquele homem, o homem que me obrigou a ir com eles.

De repente, as luzes de trás da carrinha - onde eu estava - foram acesas. Abri bastante os olhos quando vi o que se transportava ali dentro. Não eram corpos nem nada do género que outrora eu tinha visto em filmes; eram armas. Tantas, que todas tinham a possibilidade de serem diferentes. E eu no meio delas, sentia-me pequeno, minúsculo. O mundo nunca pareceu tão tenebroso como naquele momento. E o facto de saber que estava entre peças aliadas à morte, arrepiava-me. Arrepiava-me tanto que uma lágrima descaiu-se pelo meu rosto.

- Ele é apenas uma criança inocente. Queres tirar-lhe todos os prazeres da vida? - Disse uma voz suave.

- Quero usá-lo para o meu próprio poder, sabes que o nome dele é muito poderoso neste mundo, Chris. - Disse-o arrogantemente. - Ele não é uma criança normal.

Ouvi-o dizer com toda a naturalidade, como se eu soubesse de toda aquela informação, de todos os segredos que esta sociedade distorcida encobre. Um som estridente e o som da carrinha desligar-se, fez o meu corpo ficar todo direito e posicionado para o pior. Um dos homens abriu a porta e retirou-me lá de dentro brutalmente. Pensava que a primeira coisa que iria observar era parecida ao fim do poço ou a um cenário obscuro, mas a única coisa que vi foram crianças da minha idade a brincar num simples parque. O sítio onde eu - neste momento - deveria estar.

- Vamos sentar-nos e observar este cenário. - Disse e sentámo-nos num banco de madeira. - O que achas disto, Harry?

Olhei para aquele cenário e a primeira coisa em que pensei foi na insanidade mental deste homem. Faz-me sair da minha casa, mete-me numa carrinha e leva-me a um parque. Suspirei fundo e naquele momento, quis gritar por ajuda, rezar a deus para que tudo ficasse bem. Mas não podia, visto que no fundo soubera que estes homens podiam prejudicar a vida dessa pessoa. Só as aparências tenebrosas deles já revelavam a pessoa que eram por dentro. Pessoas más, horríveis.

- O que pretendem? - Disse diretamente. O homem riu-se.

- Repara bem na paisagem, querido. - Disse e eu revirei os olhos. - Será a última memória da tua infância.

Então observei bem; vi como as crianças se moviam de um lado para o outro, como pisavam a relva e como o sol embatia nas suas faces, deixando uma impressão calorosa nelas; era um cenário completamente alegre. Parecia o vislumbre do céu. Mal sabia eu que aquele seria mesmo o meu último vislumbre da felicidade. Não tinha a menor ideia que esse sentimento estava escondido nas pequenas coisas. Afinal, a felicidade era isso: era o sol, era a risada das crianças, era a lama deixada nos pés delas; era o escorrega de onde elas pulavam, era simplesmente a vida que elas tinham. Era a felicidade. E naquele momento, eu não me esforcei para achá-la. Ela estava muito bem escondida.

- Agora observa novamente. - Disse-o, muito seriamente. - Vês aquela rapariga perto do baloiço? É a minha filha.

Foi a primeira vez que a vi. Os seus cabelos aloirados, confundiam-se com a lama que perdurava neles; era talvez a criança que mais se destacava de todas. A sua pele esbranquiçada e avermelhada fazia-me ficar mais atento. Tanto, que me desencostei do banco e fixei o meu olhar na mesma. Vi pormenorizadamente como os seus olhos eram verdejantes, com um místico de castanho espalhado neles. A alegria dela, confundia-me bastante. Era contagiante. E nesse momento, eu sorri. Talvez por ver tanta felicidade numa só pessoa. Ou talvez por sentir o meu coração bater freneticamente de uma vez só.

- Não a aprecies muito. O futuro dela está tão corrompido como o teu. - Disse o homem ao meu lado. - E a tua missão vai ser destruí-la.

Então, os nossos olhares cruzaram-se. Pela primeira vez, em toda a vida. O olhar dela sorriu, e eu pensei para mim mesmo. Como é possível haver tanta beleza numa só pessoa? Ela era linda, sem ao menos tentar ser. Era única, sem ao menos sê-lo. Era diferente, sem ao menos saber o significado disso. E era isso tudo que a tornava nisso. Então, ela acenou-me. E eu acenei de volta. Começou a rir. Eu também. Era um ciclo vicioso. Naquele momento, erámos duas crianças felizes. Mas eu ia destruí-la, fui treinado para isso. Mas apesar de a destruir, eu também a ia salvar.

E a única salvação era destruir-me a mim mesmo.

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Hello babys. Aposto que vocês ficaram super confusas neste capítulo, mas trata-se apenas de uma parte da infância de Harry.

Quem acham que era a rapariga do parque? E porquê? Quero comentários please.

Adorei este capitulooooo! Beijinhos e até ao próximo

Duas Metades {HS}Onde histórias criam vida. Descubra agora