P.s : preparem-se, este capítulo vai partir-vos o coração. Boa leitura e preparem os lenços!Olhava atentamente para ela; à alguns minutos que o estava a fazer. Ao fazê-lo, assimilava a rapariga de hoje à criança que era no passado. Haviam tantas diferenças naquela pessoa, como se o passado tivesse colidido com o seu presente e deixado danos incorrigíveis no seu futuro. E eu sabia, que apesar da merda pela qual ela já tinha passado, se eu lhe fosse contar a minha vida de merda, ela não aguentaria a dor. E não digo que ela seja fraca: antes pelo contrário. Mas as pessoas fortes, quando caem, despedaçam-se; e eu sei que a Skylar passou demasiado tempo da sua vida a tentar ser forte, esquecendo-se de ver o quanto isso a prejudicou.
- Harry, eu não aguento este silêncio. Estou a ficar doente. - Disse-mo, fazendo uma pausa. A sua voz falhou.
- Não queiras saber mais do que isto. - Disse-lho insensivelmente. Ela tinha de se dar conta.
- Não vamos voltar ao mesmo. Ou contas-me ou podes muito bem ir embora. - Disse-mo.
Se eu escolhesse entre contar-lhe tudo e destruí-la por dentro e não lhe contar nada e perdê-la para sempre, era óbvio que eu escolheria perdê-la. Mas as coisas não eram fáceis. Sempre fui uma pessoa egoísta, fui ensinado a sê-lo; nunca, em nenhuma circunstância, me importei com os sentimentos ou com as vontades dos outros. Mas agora, eu não queria ser egoísta. Não com ela. Se lhe contasse, estaria a ser egoísta com ela. Mas se não lhe contasse nada, estaria a ser egoísta comigo mesmo. E a linha ténue que separava estas duas opções, era a maior forma de manifestação do egoísmo.
- A minha mãe andava envolvida em coisas ilegais. - Decidi dizer. - Quando ela morreu, graças a essas coisas, raptaram-me e fizeram-me pagar por tudo o que ela fez.
Observei-a; parecia petrificada, e isso fez-me arrepender imediatamente do que disse. Mas depois, endireitou-se na cama e posicionou-se mais para a frente, interessada e à espera de mais informações. A minha boca neste momento era uma arma e ela era o alvo. O problema é que a Skylar sabia disso, mas estava novamente a fingir que conseguia levar com tudo e ficar erguida e com um sorriso nos lábios. E porra, eu estava na merda. E ia metê-la no mesmo lugar.
- Em que tipo de coisas? - Perguntou, com os olhinhos cheios de curiosidade.
A curiosidade matou o gato.
- Tráfico de crianças, drogas ilícitas, armas, negócios desse género. - Disse-o resumidamente. - Ela um dia ajudou uma criança, eles descobriram e para não a matarem por isso, ela matou-se primeiro.
- E porque dizes que as culpas vieram para ti? Quem são eles, Harry? - Perguntou-me inocentemente. Fodasse.
- São os maus da história, Skylar. Não te queiras envolver mais. - Disse-lho curtamente.
- Só preciso de saber o que eles te fizeram, Harry. Por favor. - Quase implorou.
- Coisas más. - Disse-o, mas era muito mais que isso. - Modificaram-me Skylar, fizeram-me fazer coisas horríveis, nojentas. E se eu não as fizesse, quem pagava por isso eras... - Interrompi-me a mim mesmo e engoli em seco.
Eu ia revelar tudo numa só frase. Mas era a verdade: eu fiz coisas horríveis, que se esta sociedade distorcida soubesse, olhar-me-ia de uma forma bastante diferente. Mas tudo o que eu fiz, foi para salvá-la de todo o inferno. Vi armas, usei-as, vi mortes à minha frente e executei-as. Tudo para um único objetivo: salvá-la. Se não tivesse feito coisas más para alcançar um objetivo bom, não as teria feito. Afinal, os fins justificam os meios. Sacrifiquei-me para salvar alguém e ao sacrificar-me, fui-me destruíndo: tornei-me em alguém sem princípios, deixei que eles me fizessem coisas horríveis. O amor faz-nos fazer coisas loucas. Mas também nos cura no final.
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Duas Metades {HS}
Fanfic" Tu és diferente. O diferente acaba por assustar as pessoas. " Skylar era apenas uma rapariga de sete anos, quando recebeu na época natalícia, um colar assustador. Ao longo do seu crescimento, um mistério inevitável circulou sempre à volta daquele...