|28| perverted

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Haviam duas coisas no mundo que eu não entendia. 1) porque é que as pessoas bêbadas dizem as verdades e 2) porque é que os humanos não são capazes de as pronunciar quando estão sóbrios? Era provavelmente algo fácil de entender por um entendedor, mas por mim, não. Seria tão difícil admitir os erros que cometem, falar com alguém que nunca tiveram coragem e admitirem os seus sentimentos por alguém quando não circula álcool pelas suas veias? Repensava mais de cinco vezes nisto enquanto o Harry acabava de sair da casa-de-banho.

As suas roupas vinham coladas ao seu corpo; os seus caracóis achocolatados encontravam-se desgrenhados e os seus olhos enigmáticos. Observou-me. Senti um calafrio. Tinha-me oferecido para ajudá-lo, sem ele me ter pedido nada em troca. Neste momento, estava no seu quarto de hotel. Não havia nenhum barulho exterior a não ser dos carros que passavam de vez em quando. Mas no interior, era incapaz de haver algum silêncio. As nossas respirações intercalavam-se de maneira inconstante e o meu coração quase rebentou quando ele se sentou ao meu lado, na cama. Engoli em seco.

'' Precisas de alguma coisa? '' Perguntei amigavelmente.

Olhou-me de relance. Os seus pensamentos não pareciam ser os melhores; de repente, senti Harry aproximar-se de mim como uma fera fora de uma jaula. Recuei para o outro lado da cama, e quando arranjei forma de me levantar, senti uma força projetar-me para baixo. O seu corpo estava por cima do meu e ele prendia os meus pulsos com as suas mãos. Sentia o meu coração explodir de forma inusitada. O ar escapou-me de todo o corpo. Estaria eu viva? Encontrei-o a lamber os lábios quando ao mesmo tempo, sentia a sua respiração batucar no meu rosto: uma respiração tirana, forte e inconsciente. Sentia-me a ser levada por ela.

" Preciso de ti, Skylar. " Disse, baixinho. " Mais do que qualquer coisa neste mundo. "

As suas palavras enfeitiçaram-me. Dispararam dentro de mim algo um pouco diferente. Não era amor. Era um tipo de nervosismo que eu não tinha presenciado antes. Senti as suas mãos suaves e ágeis apoderarem-se da minha face inevitavelmente. Fui obrigada a ver os seus olhos cristalinos. Havia um pouco de luxúria estampada neles, apesarem de estarem neutros, sem expressão. A sua respiração parecia estar mais próxima a cada segundo que passava. Quando a sua testa se juntou à minha e os nossos lábios quase se tocaram, é que eu tive toda a certeza do mundo que isto não poderia acontecer; ele estava bebâdo e não sabia o poder que as suas ações teriam na sua vida.

" Harry, não... " Tentei empurrá-lo com as minhas mãos, mas não obtive resultados.

Parecia enfeitiçado com o seu próprio feitiço. O meu coração estava a matar-me por dentro.

" Harry! " Gritei, a tentar acordá-lo do seu transe.

Os seus olhos fixaram-se em mim.

" O que foi? " Perguntou, como se não estivesse a fazer nada demais. " É incorreto querer beijar-te? "

Pronunciou aquilo como se não fosse nada demais: como se fosse uma simples frase que as pessoas costumam ouvir nos seus dias. Mas mesmo assim, conseguiu deixar o meu coração inquieto. Ele parecia insano. E talvez até o fosse.

" Sim, é. Somos amigos. Nada mais que isso. '' Retorqui, ao vê-lo com os seus olhos a olharem-me de cima a baixo.

Sorriu de forma maliciosa. Os seus lábios naquele momento eram como algo insano. Encaminhou-se para mais perto de mim e a sua boca parou perto do meu ouvido. Arrepiei-me ao ouvir o tom da sua voz colidir com ele.

Duas Metades {HS}Onde histórias criam vida. Descubra agora