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Narrador
Anos atrás

As estrelas brilhavam intensamente naquele dia. O rapaz de olhos mais verdejantes que o próprio verde, admirava inevitavelmente aquele imenso céu. E repensava na sua teoria sobre aquelas estrelas. Aos poucos apercebeu-se que algumas brilhavam mais que outras. Franziu o sobrolho, mas sorriu. Um sorriso espontâneo. Comparou as estrelas às pessoas.

Algumas pessoas mostram-se mais que outras, mostram logo o outro lado delas, o lado obscuro. Assim como as mais brilhantes mostram. Não quer dizer que não tenham o mesmo brilho: quer dizer que não demonstram tanto como outras. É o que se passa com as menos brilhantes, as pequenas que quase não se vêem. No fundo, têm um brilho tão intenso como as outras, só que não querem mostrar isso para ninguém.

Foi na escola que aprendeu aquilo, disse para si mesmo. Encontrava-se empoleirado no parapeito da janela, com certo sono a apoderar-se dele. Os olhos por vezes fechavam-se. E foi naquele preciso momento em que tudo na vida da criança frágil mudou tragicamente.

- Cabra, sua cabra! - Disse uma voz grave. - Tu não cumpriste a tua promessa! E vais pagar por isso!

Foi talvez a única coisa que - mais ou menos - o rapaz conseguiu ouvir naqueles murmúrios todos. Mas deixou-se estar no mesmo lugar e não deu importância aquilo. Porque primeiro não se ouviu muito bem e ele estava ensonado. Aquele foi o seu primeiro erro. O primeiro grande erro ou a grande sorte, porque se por acaso ele estivesse ali naquele momento, hoje já não estaria vivo.

Mais ou menos dez minutos depois, o rapaz desceu do parapeito muito lentamente: lembrou-se que a única forma para se chegar à outra divisão da casa, era passar pela piscina. Devagarinho, a passo lento e com olhos verdejantes atentos a tudo ao seu redor, desceu a escadaria.

Estava tudo muito silencioso: achou estranho, porque a sua mãe não era de facto muito silenciosa. Ele lembrava-se que a mulher robusta adorava cantar a todo o tempo. Às vezes irritava um pouco, porque ela era a única coisa que quebrava o silêncio. Ou então o seu pai, que a criança não sabia naquela altura e que andava nas drogas, naquele mundo a que todos têm acesso se quiserem. Às vezes, o homem vinha a casa depois de um dia cansativo e sentava-se no sofá a ver jogos de futebol.

Foi então que o rapaz avistou a piscina: a piscina que ele tanto adorava. Porém, a vista que ele teve deixou-o paralisado. Sem força nas pernas. Com o coração nas mãos. A sua mãe flutuava no meio de todo o sangue que a piscina possuía. A sua cor natural azul tinha desaparecido. Foi a primeira vez que o rapaz chorou. Lágrimas cheias de dor.

O rapaz atirou-se para dentro da piscina, mesmo que não soubesse nadar. Agarrou-se à beira dela e pegou na mãe, mesmo sem forças. Tentou salvá-la, mas já era muito tarde. E o tarde demais é um eufemismo, o rapaz sabia disso.

- Mãe, mãe! - Gritou, transbordando por dentro. - Mãe!

Então o rapaz já coberto com o sangue da mãe, saiu da piscina. E correu para dentro de casa, à procura do telemóvel, de algo que fosse capaz de ajudar a mãe. Tinha o desejo de ligar para o seu pai, para ele saber do ocorrido. O rapaz só tinha oito anos. Mas já se tinha mais ou menos apercebido do acontecimento. Talvez não muito, mas tinha percepção de tudo.

Quando chegou à cozinha com as lágrimas a confundirem-lhe a visão, viu que um papel branco estava em cima da mesa. O seu nome estava lá escrito. Limpou as lágrimas à pressa e deu-se ao trabalho de ler aquele papel apressadamente.

Querido Harry,

Se estás a ler esta carta é porque já não estou aqui. Talvez isto não seja a melhor forma de dizer as coisas, mas tive de escrever tudo à pressa. Quero que saibas de uma coisa bastante importante, muito importante para mim e para ti.

Dentro do envelope está um colar. Não um colar normal, um colar que tu vais ter de usar até ao resto da tua vida. É a metade de outro, a metade que terás de encontrar. Essa será a tua missão. E não, não estou a brincar. Desta vez não, meu querido Harry.

A pessoa que tem a outra metade está em Los Angeles. Por volta dos dezasseis ou dezassete anos terás de te mudar para lá e procurar a pessoa que o possui. Vais ver que consegues. Está atento a tudo, pois essa rapariga vai andar com ele na maior parte do tempo escondido.

Já estiveste uma vez com a rapariga que o tem. Tinhas uns quatro anos e ela também. Talvez não te lembres muito bem disso. E para ser sincera, nem eu me lembro. Deves estar a perguntar-te porque é que isso é importante, um simples colar.

Talvez porque não seja simples. E a rapariga que o tem sabe muito mais do que tu pensas. As vossas vidas estão interligadas. Logo vais perceber um dia, Harry. Talvez a detestes pelo que aconteceu ou a ames pelo facto de a detestares tanto. Porque o ódio é o que está mais perto do amor. Nunca te esqueças disso, amor.

Desculpa-me não estar presente como deveria estar. Quero que saibas que te amo muito. Sabes as estrelas que observas à noite? Eu serei a mais brilhante daquele céu e vou seguir-te para todos os lados. Nunca estarás sozinho.

Beijos,
da tua querida mãe.

O rapaz acabou de ler tal coisa e leu pela segunda vez. As lágrimas caíam intensamente do seu rosto. O seu coração estava rachado, não havia solução para juntar todas as suas peças novamente. Aquela cor característica dos seus olhos nunca mais seria a mesma. E foi naquele momento, que o rapaz disse uma coisa para si mesmo e para a mãe.

Jurou vingar-se de todos que foram cúmplices da morte da sua mãe. Mesmo que isso implicasse a rapariga do colar.

________

Uuuuups, acho que vocês descobriram muito neste capítulo mas também já estava na hora.

Então o que acharam com isto, isto tudo do Harry e da rapariga do colar?

Acham que ele é quem aparenta ser, que é no fundo boa pessoa?

E o que esconde Skylar, do que Skylar sabe que ainda não referiu? Será que sabe realmente de alguma coisa?

Kisses. Tentem descobrir!

Duas Metades {HS}Onde histórias criam vida. Descubra agora