Capítulo 24 - "Eu apenas não posso fazer isto."

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Será que falo com ele sobre o que aconteceu? Talvez não... Talvez ele não queira repetir o que se passou. Sinceramente nem entendi ainda o que aconteceu e já se passaram horas desde que sucedeu.

- Gemma estás a fazer o quê aí dentro?! – Gritei para a porta da casa-de-banho.

- Nada que te interesse Harry, baza! – Ela gritou de volta já irritada com a quantidade de vezes que tivera de me responder.

- Tens a noção de que também preciso de ir?

- Não quero saber, eu cheguei primeiro.

- Mãe a Gemma não sai da casa-de-banho! – Gritei aproximando-me das escadas e ouvi um suspiro de desespero da mãe que estava já na cozinha a preparar pequeno-almoço.

- Pronto vê lá! – Gemma disse quando finalmente saiu do compartimento, dando-me espaço para entrar finalmente.

- Graças a Deus! – Exclamei dando-lhe um encontrão apenas para a enfurecer mais.

Entrei já entre risos e pude finalmente tomar um banho que me refrescaria as ideias quanto ao que fazer em relação a Neil e ao... Uhm... Aquilo que aconteceu.

Entrei e liguei a água que estava bem quente. Tentei despachar-me para compensar o tempo que tinha já perdido à espera de Gemma mas subitamente e sem qualquer aviso prévio, a água ficou absolutamente gelada.

- Ah! – Gritei.

De alguma forma o chão tornara-se mais escorregadio e acabei por me desequilibrar. Agarrei-me à cortina que cobria a banheira mas esta não aguentou o meu peso e desprendeu-se das molas que a seguravam, deixando-me cair. O meu torço embateu com força contra a beira da banheira e acabei por cair para fora da mesma, ficando completamente enrolado na cortina.

Alguns protestos e grunhidos de dor iam saindo da minha boca enquanto tentava perceber como me levantar sem causar mais estragos. Foi então que comecei a ouvir risos espalhafatosos.

- Oh meu Deus! – Gemma exclamou ainda a rir tanto quanto possível. – A tua figura! Ai que otário!

- Gemma foste tu sua atrasada! – Exclamei percebendo que ela tinha aberto uma torneira, o que fez a temperatura da água baixar drasticamente.

- Eu pensei que apenas te desse um ataque de hipotermia, mas isto é muito melhor!

- Sai! – Ordenei sentindo as minhas bochechas ferver e ela continuou a rir e acabou por fechar a porta finalmente.

Suspirei e acabei por lá me levantar e desligar a água, repondo a cortina no lugar onde realmente pertencia. Sequei o cabelo apenas com a atoalha, evitando que este continuasse a pingar para o chão de madeira. Voltei para o quarto e vesti-me o mais depressa possível para ainda conseguir apanhar o autocarro para a escola em vez de ter de ir a pé.

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Esperei que Neil aparecesse mas ele não vinha. Pensei que talvez estivesse atrasado mas foi ao chegar à escola que o vi ao fundo do átrio a conversar com a Naomi e o Caleb. Inspirei fundo e aproximei-me deles, assim que cheguei sorri a todos, que me cumprimentaram igualmente.

- Bom dia. – Neil murmurou de olhar baixo e continuou a conversa que estava a ter com eles.

- Está tudo bem? – Perguntei baixo para que apenas ele ouvisse mas ele apenas ignorou a minha pergunta.

Estranhei e esperei que ele reconsiderasse as suas atitudes e parasse de fingir que eu não ali estava, mas ele não o fez.

- Bem, não estou aqui a fazer nada. – Disse, retirando-me de seguida e esperei que Neil me seguisse ou pelo menos se dignasse a dizer alguma coisa, mas nada.

Estava absolutamente furioso. O que raio se passa com ele? Porque é que está tão estranho logo de manhã? Porque é que age como se eu não fosse minimamente relevante? Sinceramente começo a não o compreender.

- Hey Harry, tudo bem? – Ed falou intercetando o meu caminho e eu descontraí os meus punhos finalmente.

- Sei lá, e contigo?

- O que aconteceu? Queres falar?

Apenas encolhi os ombros perante as suas perguntas, visto que não queria realmente contar-lhe o que se andava a passar ultimamente com Neil e todas as dúvidas que andavam a passear na minha cabeça.

- Sabes onde me encontrar. Se precisares não hesites. – Ed sorriu e afastou-se depois de dar um murro leve no meu ombro.

Suspirei quando me vi sozinho novamente e continuei o meu caminho para a sala onde voltaria a ver Neil que não poderia continuar a evitar-me durante o resto do dia.

Entrámos e pouco depois ele apareceu, sentou-se ao meu lado e começou a tirar tudo da sua mochila em silêncio. Passaram-se segundos, segundos que pareciam minutos, minutos que pareciam horas, horas que pareciam dias, e dias que pareciam uma eternidade.

- O que se passa? – Sussurrei quebrando o silêncio desagradável.

- Referes-te a alguma coisa em especial? – Ele perguntou sempre de olhar fixado em frente.

- O que se passa? – Perguntei, ignorando as suas palavras e mantive-me focado nos seus olhos que evitavam os meus ao máximo.

- Podemos falar depois? – Neil perguntou erguendo o seu tom de voz, de forma a cessar a conversa ali.

- Concordo, é melhor discutirem a vida amorosa depois. – Ouvi a mulher baixa que circulava pela sala falar alto e dirigir-se a nós.

- Não fizemos nada. – Disse num tom talvez algo agressivo, mas estava a sentir uma raiva enorme pelas bocas que ela costumava mandar.

- Claro que não, apenas decidiram que a sala de aula era o local ideal para discutir a data do casamento. – Eu sabia que ela estava a falar num tom irónico e cómico, pelo que todos riam mas eu não achava a mínima graça.

- Sabe? Não tem graça. – Disse cerrando os meus punhos e Neil agarrou a minha mão por baixo da mesa, pedindo-me que não continuasse. – Esqueça. – Murmurei inspirando fundo de seguida.

Olhei para Neil de relance e ele esboçou um sorriso quase impercetível. Inspirei fundo mais algumas vezes até voltar a sentir-me mais calmo e comecei a perseguir os ponteiros do relógio, esperando que assim os fizesse andar mais depressa.

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Puxei-o pelo braço até à arrecadação da cantina que estava fechada durante a manhã, pelo que poderíamos falar ali sem que ninguém nos chateasse. Fechei a porta e virei-me de novo para o rapaz de cabelos loiros cuja postura aparentava um nervosismo tal que até as suas bochechas estavam coradas. Estava adorável.

- Vais contar-me o que se passa finalmente?

- Não se passa nada – Neil disse olhando-me finalmente, mas voltou a desviar o olhar de seguida. – Eu apenas não posso fazer isto.

- Isto o quê? – Perguntei agarrando o seu braço para o impedir de sair da pequena sala.

- Esta brincadeira de dúvidas e experiências idiotas.

As palavras de Neil embateram cada uma contra mim como se de facadas se tratassem. Larguei o seu braço rapidamente e sentia-me como se o meu coração tivesse parado por segundos e o ar foi involuntariamente trancado nos meus pulmões, deixando de circular. Sentia um nó gigante na garganta, tão grande que me era impossível sequer articular uma reposta ao que ele dissera. Neil olhava-me com olhos escuros de frieza e esperou que eu dissesse alguma coisa mas acabou por virar costas e me deixar na arrecadação.


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