Capítulo 23 - "Ew."

325 43 53
                                    


Os lábios de Harry continuavam colados aos de Niall e ambos tinham os olhos fechados com força e o nariz franzido. Harry recuou pouco depois e mantinha uma expressão contorcida no rosto, assim como Niall que ainda se sentia atordoado.

- Ew. – Harry disse pouco depois e Niall concordou assentindo também com o rosto contorcido.

Olharam um para o outro e sorrisos começaram a formar-se lentamente, sendo que Niall foi o primeiro a baixar a cabeça e esconder o riso. Harry riu alto e acabou por contagiar Niall que não aguentou mais.

- Eu não me importo sabes? – Harry falou, chamando o olhar de Niall de novo para o dele.

- De quê?

- Ser erradamente diferente contigo.

Niall sorriu e acabou por assentir perante o olhar de Harry que exibia um sorriso esplendoroso. Niall pressionou as pontas dos pés contra o chão e impulsionou o seu baloiço para trás.

- Foi por isto que discuti com o meu pai. – Ele disse enquanto balançava lentamente.

- Ele não gosta da ideia?

- Ninguém gosta.

- Eu gosto.

Niall olhou-o novamente com um sorriso tímido.

- Eu também. – Acabou por admitir, embora lhe tenha custado dizer algo assim.

- Vou continuar a receber insultos e olhares de desprezo?

- Harry – Niall fez uma pausa e olhou-o. – Isso nunca vai mudar, já devias saber.

- Não quero que mude. – Harry sorriu e parou então de balançar, assim como Niall.

Desviou o seu olhar para a rua que se estreitava à frente deles e pousou a sua atenção na caixa de areia inutilizada há anos. Estava coberta por pedaços de lixo, embora não muita quantidade. Subitamente, sentiu o toque leve de Niall que avançava em movimentos travados e hesitantes. A ponta dos dedos dele tocava agora na sua mão e Harry esboçou um sorriso ligeiro ainda de olhar distante. Num movimento só virou-se e abraçou Niall com força, apanhando-o completamente desprevenido.

Niall demorou a voltar à realidade mas finalmente apertou Harry de volta, agarrando a sua t-shirt com força nas suas mãos. Harry puxou-o contra si o máximo possível e um sorriso estava a cobrir a sua face, nunca se tinha sentido tão completo.

- Não te vais queixar dos germes? – Harry murmurou arrastando os lábios até ao seu ouvido.

- Cala-te otário, aproveita enquanto o bom-humor dura.

Harry soltou uma gargalhada e enterrou um beijo na sua bochecha que se moldou com o formato dos seus lábios. Niall riu e afastou lentamente a sua cara da dele, sorrindo-lhe docemente e baixou o olhar até às suas mãos. Agarrou a mão de Harry e ambos sorriram quando tal aconteceu. Sentiam-se fortes. Tão fortes como nunca antes.

- Tenho de ir para casa. – Harry disse embora quisesse continuar ali com Niall.

- Sem problema, eu vou contigo até lá à frente.

- Awwww vais acompanhar-me a casa?

Niall olhou-o secamente com o desprezo do costume e ficou em silêncio sério por algum tempo.

- Coitado. Deves-te achar muito importante. Pffff...

- Nossa Neil sempre amoroso, transbordas simpatia. – Harry disse usando e abusando da sua ironia.

- Vamos lá mas é embora que já me começas a irritar.

- Gostas pouco gostas.

Niall deu-lhe uma chapada no braço e levantou-se evitando os risos de Harry que adorava vê-lo irritado daquela forma. Harry correu atrás dele e agarrou a sua mão, entrelaçando os seus dedos nos dele. Niall olhou para as suas mãos juntas e voltou a olhar em frente, sem dizer fosse o que fosse. O sorriso de Harry não desaparecia passasse o tempo que passasse, a sua alegria era demasiado grande para ser contida.

- Vemo-nos amanhã. – Niall disse com um sorriso.

- Até amanhã.

Harry sorriu-lhe de volta e separou a sua mão da de Niall, caminhando na direção oposta da dele. Baixou a cabeça por segundos, encarando o chão pavimentado sob os seus sapatos e reviveu os momentos anteriores na sua mente.

- Que sorriso atrasado é esse? – Gemma perguntou quando Harry entrou em casa mas ele apenas a olhou com o mesmo sorriso, encolheu os ombros e subiu para o seu quarto.

----------------------------------------

- Pai – Niall murmurou, interrompendo o silêncio que se tinha instalado na sala de jantar.

- Diz Niall. – Ele pediu continuando a comer.

- Eu preciso de falar contigo porque muita coisa tem acontecido ultimamente e acho que devias estar a par disso...

- Estás a falar de quê? Passa-se alguma coisa com o teu irmão? Tens falado com ele?

- Será que tem sempre tudo de ter a ver com o Greg? Será que não podes concentrar-te em mim por um segundo? No filho que não te abandonou?! É assim tão difícil entender que eu tenho sonhos, que tenho dúvidas e ambições também?! Ou o facto de não serem iguais às tuas tira-lhes importância?! – As veias do pescoço de Niall estavam já visíveis, ele pulsava de raiva e o pai continuava em silêncio embora enfurecido devido à forma como Niall lhe estava a falar.

- Do que raio estás a falar? Como assim sonhos e ambições diferentes? Explica-te Niall.

Niall parou e engoliu em seco, baixou o olhar mas voltou a erguê-lo pouco depois.

- Eu não quero ser médico, nunca quis, não quero fazer isso para o resto da minha vida. Eu não queria ter vindo para este curso, não queria aproximar-me minimamente de me vir a tornar nisso.

- Não entendo essa mudança repentina de ideias.

- Será que não vês que isto nunca foi um plano meu? Eras tu quem queria isto! Ter os teus lindos filhos perfeitamente vestidos e com vidas luxuosas a ser conhecidos como médicos de prestígio... Eu não quero nada disso.

- Então o que queres afinal? Já que andas de ideias tão decididas diz-me. Diz-me o que queres! – Ele exigiu dando um murro na mesa que fez Niall estremecer por segundos.

- Eu quero – Niall parou, receoso. – Cantar.

- Cantar? Estás louco? Cantar? Mas agora isto é assim? Nunca ouvi nada mais ridículo!

Niall baixou a cabeça e calou-se, sentia os seus braços e mãos tremer com um frio súbito.

- Porque é que não podes apenas aceitar as minhas decisões? – Perguntou assim que a raiva voltou a correr pelas suas veias.

- Niall vai já para o teu quarto! Esta conversa está encerrada.

Niall cerrou os punhos e afastou a cadeira da mesa bruscamente, subindo para o seu quarto de seguida. Conseguia ainda ouvi-lo praguejar da mesa da cozinha mas ignorou tudo e apenas abriu a porta.

- E espero que ponhas as ideias no lugar! – Ele gritou antes de Niall bater a porta com toda a força.

Hide It. » n.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora