Entrevista

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Não era fácil encarar aquelas cinco caras familiares na tela. Eles sorriam, eram os mesmos sorrisos que um dia conheci, porém agora, todos estavam maduros, muito mais bonitos do que poderia prever. O dinheiro, a fama e tudo que estes dois tocavam, acabavam por modificar as pessoas. Seja para melhor ou para pior, no caso deles, eu torcia para que fosse o melhor lado.
E ele. Estava perfeito como um príncipe deveria ser. Aquele rosto de tirar o fôlego e a postura envolvente que ele tinha desde que o conheci, ainda naquela fase estranha de menino querendo virar homem, meio desproporcional o que o tornava um tanto desconjuntado, porém, fofo. Ele era somente uma sombra do que já foi um dia, ele agora era um superstar e isso era tudo que eu sabia sobre ele, pensei com tristeza.
Coloquei o ponteiro do mouse em cima do botão para comprar o passe do meet and greet. Meu dedo ficou lá, paralisado enquanto pensava na grande besteira que estava fazendo. Ok. Decidi por fim comprar logo aquele ingresso, de olhos fechados para evitar o arrependimento. Descobri posteriormente que isso não adiantava de droga nenhuma.
Tudo que tinha que fazer era esperar Priscila do lado de fora, enquanto ela tinha seus cinco minutos de tietagem com eles. Ficaria lá, mesmo me roendo ao saber que estaríamos somente a poucos metros de distância. Tão logo tudo não passaria de lembranças e sei que depois talvez eu me remoesse por não ter ido até eles, mas era o correto a se fazer.
Se eu soubesse que tudo desandaria a partir deste dia fatídico, eu teria ignorado todos os pedidos lamurientos da Pri e nunca, nunca mesmo teria sequer comprado aquele ingresso.

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- Vamos lá Lana. Temos meia hora para estar no estúdio. - Patrícia, minha assessora chamava impaciente da sala.

Dei os últimos retoques no cabelo e na maquiagem com o Claude, meu maquiador pessoal. Desde o dia em que fui ao Estrelas da Angélica e aqueles maquiadores e cabeleireiros da Globo me deixaram com cara de palhaça, que carregava Claude pra cima e pra baixo, ou ele vinha na minha casa.

- Minha querida você tá deslumbrante. - sorri em agradecimento. - Posso te acompanhar hoje nas gravações? Eu amo a Ana Maria Braga, que velha chique.

Claude jogou os cabelos negros, lisos e imensos para o lado, revelando mechas prateadas. Ele era um coroa enxuto, gay mas sem muito trejeito, a não ser pela voz.

- Vamos logo Claudiane.

- Se eu fosse pobre, esse certamente seria meu nome. 

Saímos rindo do quarto. Patrícia bufou impaciente, ficando ranzinza até chegarmos ao Projac. Ela era uma boa assistente, mas era conhecida pelo péssimo humor.
No caminho viam-se outdoors com aquelas cinco caras gigantescas, que de tão grandes, me intimidavam, como se estivessem me observando. Meu nível de paranoia estava ás alturas. De repente não me sentia mais tão confiante assim, se uma simples foto me causava pânico, imagino se estivessem de fato em meu campo de visão.

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- Então Lana. Quando vamos saber quem é o pai da nossa princesa linda, a Rara? - Ana Maria questionou.

Estava aproveitando aquele café maravilhoso em sua companhia agradável. A pergunta me fez bambear por dentro, mas por fora me mantive plácida, sem demonstrar o quanto o assunto me afetava.

- Um dia quem sabe. Ou nunca. - ponderei. - Não quero expor minha vida particular. Vocês sabem que a tive ainda muito nova. Sabe, a gente faz muita coisa louca na adolescência, não pensa nas consequências. O que importa é que eu tô aqui e sou tudo o que ela precisa. - emendei com um sorriso radiante, cheio de tristeza escondida.

- Entendo. Mas, ela não pergunta?

- Pergunta. Mas no momento certo eu lhe contarei tudo. Tenho algumas coisas a explicar, e prefiro fazer quando ela tiver mais discernimento para compreender.

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