A 1 ano e meio atrás eu não imaginava que seria hippie, se alguém chegasse e me falasse " um dia você será hippie" eu teria zombado dessa pessoa, porque só de pensar na idéia me fazia rir. Mas aqui estou eu, agregada a essa família, aqui ninguém trata você como se fosse desconhecido, te tratam como se conhecessem você a anos. Ao redor da fogueira contamos nossas experiências na Venezuela, do nosso outro cão que tivemos de deixar, do nosso casamento e de tudo que aprendemos .
O local era bem fácil de resumir, era um gramado gigante, com umas árvores aqui e ali, bem na beira da estrada que nos levaria para a capital do Peru, haviam barracas, combes, fuscas e tendas de pano por todo lugar, haviam tantas pessoas, uma caravana de nômades, nunca tinha visto tantos hippies juntos.
Rapidamente aprendemos a fazer pulseiras e tudo mais, e eu ganhei um presentinho especial da mãe do garoto de 2 anos, que por acaso se chama Pietro, uma faca, pequena e pontuda, o cabo era a cabeça de um unicórnio, os olhos eram pedras verdes, e a bainha da faca era a própria forma dela, com a parte de trás com pelos de cavalo de verdade . Era linda e com ela eu fazia as pulseiras e tudo mais.
Um dia em nossa barraca eu fui olhar nossas fotos dessa viagem maluca que se iniciou logo nos primeiros meses do ano de 92, e agora já estávamos em Outubro, no primeiro dia eu usava calça de marca, o cabelo perfeitamente liso, castanho e bem penteado, Thiago sem nenhum resquício de barba, o cabelo cortado e bem cuidado, éramos bem brancos, mas ainda muito urbanos, enquanto eu passava as fotos eu notava toda nossa mudança, meus cabelos ficando louros e agora feitos em dreadlocks, como gravetos flexíveis, a pele morena pelo sol, os olhos ficando selvagens, Thiago estava tão diferente quanto eu, os cabelos grandes, e agora também queimados e feitos em dreadlocks como os meus, a pele escura pelo sol, os olhos cor de mar raso ficando mais escuros com o passar do tempo, agora seus olhos tinham a cor do mar a noite, mas ainda rasos.
Mas a cada foto que eu passava, podia ver nossos olhos, nossos sorrisos demonstrando uma felicidade legítima, o ato de partir e deixar toda aquela merda para trás, mudou nossas vidas completamente, e eu era muito feliz por isso. Aprendi coisas que nunca pensei que saberia um dia, e agora estávamos com hippies, vivendo como nômades, e eu resolvi abandonar tudo de vez, passei tudo do celular para a câmera digital e joguei o meu celular o mais longe que pude, peguei uma tesoura e cortei todos os meus cartões, liguei para Jenny e avisei para passar a pet shop e a clínica para o nome dela, eu estava dando tudo para ela, mandei ela vender minha casa e meu carro e enviar o dinheiro para a conta de Thiago, me desfiz da minha antiga vida, e parti por completo.
Alguns dias depois o dinheiro foi depositado, e depois de sacarmos tudo da conta dele, ele também cortou os cartões e jogou fora o telefone, depois de avisar ao pai que agora ele era responsável pela empresa de Thiago. Finalmente abandonamos tudo. Depois de quase um ano de viagem, agora sim estávamos livres. Nos libertamos de verdade de tudo.
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Minha Nova Vida
General FictionMaria tem 23 anos, dona de um pet shop e uma clínica veterinária, mora sozinha e está quase morta de tédio, a cidade está sendo um inferno, e então numa manhã, Maria tem uma idéia maravilhosa .... realizar seu sonho, e sair do inferno que é a cidade...