Capítulo 2

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 A sirene tocou, o que indicava que eu devia tentar ser rápida ao seguir para o refeitório, caso quisesse ter em meu estômago a gororoba que eles chamavam de café da manhã. Prendi os cabelos no alto da cabeça e coloquei uma touca, na tentativa de esconder as mechas acobreadas que apareciam frequentemente - a Dra. Jeena, a única mulher em que eu confiava naquele lugar, dizia que elas apareceriam até que meu cabelo deixasse de ser castanho e se tornasse alaranjado por inteiro-, desci as escadas, junto com dezenas de jovens que também se apressavam.

O café da manhã era a refeição mais esperada do dia, pois era a única no qual podíamos fazer fora da cela. Durante o almoço e jantar, nos mantinham presos por precaução, pois, após Livya ter matado um dos guardas com um garfo, acharam melhor prender todos, eliminando futuros riscos aos guardas. Como no café da manhã não tínhamos talheres para usar, nos deixavam sair para respirar paredes de titânio diferentes das que nos mantinham na cela.

Depois do café, retornei à minha cela. Assim que entrei, fecharam a grande porta que me mantém isolada do resto do mundo. Não tínhamos lazer nenhum. Não víamos tv, não podíamos cozinhar, tocar instrumentos e a única roupa que podíamos usar era um macacão azul celeste. De vez em quando, a Dra. Jeena me trazia algumas revistas, ela dizia que estar sozinha já era ruim demais, e aquilo era o mínimo que podia fazer por mim - ela era minha segunda mãe; quando cheguei no ISM ela cuidou de mim e evitou ao máximo que me usassem para experiências, mas cedeu quando disseram que se não pudessem fazer experiências, me eliminariam -, naquela manhã ela deixou algumas revistas em minha cela, enquanto eu estava alimentando-me no desjejum.

Em todas as revistas tinham um artigo em comum, diziam que o rei de Wilbit iria anunciar um novo projeto para melhoria do país. O artigo deixava claro que aquele projeto foi uma proposta feita pelo príncipe Phillip e ele o colocaria em prática o mais rápido possível após o anúncio, que seria feito naquela mesma tarde.

Arremessei a revista contra a parede e atirei fogo na mesma, que logo se apagou ao tocar no titânio. Achava aquilo tolice, presavam tanto pelo bem-estar da população e prendiam pessoas, apenas por apresentarem divergências. A questão era que eu estava cansada de ser discriminada e acorrentada por algo que nem sequer era culpa minha.

Dispensei o almoço e o jantar, estava indisposta e sem apetite, antes das luzes se apagarem, Dra. Jeena apareceu em minha cela.

-Querida! - Disse ela, correndo em minha direção .

-Jeena! - Abracei-a e então soltei algumas faíscas pelo corpo, ainda não sabia controlar minhas habilidades com fogo quando se tratavam de sentimentos; eu estava muito feliz em vê-la.

-Acalme-se, estou protegida. - Disse ela, olhando para um guarda, que apontou uma arma em minha direção.

-Me desculpe... Queria poder te abraçar como uma pessoa normal, sem que você precisasse usar esse macacão ridículo. - Disse, me afastando.

-Não é culpa sua, querida. - Disse ela, afastando uma mecha ruiva de meu rosto. - Seu cabelo está quase "completo" - Gesticulou aspas com os dedos.

-O odeio, é tão estranho. - Revirei os olhos, largando os braços.

-Ei, você é linda! - Ela sorriu e continuou - Aliás, tenho uma ótima notícia para você!

-Finalmente vão me matar? - Revirei os olhos.

-Ei! Nunca mais diga isso! O que eu tenho que te dizer é algo especial.

-O que é então?

-Feliz Aniversário... - Ela sussurrou e sorriu.

-Jura? - Sorri.

-Sim, agora você tem dezoito. - Comemorou.

-Obrigada por lembrar. - Abri um sorriso triste.

-Você é a filha que eu nunca pude ter! Eu te amo, Sunny. - Acariciou meu rosto.

-Também te amo, Jeena.

Alguns minutos depois, ela foi embora, e as luzes finalmente se apagaram.

Sunshine (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora