Capítulo 22

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Phillip não voltou naquela tarde. Não apareceu no jantar, muito menos na janela. Eu estava preocupada, mas precisava demonstrar o contrário. Hanna preparou um vestido azul marinho, com um laço branco, assim desci para o café. Me sentei com Judje, o que tinha virado costume desde então, conversávamos, quando anunciaram a família real. O rei e a rainha entraram juntos e Phillip vinha logo atrás, ele estava estranho, pela primeira vez o vi de cabeça baixa, os olhos não tinham o brilho de sempre e ele sequer olhou para os lados.

Enquanto eu conversava com Judje, mantive os olhos nele; mal tocava na comida, só tomava o chá lhe servido e os olhos se mantinham na porta. Olhei para a porta principal e não havia nada o que olhar. Estava acontecendo alguma coisa, e eu precisava descobrir.

-Sunny? – Foquei em Judje, que balançava sua mão em minha frente.

-O quê?

-Está tudo bem? – Arqueou a sobrancelha.

-Ah, -dei um gole no chá- tudo ótimo .

-Por que estava olhando para a porta?

-Porque... – busquei uma desculpa rápida – Não vejo a hora de sair daqui!

-Sei...

-É sério! Estou cansada, quero ficar só, ler um pouco e, talvez, dormir.

-Tudo bem, mas, o que causa esse cansaço?

-Insônia. A luz dos postes, na frente do meu quarto, não me deixam dormir.- Menti.

-E não pensou em fechar as cortinas?

-Ótima ideia! -Sorri – Farei isso!

-Sério. O que está acontecendo?

-Nada. -Vi algumas garotas deixando o salão, era minha deixa. Me levantei. – Depois a gente se fala. -Sorri e deixei o salão.

Corri pelos corredores. Eu precisava saber o que estava acontecendo. Phillip não agiria assim. Subi as escadas, aos pulos e entrei em meu quarto.

-Hanna! – Falei, sem fôlego.

-O que houve? – Disse, assustada.

-Sabe onde fica o escritório de Phillip?

-Sei, Senhorita. Mas por que está tão...

-Me leve até lá. – Interrompi – Por favor.

-Mas por que a Senhorita...

-Hanna, - Interrompi novamente – eu preciso.

-Tudo bem, vamos.


Ela me acompanhou até o tal escritório, agora eu sabia o caminho que havia percorrido desmaiada, e qual caminho eu deveria percorrer, sem pular sacadas. Estávamos em frente à porta. Hesitei três batidas. Ninguém atendeu.

-Senhorita, devemos ir, vossa Alteza não está aqui.

-Não, Hanna. É importante. Será que não posso esperar aqui?

-Mas a Senhorita não pode...

-Por favor. – Implorei.

-Tudo bem. Mas volte para o dormitório o mais rápido possível, caso ele demore.

-Okay, te adoro! -Abracei-a.

Esperei que Hanna deixasse o corredor e entrei no escritório o mais rápido possível. Da última vez que eu tinha entrado no tal escritório, não havia reparado nos detalhes. Havia uma prateleira imensa, cheia de livros que eu nunca ouvi falar, em cima de uma estante, alguns quadros, sua mesa, cheia de papéis e a caligrafia das assinaturas e relatórios de Phillip, era impecável.

Fui até a sacada e olhando para o lado direito, vi que as cortinas, de um dos quartos, dançavam com a brisa. Aquilo me fez ficar aflita, porque aquele era exatamente o quarto de onde eu tinha fugido. Ouvi o barulho da porta se abrindo, era hora de eu descobrir o que estava acontecendo.

-Sunny? – Questionou, assustado.

-Phillip! Precisamos conversar!

-Você não pode invadir meu escritório! – Disse, bravo.

-Mas é que eu preciso...

-Precisa sair daqui! – Interrompeu.

-Não! Phillip, o que está acontecendo?

-Nada, saia daqui! – Apontou para a porta.

-Não vou sair até você me dizer!

-Não é porque é uma pobre garota paranormal, que pode fazer o que quer! -Gritou.

Aquelas palavras me doeram. Eu estava acostumada a ser vista assim por algumas pessoas, mas eu nunca pensei que Phillip me diria algo do tipo, então eu me calei, por alguns segundos, lutando contra as lágrimas.

-Sunny, me desculpa, eu não quis... – Se aproximou.

-Não, - Interrompi e empurrei-o – tudo bem. É assim que gente do meu tipo é tratada.

-Sunny...

-Eu nunca pensei que você fosse dizer algo assim. Pensei que você fosse diferente! – Minha voz falhou e o choro veio.

-Não foi minha intenção...

-Eu não posso fazer o que quero, mas o fato de ser príncipe, não permite que diga qualquer coisa! - Segui até a porta e saí do quarto o mais rápido que pude.

Corri pelos corredores, e até meus saltos vacilaram daquela vez; o salto esquerdo quebrou, me obrigando a parar para tirá-los. Segui para o quiosque; um lugar que eu nunca havia visitado, e aparentemente, nenhuma das outras garotas.

Era lindo. Cheio de árvores; com lindas flores cor de rosa, um pequeno lago e uma ponte para a travessia. No outro lado da pequena ponte, um chalezinho. Andei até a ponte e lá fiquei. Observava meu reflexo na água, minhas bochechas vermelhas e olhos levemente inchados. A brisa batia na água, movimentando-a e as folhas rodopiavam pelo chão, e a música que eu ouvia vinha dos pequenos pássaros que habitavam nas árvores.

Me sentei em um banquinho, próximo ao chalé e fiquei lá por horas, até o pôr do Sol. Voltei para o palácio, era quase a hora do jantar. Subi as escadas, dessa vez, desanimada, cambaleava de um lado para o outro, como quando se está bêbado, mas a única dose a mais que eu tomei, foi de decepção. Encontrei com Hanna no corredor, ela disse que estaria no meu quarto em um minuto, então segui. Abri a porta e vi que o feitiço havia virado contra o feiticeiro. Phillip estava lá.

-Me desculpa. – Foi o que ele disse, antes mesmo de eu protestar.

-Saia, por favor. – Falei sem hesitar.

-Sunny, eu te amo, me desculpa!

-Tudo bem, eu te desculpo. Agora saia!

-Não, não posso perder mais ninguém, Sunny!

-E eu não posso fazer isso comigo, Phillip!

-Me desculpe! Só quero que entenda uma coisa... Tudo o que eu mais quero é você, mas você precisa se controlar, Sunny!

-E eu só queria ser normal; ter uma vida sem graça, o cabelo de uma cor só, pessoas que me amassem e um propósito diferente. Eu queria ser o tipo de menina que pode sentir dor e raiva sem explodir em chamas, e tomar um soverte em uma tarde de domingo. – Suspirei e meu autocontrole vacilou mais uma vez, me fazendo chorar - Mas nem tudo é como um sonho, Phillip, eu não posso trocar a cor do céu, do mar, fazer chover tulipas e muito menos ser normal. Eu sinto muito por não ser a garota dos seus sonhos, mas saiba que você é o maior sonho que uma garota como eu pode ter.

-Sunny...

-Por favor, me deixe só. – Solucei, apontando para a porta e ele não resistiu; apenas foi embora.

Sunshine (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora