CAPÍTULO QUINZE

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Gritos ecoavam no ar, ao mesmo tempo que os soldados da Base militar lutavam contra os soldados da EVO.

Vum, vum, vum. Tum, tum, tum. Gritos e corpos a caírem.

Os projeteis continuavam a surgir; granadas a explodir, caindo em redor deles.

Ben e Byron atravessavam a praça da Base militar, em direção ao Syker. A porta de carga fechava lentamente. Ben alternou os passos, acelerando e desacelerando, desviando-se para a direita e para a esquerda, percorrendo o trajeto até ao Syker. Granadas e tiros explodiam rente aos seus pés.

— Temos de nos despachar! — Byron estava completamente aos gritos — Antes que aquela coisa decida ir-se embora com a Aria!

Os propulsores ardiam por cima deles, mas o combate entre os soldados da Base militar e os soldados da EVO continuava.

Ben vira dois soldados da EVO a fazerem-lhe mira com as G-TIs. Imediatamente, ele faz o mesmo e dispara dois tiros rápidos para os soldados. Depois, ele e Byron correram em direção ao Syker.

O coração de Ben estava acelerado; pulsando-lhe rapidamente de forma quase dolorosa de encontro às costelas.

Ben vira Byron à sua frente, conseguindo entrar no interior do Syker. O rapaz atravessa o resto da praça até à aeronave. Imediatamente saltou para a estreita abertura da porta de carga; Ben teve de se contorcer, mas conseguiu transpor-la mesmo a tempo, embora tivesse de arrancar os pés das mandíbulas da porta de carga que se fechava. Fechou-se com força, com um estrondo que ecoou nas paredes escuras do interior do Syker.

Estava frio; o sítio era pouco iluminado. Ben vira Marcus de costas para ele, olhando para Aria, que estava sentada à frente dele.

Marcus não tinha reparado que Ben e Byron haviam entrado, portanto, ele aproveitou esse aspeto para dar um tiro que acertou no ombro de Marcus.

Notava-se que Marcus estava confuso — ou perplexo — com o estava a acontecer.

Gemeu de dor e caiu de joelhos no chão. Aria correu para junto de Ben e abraçou-o. Esse abraço fora forte e caloroso. Algo que Ben já não tinha à bastante tempo.

— Quem é este? — perguntou Aria a apontar para Byron

— Este é o Byron; ajudou-me a salvar-te — respondeu Ben.

Byron apenas sorriu.

Após um longo silêncio, Ben quebrou-o:

— Temos de nos pirar daqui.

Através das janelas, viu-se o Syker a subir o céu e afastar-se da Base militar.

Byron abriu a porta do cokpit e vira uma mulher a premir uma série de botões rapidamente.

— Pare já com isto! Estacione este Syker imediatamente — gritou Byron.

A mulher ignorou-o.

— Não o ouviu!? — gritou Ben, caminhando na sua direção

Ela virou a cabeça para encara-lo. Ela tinha uma expressão que era impossível de decifrar.

— Estou só a cumprir ordens.

A mulher-piloto estendeu o braço e empurrou uma alavanca, fazendo-a deslizar para a frente até ao ponto máximo. O Syker deu uma guinada e começou a mergulhar em direção ao chão. As janelas do cokpit de repente cobertas de folhagem.

Ben saiu disparado e caiu em cima do painel de controlo. Algo enorme partiu-se e o rugido dos motores encheu-lhe os ouvidos; ouviu-se um estrondo imenso, seguido de uma explosão. O Syker parou com um safanão e algo duro voou pela divisão, acertando em cheio na cabeça de Ben.

Ele sentiu a dor e fechou os olhos antes de o sangue lhe toldar a visão. E depois, começou a perder lentamente os sentidos. Entrou numa espécie de perturbação mental e teve outro sonho-recordação.




Ben tinha sete anos de idade; estava sentado no banco de trás com uma menina um pouco mais nova que ele — deveria ter uns cinco anos de idade.

O pai de Ben estava a conduzir o carro e a sua mãe estava no lugar ao lado, ouvindo a rádio.

Quem seria aquela menina?

Ouvia-se sempre o mesmo noticiário na rádio — falavam que um vírus potencialmente perigoso e contagioso se havia espalhado pelos Estados Unidos da América, embora a família de Ben vivesse em Manhattan e ainda não tinha acontecido nada. Claramente que havia alguns casos de pessoas que estavam infetadas, contudo, não era tanto como em Brooklyn que já havia mais de um milhão de pessoas infetadas.

Eles estavam metidos num enorme engarrafamento de carros.

«Mamã, onde é que estamos?», perguntou a menina para a mãe de Ben.

Aquela seria a irmã de Ben? Só podia.

«Vamos levar-vos para a escola, filha», replicou a mãe, «Helena, brinca com o Teddy!»

Helena — ou a sua irmã — pegou no seu urso de peluche e começou a falar com ele, brincando.

O que aconteceu a seguir foi o pior. Ouviu-se uma explosão do lado de fora do carro. Um barulho ensurdecedor, à distância. O coração de Ben começa a bater furiosamente.

O pai de Ben gritava, dizendo que tinham de sair do carro o mais rápido possível. A mãe chorava e olhava para os seus filhos. Apesar de Ben ter apenas sete anos, ele compreendia o que estava a acontecer.

Havia pessoas a correr de um lado para o outro. Depois, outra explosão enche-lhe os ouvidos.

A família de Ben sai do carro e correm em direção oposta da explosão, apenas para voltar a casa.

O chão de ao pé de casa deles estava coberto de corpos, uns já estavam a passar pela Transformação do vírus e outros apenas feridos. Havia gritos e gemidos de dor nas ruas de Manhattan; sangue por todo o lado.

Helena deixou cair o seu peluche ao chão. Ela parou e apanhou-o; a sua família estava a metros de distância.

«Helena! Sai dai!», pede Ben

Ele viu uma carrinha com o condutor a contorcer-se; ouvia-se os gritos do interior da carrinha. Era um Kerno tresloucado.

Ben apenas fechou os seus olhos. De repente, ouviu-se o impacto do corpo de Helena a ser projetado contra algo duro. O som dos vidros a partirem-se invadiram o ar. Ben finalmente abriu os seus olhos e vira um carro abandonado com os vidros partidos. E sangue. O corpo imóvel de Helena estava sob o tejadilho do carro. Viu a sua mãe a chorar.

Naquela altura, Ben não sabia o que era o significado de morte, mas as lágrimas enchem-lhe os olhos.

E o seu coração parte-se em mil pedaços.


Tempestade Solar - Vírus Mortal #2Onde histórias criam vida. Descubra agora