Cap 2 : Quinze anos - Parte dois

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      Mantive meus olhos fechados por uma fração de segundos a mais que o necessário, me concentrando em respirar e agir naturalmente. Aos mesmo tempo eu sondava o modo como eu estava reagindo frente a Daniel outra vez. Cada respiração era estudada, cada tremular de cílios deveria ser calculado. Cada simples respiração deveria ser contida neste momento de incerteza e medo.

      Contando mentalmente até dez abri os olhos e me vi frente a um olhar que fraquejou minhas pernas. Se eu não estivesse segura em seus braços, eu teria caído. Absolutamente direto para o chão, tamanho o descontrole de meu corpo neste momento agoniante.

      Como se não bastasse o mesmo perfume inesquecível, após dois longuíssimos anos, os olhos dele ainda me atraiam como um precipício sem fim. Duas piscinas de águas gélidas, um azul escuro tão diferente de tudo que eu já vira e que me fazia suspirar, mesmo contra toda a lógica existente em nossa situação. Seu corpo colado ao meu transmitia calor, puro fogo.

      Ele me manteve suspensa no ar colada ao seu corpo e me olhava com as sobrancelhas arqueadas de uma forma sexy como o inferno. Parecia surpreso e confuso. Como se não me reconhecesse, ou como se não acreditasse nos seus olhos. Então ele viu Gerard atrás de mim e instantaneamente me firmou no chão, se afastando de mim como se eu fosse uma doença contagiosa. Encostei-me na parede para não cair enquanto assistia aos dois irmãos num abraço emocionado de quem não se via a dois anos.

      Aproveitando a confusão momentânea, corri para o banheiro mais próximo. Passei a chave na porta e mergulhei meu rosto na pia de agua gelada. Respirei alguns segundos antes de ter coragem de subir meu olhar até o espelho. Meu rosto era uma bagunça. Meu olhos estavam arregalados, minhas bochechas estavam vermelhas como pimenta e meus lábios tremiam.

      O perfume era o mesmo, os olhos definitivamente os mesmos e a indiferença e aversão a mim, sempre a mesma. A forma como ele se afastou afetado e enojado quando me reconheceu entregou com seus sentimentos ruins com relação a mim não haviam mudado. Éramos os mesmos, dois anos depois, somente opostos.

      Eu teria que me concentrar no almoço e avaliar minha atitudes somente quando eu estivesse sozinha.Era perigoso agora tentar decifrar o que eu ainda sentia por aquele homem. Porque sim, o jovem debochado e sexy que passava os dias absorto em projetos de arquitetura e as noites sobre sua Honda Sport definitivamente ficara para trás, dando lugar a um homem de olhar frio e ações tremendamente calculadas. Minha missão era somente sobreviver a este almoço e tudo ficaria bem. Tão bem quanto era possível na atual circunstância de confusão absoluta reinando em minha cabeça..

      Quando eu finalmente consegui controlar meus nervos e forcei meus passos até a sala de jantar, todos já estavam a mesa, meu lugar como sempre ao lado de Gerard posto e disponível. Dei um beijo no Sr e na Sra Nark e me sentei evitando olhar para Daniel que ficara frente a mim na mesa.A todo instante sentia seus olhos insistentes e surpresos queimando em minha testa, que teimei em manter baixa temendo entregar qualquer coisa louca no meu olhar febril.

      Todos eram uma confusão de histórias, lembranças, conversas, risadas e gritos. Era uma família unida e amorosa, que comemorava o regresso de seu filho amado. Me guardei no meu mundo e comi silenciosa. Comer somente era uma forma de falar porque nada passava por minha garganta que parecia de repente querer se fechar. A voz rouca dele me afetava, me afetava muito mais do que qualquer coisa.Eu estava aterrorizada com o poder dele sobre mim. Meus pelos dos braços se eriçavam ao simples som da sua voz e meu corpo todo ficava quente. Eu estava apavorada, todas essas sensações me eram completamente desconhecidas.

      - Marine, querida, como estamos com o vestibular ? - O Sr Otavius soou com sua voz grave me trazendo de volta ao mundo real.

      - Tudo encaminhando, o prestarei neste sábado e creio que no máximo em duas semanas iremos para a faculdade.- Sorri, segurando a mão de Gerard, tão natural como sempre fora..

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