Acordei ao som de gritos altos demais para meus ouvidos sensíveis de uma noite em claro.
Pulei da cama assustada e amarrei meu cabelo num coque frouxo, e corri para fora de casa para descobrir o que estava acontecendo.
A cerca de uns cem metros da entrada da casa, Gerard encontrava -se caído, aos berros e preso pela rédea a um cavalo que parecia completamente descontrolado. E que Deus ajudasse, pois ele nunca havia cavalgado na vida.
Enquanto eu me aproximava do local,senti de súbito um cheiro avassalador e tão conhecido de meu corpo que parou as batidas do meu coração por um milésimo de segundos e logo Daniel estava abaixado ao lado do irmão olhando horrorizado a sua volta.
- Pai, pai - Ele gritou com voz de trovão. - Tire Marine e mamãe daqui e chame imediatamente uma ambulância.
Eu parei ao som de seu desespero apavorada demais para respirar. E num piscar de olhos fui afastada de perto deles , o Sr Nark amparava a mulher enquanto um empregado tentava cortar a rédea que estava presa ao corpo de Gér e no cavalo para libertá-lo.
A sra Nark apavorada tentava se soltar do marido e correr para perto , mas fomos proibidas de nos aproximar por Daniel que vigiou o irmão aos poucos acalmando seus gritos até que a ambulância chegou.
Quando Ger estava sendo carregado ainda com auxílio de Daniel eu pude ver, entre a maca e os paramédicos, que o quadril dele estava monstruosamente torto, como se seu corpo houvesse girado em 180 graus. Levei a mão ao rosto chocada demais com aquela cena e em seguida vi muito sangue, carne rasgada e um fragmento de osso pontudo saltando do corpo do pobre Gerard que parecia delirar de dor.
O sangue, o osso, o deslocamento completo do quadril dele, o horror daquele momento, e eu simplesmente apaguei, caindo no chão engolida pela escuridão.
Acordei sentido o maravilhoso cheiro do meu cunhado que pensei ter se impregnado em mim, até notar que eu estava em seus braços, respirando em sua barriga, como se eu fosse em bebê que estivesse sendo embalado. Pigarreei e me afastei com uma vontade louca de morar naquele cheiro.
- Vá com calma, devagar você está voltando de um desmaio - aquela voz poderosa era a melhor música que meus ouvidos poderiam ouvir na vida.
- Como a perfeita mulherzinha que sou, mas que merda - praguejei - o que raios acontecendo com Ger? Deus Dani, ele deslocou o quadril.
- Ele caiu do cavalo, teve fratura exposta. Quebrou o quadril em dois lugares e o osso deverá ser soldado. Droga Marine, o meu irmão pode nunca mais andar.
Levantei de um salto e passei a dar voltas no corredor do pequeno quarto de espera que estávamos. Tentei evitar mas o pensamento de que estávamos sendo castigados por nosso pecado tomou conta de minha mente crescendo com erva daninha.
- Como ele, onde ele - soei apavorada - mas que bela porcaria. - O que eu faço ? -sussurrei apavorada.- Meu plano era terminar nos dois...
- E o meu era começar nós dois. - Daniel trovejou desesperado - Eu não posso te deixar sair da minha vida assim, depois de ter se instalado em cada canto de minha mente.
- Daniel não vamos começar novamente esta discussão. Eu não tenho estrutura para sobreviver a isso novamente.
- Olha - ele me abraçou por trás e minhas pernas fraquejaram na hora - Vamos ver como ele vai ficar, podemos adiar nossas decisões mais um pouco. O importante agora é Ger ficar bem. Sobre nós, ainda não acabou. Sequer começou.
- Eu mantenho o que disse - me afastei quase gritando de frustração e de vontade de colar meu corpo no dele - vou esperar ele melhorar e depois me afasto de todos vocês. Não temos chance, isso seria veneno para ele. Peço que respeite minha decisão.
Quando ele abriu a boca para retrucar os pais dele entraram na sala e foi uma confusão de troca de informações, sentimentos, choros e preces. Era uma família unida orando pela saúde do filho caçula. Tentei me manter afastada rastreando meu cérebro a procura da melhor solução para minha situação desastrosa. Eu me preocupava com Gerard, ele era minha família desde que me lembro de existir, e jamais viraria as costas para ele. Mas simplesmente eu não tinha coragem de olhá-lo nos olhos e sustentar aquele anel no dedo que estava pesando uma tonelada depois do que eu tinha feito na noite passada.
E com todos os diabos o que me desesperava e confundia ainda mais era o fato de não me arrepender nem por um segundo de ter me entregado a Daniel. Fora a melhor noite de minha vida e eu só sentia vontade de repeti-la para todo o sempre.
Minha situação era mesmo desesperadora e quando achei que poderia fugir e me esconder acontece este acidente. E sem nem precisar ouvir dos médicos eu sabia que a recuperação seria longa, e que eu terei que cuidar dele por um tempo longo demais para minha pressa em ficar longe do amor louco que sentia pelo meu cunhado.Aquele anel em meu dedo queimava, e eu só queria desaparecer.
Cerca de uma hora se passou. Uma hora que me revezei entre evitar os olhos de Daniel, caminhar em círculos e abraçar a Sra Nark procurando consolá-la quando eu mesma estava inconsolável. Sentei numa cadeira afastada e fechei os olhos tentando ordenar os pensamentos, quando os abri, havia um médico na sala e todos estávamos ao redor dele num salto sincronizado.
- Acabamos a primeira parte da cirurgia, encaixamos o osso novamente no lugar. Agora iremos soldá-lo e concluir sutura. As próximas vinte e quatro horas após a cirurgia serão vitais. Ali saberemos se afetou a espinha e se ele voltará a andar ou não. - Um calafrio de puro horror passou pelo meu corpo todo ao ouvir essas palavras e orei a Deus de todo coração que o curasse - Ele deverá ficar em observação por cerca de quinze dias para vermos se a solda vai selar e se não haverá infecção. Se tudo for um sucesso, ele será liberado para cadeira de rodas por cerca de seis meses. Somente após este tempo, se ele responder bem a fisioterapia, voltará a andar normalmente.
Um silencio imperou no ambiente após o médico proferir estas palavras. Parecia terrível demais, definitivo demais. Suspirei pesadamente, sabendo que minha permanência naquela família iria se estender por prazo indefinido.
- Papai, mamãe. Eu peço desculpas por dar-lhes esta noticia neste momento no qual temos tanta dor e sofrimento em nossa família. Mas eu fui convocado novamente ao exército - e meu coração falou umas três batidas seguidas, com o ar repentinamente fugindo de meus pulmões e uma navalha se instalando em meu coração, cortante e impiedosa. - Eu deveria voltar ao Iraque na próxima semana. Adiarei por um mês e tomarei o cuidado pessoal de Gér neste tempo, quero lhe dar todo o amor e carinho enquanto ainda estou aqui. Me desculpem, eu sinto muito. Será por somente mais três anos e eu volto em definitivo.
- Mas Daniel - retrucou o sr Nark que entre nós parecia ser o único a ter voz naquele momento. - Você não pode. Gerard, o trabalho, Marine, simplesmente não pode.
-Papai, eu preciso. Me afastar é mais vital do que respirar neste momento. Por favor me perdoem.Cuidarei de Ger pelo próximo mês , meu irmão terá todos os meus sorrisos - neste momento seu olhar passou rapidamente pelo meu e num choque eu vi confusão, medo e principalmente arrependimento. E então percebi que o homem que poucas horas atrás me dissera que nós ficaríamos juntos, estava simplesmente fugindo de mim, como se eu fosse um erro a ser esquecido. Vendo todo o arrependimento estampado nos olhos dele eu desfaleci. Algo corroendo e gelando todo o sangue de minhas veias- Eu cuidarei dele como de minha vida. E então irei, e retorno em três anos.
Em completo descontrole solucei alto, sentindo lágrimas nascendo em todos os cantos dos meus olhos e descendo descontroladamente, fugi da sala não me importando em parecer louca absolutamente desvairada, porque isso é como me sinto, o sofrimento era maior que qualquer etiqueta social naquele momento e eu me permiti extravasar minha dor e confusão.
Acabei no piso frio do banheiro, sentada no chão chorando descontroladamente as lágrimas de um amor da vida inteira.
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Boa noite amores...perdoem o capítulo sem edição. Amanha corrijo todos os erros. Amo-os.
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Envolvida (Completo na Amazon)
RomanceQuando... Quando o amor e o desejo ficaram maiores que qualquer barreira social... Quando a paixão me cegou a ponto de eu ser desleal... Quando correr contra só nos trouxe cada vez mais perto... Quando eu não vi saída a não ser ir contra as regras...