Cap 14 : Em tempos de guerra

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***** Afeganistão - Três meses depois

Apressei meus passos pela trilha difícil.Eu precisava chegar ao acampamento enquanto ainda tinha luz do dia ou teria que passar mais uma noite dormindo naquele saco de dormir que já estava imundo.Faltava apenas uns três quilômetros e somente meus pensamentos eram minha companhia continua.

Parei apenas um segundo para tomar água do cantil preso em minhas costas e firmar melhor minha arma sobre o ombro.Em seguida andei, em marcha, sempre em frente o mais rápido que podia.

Menos de meia hora e já sem qualquer sinal de luz a minha volta eu finalmente ouvi vozes, barulhos e o acampamento surgiu em minha vista.

- Soldado - e meu tenente estava a minha frente sorrindo alegremente.

- Tenente- Respeitosamente prestei continência antes de abraça-lo aliviado.

-Pensei que tínhamos te perdido desta vez Daniel. Por Deus,você esteve desaparecido por dois dias.- Ele troveja enquanto me guia até nosso alojamento.

- Por um momento eu também achei que isso fosse acontecer - confessei - mas está tudo bem meu amigo, eu estou bem e consegui a informação de que precisávamos.

-Falamos de trabalho amanhã. Hoje só quero que tome um banho, se alimente e durma, durma muito porque você merece.

-Não, quero sair com o primeiro carregamento amanhã.Como te disse, tenho informações privilegiadas.

-Você fica, é uma ordem - e ele me fitou paternal.Meu Tenente, John, era um homem na casa dos cinquenta anos que possuía uma família linda e , mesmo sendo um bravo tenente e colocando seu trabalho e sua pátria acima de tudo, contava o dias para sua aposentadoria que seria dali a seis meses.Ele fazia o possível para evitar confronto direto e seu pelotão nunca tinha muita ação.Infelizmente, porque tudo que eu precisava e queria era ação, para esquecer de toda a miséria que era minha vida - Você fica - Prosseguiu ele.-Descansa e organiza nossa mudança para o sul a cerca de cem quilômetros.Recebemos ordem de avançar. Então as informações que você conseguiu deverão ser repassadas ao próximo destacamento que assumirá a nossa missão.

Dito isso ele saiu do alojamento me deixando sozinho e revoltado.Eu sabia , estava claro como o dia que ele dera um jeito de evitar este confronto.

Soltei minha mochila a um canto perto de minha cama e coloquei a arma no armário que me fora destinado.Pegando uma calça de moleton rumei para o pequeno e silencioso banheiro.Lá, em meio a fumaça espessa que se formou devido a água quente, foi impossível não desmoronar.Encostei a testa no azulejo gelado e respirei descontroladamente.Revi a mira da arma em minha cabeça, a luta com aquele Iraquiano, o tiro ecoando no silencio da tarde.Por um segundo duvidei de quem aquele tiro havia atingido, e então eu o vi tombar a minha frente sem vida.Eu consegui matá-lo.

Uma sensação inquietante de medo se instalou em mim. Aquela fora a vez em que estive mais próximo da morte.Isso me fez pensar.Enquanto estive sobre a mira daquele revolver, quando vi minha vida escorrendo por minhas mãos,me lembrei de uma música que escutei uma vez em minha adolescência e meu inconsciente gravou a seguinte frase " Imagine que não exista outras vidas, você realmente sente que viveu esta?".

Passar pelo que passei, tendo uma arma apontada para minha cabeça, me fez pensar no que eu estava fazendo da minha vida, se era algo que me fizesse ter orgulho dela. Minha família passou pelos meus olhos, e me senti miserável por morrer sem lhes dizer que os amo, e que sou o maior covarde por não me permitir viver este amor de família com o qual Deus me presenteou. Eu era um eterno fugitivo , desde os meus vinte anos de idade. Mas não, eu não fugia da minha vida.Fugia de um desejo que me cegava, de uma paixão que me virava a cabeça, de uma história que não era minha, de uma mulher sobre a qual eu não tinha o menor direito.

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