Cap 21: Refúgio

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Meu pé pesando sobre o acelerador e vejo que meu velocímetro marca 160 km/hr. Alivio a pressão diminuindo a velocidade ao mesmo tempo que viro uma curva sinuosa. Meus pensamentos nebulosos me guiam a um lugar que a muito tempo não venho. Um refugio a muito não procurado.

A alguns quilômetros retirado do centro, encontro o Pub que frequentei algumas vezes durante minha adolescência com Ger e com colegas da escola. Mas lugar também onde eu me refugiava vezes sem fim escondendo-me dos olhos de todos,a cada vez que tudo ficava difícil demais,insuportável demais.

THE TOCA. A placa pequena de madeira fixada na entrada era praticamente invisível para os mais desatentos,mas para mim eram letras bem vindas,que me aliviavam. Era apenas seis horas da manhã, o dia amanhecia a minha volta. Mas foda-se, eu precisava desesperadamente de uma bebida forte e sabia que as portas da toca nunca estariam fechadas para mim.

Otavius estava bem cuidado. Gerard dormia alheio ao mundo. Dan cuidaria de Roxette e de tudo , e Daniel que fosse para o inferno. Tudo estava bem, sobre controle e eu podia me dar ao luxo de desaparecer por algumas horas.

Manobrei meu carro e estacionei aos fundos do pub de forma a manter o carro escondido de quem passasse pela auto estrada. Seria um longo dia, e eu definitivamente não precisava de ninguém ali, me vendo e me julgando.

Peguei meu agasalho no banco de trás e coloquei por cima do suéter e sai do carro. Um frio cortante me esperava do lado de fora. Apressei meus passos e bati na porta dos fundos.

Uma senhora asiática,pequena e miúda apressou-se em abrir e me abraçou calorosa.

-Tudo bem Marine? minha querida.

- Tudo sim Jo. Eu só precisei fugir, eu precisava ficar sozinha e...

Nem mesmo conclui meu pensamento. Ela me empurrou para dentro fechando a porta a minhas costas e caminhou em direção ao bar abandonado aquele cômodo que se tratava de uma pequena e limpa cozinha.

Segui atrás dela e sentei na poltrona estofada que ela colocou no pequeno palco para mim. Provavelmente para que eu não atrapalhasse a limpeza que ele fazia em todo o bar.

Jo seguiu até o balcão e encheu um copo de whisky puro levando até minhas mãos e tocou em meus cabelos, num carinho despretensioso.

- Acha que vai ficar tudo bem? - seus olhos miúdos me sondavam

- Não, Jo. Está tudo escapando do meu controle. - assumi em voz alta. Pela primeira vez até para mim mesma.

- Sabe que uma hora vai ter que cuidar de sua vida minha pequena, não sabe? Creio que já viveu tempo demais sobre o controle de todos a sua volta.

Meus olhos marejaram de carinho por ela com todo aquele cuidado comigo. De medo, por saber que eu teria que tomar minhas vidas em minhas mãos. E de certeza, que agora era o momento certo de abandonar tudo e me colocar me primeiro lugar.

- Chorar não resolve pequena, só mostra mais fraqueza. - Ele deu as costas e começou a esfregar o chão, ainda falando - Nuk morreu, em meus braços, e eu o enterrei, dignamente, arregacei as mangas e segui minha vida. Chorar, é a arma dos fracos. E eu já te vi chorando por tempo demais.

Tomei meu whisky em pequenos goles enquanto observava a minúscula senhora esfregando o chão. Ela entrara em minha vida de forma casual, num dia qualquer ela esteve na empresa que eu gerencio para compras alguns arranjos para o bar,eu ofereci carona. Eu conhecera Nuk de quando frequentei a toca em minha adolescência, mas Jo eu conhecera somente a um ano e meio atrás, após meu casamento e estes foram os momentos os quais eu mais precisei dela, de seus conselhos e suas bebidas. No dia que lhe ofereci carona, estava um calor infernal.Ela me convidou para entrar, tomamos algumas cervejas juntas e uma amizade surgiu. Desde este dia, eu fugiu uma vez por semana para a toca e ficava ali, conversando e bebendo ao menos duas horas a fio. Jo conhecia toda a minha história, as vezes até melhor do que eu mesma.

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