MORRENDO

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    Ele acordou com uma buzina de carro horrivelmente irritante. A vista estava meio turva,mas ,
ele pôde deduzir que estava no meio do trânsito parado em pleno sinal verde. Limpou a baba espersa dos lábios,e coçou rapidamente os olhos verdes.

     Engatou a segunda marcha,mandou o motorista se danar,e seguiu adiante,correndo na sua Mercedes prata reluzente.
Parou em frente à um grande arranha-céu, invadindo loucamente a garagem. Desceu meio cambaleante, arrumou os cabelos ruivos e o paletó, rezando pra que a reunião ainda não tivesse começado.

    Subiu para o elevador de serviço,checando o hálito, notando que podia incediar aquele prédio com a quantidade de álcool que bebeu. Entrou na recepção bocejando,mas,ainda deu tempo de paquerar a recepcionista com um sorriso,e ser recompensado com uma piscadela.

     Entrou no segundo elevador apertando freneticamente o botão para subir.

-Vamos! Anda logo!- Murmurou olhando para o relógio,apressado.

    Puxou um spray de menta do bolso e borrifou na boca,escondendo o cheiro de whisky. As portas de aço se abriram e ele correu até a imensa porta cinza.

    Assim que entrou na sala e deu de cara com aqueles rostos inexpressivos,se assustou. Os acionistas já esperavam por ele.

-Esperavamos por você, Sr. Watter!

     Um homem alto,de meia idade e sentado egocentricamente numa das três maiores cadeiras da sala se pronunciou.

    Seus poucos cabelos grisalhos combinavam muito bem com sua cara de poucos amigos.

-Vejo que sim.- O rapaz ironizou,olhando um gráfico de retas refletido na parede branca.

-Podemos continuar Sr. Presidente?- O homem perguntou,à contragosto.

-Sim,Sr. Julius! Podemos continuar.- Alec respodeu,com certa satisfação,sentando-se na cadeira do fundo.

-Continuando-Julius observou. -Nossa produção cresceu 36,8%,mas,aindaprecisamos alcançar o público mais jovem.

    O rapaz olhou pela janela,para a pequena,mas, desenvolvida Holiness,se perguntando como deixou tudo chegar à aquele ponto. Ao ponto de agora ser o dono da maior empresa da cidade,e não querer estar alí.
 
*    *    *    *    *    *    *    *    *    *

    Ao findar da tarde,depois de assinar papéis,almoçar com pessoas que não lhe despertavam o mínimo interesse,e assinar mais papéis, Alec parecia aliviado e pronto para curtir a sua liberdade. Nada parecia lhe impedir.

-Alec!

     Até aquele momento.
    Ele se virou automaticamente.
    Era Julius,que se aproximava sem a menor pressa.

-Eu estou meio atrasado Julius!-Alec mentiu.

-Só quero lhe pedir que tome mais cuidado- Julius falou,rígido.-Não leve a empresa que seu pai construiu do nada,à falência!

-Não acredito que isso possa acontecer!-Alec enfatizou.

-Eu acredito,Alec!-Julius respondeu,sem ao menos um segundo de reflexão.-Se dirigir está empresa como dirige sua vida...

-O que você quer dizer com isso?-Alec respondeu,agora exaltado.

-Ora garoto,veja o que você fez da sua vida até hoje;Se meteu em encrencas,polêmicas...-Julius enfatizou.-Tirou vidas inocentes...

-Não toque nessa assunto,Julius! Eu já me culpo o suficiente!-Alec berrou.

-Se culpa o suficiente? Como? Caindo na gandaia? Arrumando confusão?-Alec respondeu à altura.-Se seu pai e Jullianne estivesse aqui,estariam envergonhados de você!

     Julius caminhou para seu carro,enquanto Alec procurava por qualquer resposta plausível para calar aquele velho ranzinza, mas, nada encontrou. As palavras que ele lhe jogara fazia todo sentido. Agora que as lembranças retornavam vivas, muito bem vivas... Muito bem trágicas.

    Alec se enfiou dentro de sua Mercedes. Respirou fundo, afrouxou a gravata e tirou o paletó. Apertou as mãos contra o volante,deixando a cabeça repousar sobre as mãos. As palavras do velho Julius ecoavam em sua cabeça, frias, verdadeiras, fazendo-o relembrar aquela maldita noite. Acelerou o carro e saiu dalí antes que suas memórias o consumissem.

    Correu pelas ruas sem qualquer controle, sem pensar, só queria sair daquele lugar, fugir de suas memórias e de sua culpa. Queria parar de ouvi-la gritando por entre as ferragens,queria parar de lembra-la insaguentada, morrendo.
      Alec olhou para o volante em suas mãos enquanto as lágrimas escorriam ao rosto. Quem mais mataria por descuido?

    Foi quando sentiu o impacto lhe jogar para frente.Um solavanco que fez sua cabeça voar de encontro ao volante. A princípio pensou que se tratava de ter batido em uma árvore ou idrante pela falta de atenção, mas, assim que olhou o parabrisa completamente espatifado e insaguentado, deduziu com pavor;

    Havia matado mais alguém?

-Deus!!-Murmurou saltando do carro.

A rua estava deserta,não havia ninguém. O Prince não era um dos melhores bairros de Holiness. Ele olhou para o carro e alí,atrás do porta-malas, ouviu, entre choramimgos e soluços, uma garota. Caída ao chão,os longos cabelos negros se misturavam ao asfalto tornando-se quase invisível. Os olhos azuis despejavam lágrimas ao sentir a dor da ferida que se abrira na testa alva.

    Alec se aproximou da garota que não demorou muito a perder a consciência.

-Meu Deus! O que eu fiz!?- Se perguntou assustado com as mãos na cabeça.

    Ele checou o pulso da garota. Estava fraco, mas, ainda tinha vida. A pegou nos braços com o maior cuidado e a colocou no carro. Esperava não perder está vida também.

    Chegar no Waverlly não foi tão complicado quanto parecia. O trânsito não estava tão engarrafado. Assim que ele chegou tirou a garota do banco de trás com o mesmo cuidado com que a colocou. A levou para dentro do do hospital nos braços.
    A recepcionista organizava alguns papéis e não percebeu a chegada de Alec.

-C-Com licença!- Ele chamou a atenção da recepcionista.- É uma emergência!

-Sim...Ah! Meu Deus!- A recepcionista exclamou ao ver a garota nos braços dele.

-Chama o Dr. Carry, rápido!- Ele ordenou.

-Emergência,temos uma emergência na recepção!- Ela falou ao telefone.-Você é parente dela?

-Não!Eu não conheço!-Respondeu.-Ela...E-Eu...Eu a encontrei no Price! Acho que foi vítima de violência...

-Quer fazer um boletim de ocorrência?-A recepcionista perguntou.

    Dois enfermeiros chegaram com uma maca e Alec a colocou sobre ela levando-a  corredor à fora.

-Não!N-Não!- Respondeu olhando pelo corredor.-Quando ela acordar,talvez,se quizer pode denunciar seu agressor...

-Sem seus dados fica difícil mantê-la aqui,sem nenhum plano...

-Coloque tudo no meu nome. Eu tenho plano de saúde aqui!- Alec respondeu de imediato,ainda olhando pelo corredor.

-Sendo assim...-A recepcionista voltou para sua bancada e pegou sua prancheta-Nome,por favor?

-Alexadder Watter.

-Ótimo,ela terá todo o atendimento necessário...- Recepcionista falou sorridente.

-Assim espero...-Alec murmurou.-Eu preciso voltar.Qualquer coisa me avisem.

-Tudo bem Sr. Watter.

     Alec se virou e saiu do hospital.

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