MEMÓRIAS

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- Foi uma época muito conturbada, a que nós nascemos. Nossa aldeia era pequena, todo mundo conhecia todo mundo. Nós crescemos juntos. Todos nós.- Harry sorriu, com doçura, lembrando seus dias mais felizes.- Você e Jullianne era gêmeas. Eram idênticas. A única diferença entre as duas, era que você, Jasminne, tinha um dom...

- Um dom?- Alec se pronunciou, curioso, enquanto Margoth só ouvia.

- O dom de cura. Sempre que alguém adoecia ou se machucava eram levadas à casa de sua mãe, e você as curavam. E todo mundo alí sabia do seu dom, e a consideravam um anjo.- Seu sorriso se perdeu, um instante, como se empurrado para uma lembrança ruim. - Jullianne passou a invejar o seu poder, e começou a mecher com magia. Não demorou muito para que o rumor de uma bruxa se espalhar pela cidade, e logo a caça as bruxas chegou ao nosso vilarejo...- Harry olhou para o vazio.- Jullianne jamais poderia suportar a ideia de morrer. Ela queria a imortalidade. Então, ela teve a brilhante ideia de culpar você...

- Espera aí! Está dizendo que minha esposa matou a Margoth?- Alec perguntou, indignado.

- Não!- Ele respondeu, olhando para Alec como se quizesse mata-lo.- Quem matou Jasminne, foi você, Patrick!

Margoth sentiu as mãos cogelarem. Olhou para Alec se perguntando se ele teria coragem. Alec nada disse, estava mudo.

- Você é a fraqueza dela.- Harry não parou de encara-lo, um só segundo.- Você tem o incrível dom de destruí-la.

- Mas, do que está falando?- Ele enfim falou alguma coisa.

- Como ser de luz, Jasminne tem proteção própria... Mas, você consegue sempre desequilibra-la o suficiente para quebrar essa proteção, e então, não fica difícil de Jullianne mata-la.- Ele o encarou, calando-o.- Mas, você a matou naquele dia. A levou para a toca de Jullianne com a desculpa de fugiriam, enquanto que Jullianne, alertava todos. E sabe o que aconteceu?- Harry perguntou, encarando Alec mais de perto.- Ela queimou no lugar da irmã, e você simplesmente foi embora, trocando ela por vinte moedas!- Ele se afastou de Alec, sentindo o medo dele exalar.- Quando todos se foram e só eu fiquei, me ajoelhei nas cinzas dela, e dei a minha vida em troca da vida dela... Esse era o único jeito dela voltar. Fazendo um pacto de sangue.

- E-Então você...?

- Eu me matei! Pra que você pudesse voltar à vida. Em troca, eu virei seu protetor... Mas, nunca consigo chegar a tempo de impedir que ela te conheça...

- M-Mas isso tudo não faz sentido!- Alec berrou, nervoso.- Por que eu deveria acreditar em você? Invadiu a minha casa e deixou a Margoth em estado de choque!

- Aquela é só uma das artemanhas da sua esposa do mal! Eu jamais faria isso... Eu nem poderia aparecer, à menos que a Jasminne me chamasse novamente!

- Mas, o quê?

- Jullianne colocou a casa em chamas, pra que ela perdesse a confiança em mim, e quebrasse a proteção que Jasminne recebia de mim!- Harry respondeu, e parecia estarrecedoramente destruído.- Saber que ela estava em perigo e não poder fazer nada... Me destruiu.

Margoth gelou, ao ouvi-lo. Então ele sabia de tudo?

- A madre do orfanato me disse que eu tinha uma irmã...- Margoth respondeu, olhando para o nada.- Uma irmã gêmea que foi adotada antes de mim.

- Isso é ridículo!- Alec se irritou.- A Jullianne nunca faria isso!

- Você acredita mesmo nisso?- Harry o confrontou.

- Eu não sou um assassino!- Alec respondeu, firme.

- Andou bem perto, não?- Ele o encarou, frio.- Se você voltar a tocar ela de novo, como fez naquela noite, eu, pessoalmente, me encarrego de te arrastar para o inferno!

Alec congelou, dentro de sí. Como ele poderia saber daquilo. Margoth o encarou, confusa. Ele sabia disso também? Como?

- Não sei o que pode acontecer nesta vida, Jullianne nunca havia morrido antes de Jasminne. Suponho que será possível quebrar o ciclo. Enfim...

- Ciclo?- Margoth perguntou, atenta.

- O ciclo repetitivo de reencarnações. Você poderá viver normalmente. Sem mais mortes, uma atrás da outra...

Margoth caminhou até o piano, de um lado para o outro, nervosa.

- Ela pode voltar?- Ela perguntou.

- Eu não sei...- Harry respondeu, cruzando os braços.- Como eu disse, isso nunca tinha acontecido antes.

- Então, ela pode voltar...- Margoth murmurou, e, parando um segundo, teve uma ideia.- Harry, você disse que eu nasci diferente, que tinha poderes. Você acha que ainda posso tê-los?

- Talvez sim...- Harry respondeu, como se compartilhando da mesma ideia de Margoth.- Talvez possa entrar em equilíbrio com seu poder e, assim se proteger.

- Você acha possível?- Ela perguntou. A voz exalava esperança.

- Sim. Acho que há uma grande chance...- Ele respondeu, esperançoso. Mas, arfou, olhando a palma da mão se despersar no ar.- Preciso ir. Não faz bem ficar nesse plano por muito tempo.

- Tudo bem, Harry.- Margoth agradeceu, sorrindo.- E muito obrigada. Por tudo.

- Eu volto, daqui a um tempo...- Ele falou, sorrindo. E voltando-se para Alec, falou.- Me faça o favor, de ao menos, cuidar dela.

- Eu já faço isso!- Alec respondeu.

- Geralmente quando ela se quebra, misteriosamente, não é?- Harry falou, fitando-o. E, olhando para Margoth, continuou.- Eu vou estar sempre te vigiando...

Margoth sorriu.
E dito isso, evaporou no ar, sumindo. Deixou só um cheiro de flor de liz no ar.

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