SURPRESA

96 7 0
                                    


        Ela não falou com ele. Deu-lhe as costas e saiu da saleta cheia de livros, como se ele nem ao menos estivesse alí.

- Ei! Margoth !- Ele chamou ela, ao ver que o deixara sozinho.- Espera!

         Mas, ela continuou andando pelo corredor, a caminho do seu quarto.

- Ei!- Ele correu para sua frente, impedido-a de continuar ignorando-o.- Eu preciso falar com você !

- Alec, minha cabeça está estourando.- Ela respondeu, olhando para ele, aparentando cansaço.- Foi muita coisa para um dia só, então, por favor, sai da minha frente...

- É coisa rápida!- Ele falou, olhando para ela. Quase lhe implorou.

- Tá! O que foi?- Margoth cedeu. Ele não ia deixar ela dormir antes dessa "coisa rápida".

- Escuta... Você... É, você... Gosta do Harry?- Ele demorou para desengatar aquilo.

            Margoth só conseguiu olhar para Alec com a melhor cara de do-que-raios-você-está-falando? -É o quê?!

- Você sabe, sei lá... Se gosta dele! Entende?

- E o que você tem a ver com isso?- Ela o questionou, colocando a mão na cintura, já que não podia cruzar os braços.

- Eu? Nada. Só fiquei curioso.- Alec mentiu, coçando os cabelos ruivos.

- Francamente!- Ela revirou os olhos, se desviando dele.

- O quê? Eu sou fiquei curioso. Sei lá, namorar um fantasma é meio incomum...

- Ser casada com o esposo de uma irmã gêmea do mal, que por acaso, é o motivo das suas inúmeras mortes, também é muito incomum.- Ela respondeu, virando-se para ele. O que era aquilo nos olhos dela? Alec se perguntou.- E no entanto, aqui estamos nós...

          Alec engoliu à seco. Ela estava diferente. Estava...

- E, pra matar sua curiosidade, eu gosto do Harry... Se ainda estou aqui, é por ele! Eu sou muito grata à tudo o que ele fez por mim!- Ela continuou, sem deixar os olhos dele um só segundo.

- Você fala como se eu nunca tivesse feito nada por você...- Alec declarou, setindo perder alguma coisa importante.

- Você fez muito, Alec! Mas, foi pela Jullianne que você viu em mim... Ou por pena... Ou os dois. E tudo o que o Harry fez, foi por amor.- Margoth respondeu, enquanto Alec sentia aquelas palavras como um tapa estalando em seu rosto.

             Sentiu cada fibra de seu ser gritar. Perdeu o chão, debaixo dos pés. Ela gostava dele. Gostava de Harry. Como podia...?

- É! No fim, você tem razão... Eu acho que foi pela Jullianne que eu ví em você...- Ele respondeu, se apoiando no corrimão, no corredor.- E que, na verdade, você não pode ser... Eu me engano achando que posso amar alguém, além dela.

- exato!- Ela respondeu, e Alec a olhou, de soslaio. O que escorria dos olhos dela?- Foi o que eu te disse lá no hospital.- Ela levantou a mão esquerda, mostrando a aliança dourada.- Isso não é real! Nem nós somos...

- Tem razão!- Ele olhou para a sala lá embaixo.- Nós dois não existimos...

- Bom, se você já acabou, eu posso dormir?- Margoth perguntou, olhando para o chão.

          Ele não respondeu. Apenas colocou as mãos no bolso,e , impetuoso, caminhou para o seu quarto. Margoth sentiu os olhos arderem, mas, não ousou chorar. Apenas, entrou no quarto, e fechou a porta atrás de sí.

*    *    *    *    *    *    *     *    *     *

          Dormir nunca foi tão complicado, e nunca foi tão imprescindível descer na cozinha e tomar água. Alec desceu as escadas, remoendo as palavras de Margoth. Nunca havia rolado na cama tanto quanto aquela noite. Desceu na cozinha, abriu a geladeira, pegou a água, despejou no copo, e tomou Margoth... Margoth?!

Acorde!Onde histórias criam vida. Descubra agora