SOMBRAS

136 9 0
                                    


            Fazer compras nunca foi tão divertido. Ela parecia uma criança e o arrastava pelo braço para cada novidade que encontrava. Cada vitrine,cada led que lhe chamava a atenção. Comeram x-burguer de bacon e ela o puxou para um pula-pula no meio do shopping. Nunca sorriu tanto na vida.

        Gastou tanta energia que ao chegarem em casa, Margoth dormia no banco de trás do carro. Alec não ousou acorda-la. Chamou Adrian.

-Sim, Sr Watter!- Ele falou com sua típica cara inexpressiva que já nem assustava mais Alec.- O que deseja?

-Fale baixo Adrian,ela está dormindo!- Alec o repreendeu,sussurrando.- Pegue as sacolas no porta-malas.

-Sim Senhor...- Ele respondeu,caminhando elegantemente até o porta-malas.

       Alec,por sua vez, tirou Margoth com todo o cuidado do carro para não acorda-la, enquanto Adrian seguia para o casarão carregado habilmente todas as sacolas.

         Carrega-la não foi tão complicado. Dormia tão profundamente que mais parecia nunca ter conseguido dormir tanto antes. Ele a levou para o quarto e depositou na cama com a maior calma do mundo. Tirou seus sapatos com cuidado. Tentou tirar o casaquinho,mas,ela se remecheu na cama,virando de bruços. Alec cerrou os dentes,pensando tê-la acordado,mas,suspirou de alívio ao ver que ela ainda dormia profundamente.

        Puxou o casaquinho com mais cuidado,e,ao tira-lo por completo,viu algo aterrorizante. Quase não acreditou. Haviam dezenas de cicatrizes que tomavam todas a extensão das costas da garota. Umas grossas,outras finas e brancas,outras ainda em estado de cicatrização... Não pareciam ser de alguma queda ou acidente. Pareciam intencionais, pois, seguiam quase o mesmo padrão. Alec levou as mãos à boca com certa incredulidade. Quem podia ter feito aquilo com uma pessoa tão frágil?

         Seus olhos foram de encontro a ela,imediatamente.
         Ainda queria saber o que aconteceu com ela?
        Ainda queria conhecer sua história?
       Já nem sabia mais.
   
      O que fizeram com você.
  
  Pensou olhando fixamente aquelas cicatrizes. Sentia algo crescer dentro de sí. Algo ruim. Um sentimento de revolta. De ódio. Uma furia...
   
      Por fim,depois de horas remoendo possíveis passados para Margoth, Alec a cobriu com corbertores da cama e sentou, com um pesar esquisito no coração,ele deixou o quarto sem fazer ruídos, do mesmo jeito que entrou.

   

        Ela abriu os olhos,lentamente. A respiração ofegava. Fazia frio,tanto que as costelas doiam. Olhou ao redor e não viu nada além de escuridão. Tentou mexer as mãos,mas,estas estavam presas. Se desesperou ao sentir o ferro frio rasgar sua pele. Não! Não podia estar alí de novo. Não podia ser real! Ela queria fugir dalí,queria...
     Sua mente parou de girar quando a porta rangeu se abrindo e a silhueta gorda deslizou pelos degraus mau-feitos. O cheiro de álcool chegou ao seu nariz e medo retornou com tudo. Aquela gargalhada nefasta se fez audível, enquanto seu olhos se enchiam de lágrimas de pavor.

-AAAAAAAAAAAAAAAAH!

        Ele acordou com uma sequência de  gritos assustadores que vinham do quarto ao lado. Saltou da cama,asustado e nem mesmo vestiu o hobbie. Correu pelo corredor e invadiu o quarto de Margoth.

-Margoth?!- Os olhos procuravam por Ela,preocupado com tantos gritos.

           E a encontrou,detrás da cama,com a cabeça entre as pernas,os cabelos negros caindo pelos ombros escondendo o rosto. Ele se agachou a frente dela e a chacoalhou levemente pelos ombros.- Margoth! O que aconteceu?

        Ela levantou os olhos e quando o encontrou se refestelou o mais rápido que pôde. Estava descontrolada. A respiração arfava...

-Calma! Sou eu!- Alec respondeu,tentando acalma-la.

        Sua respiração se acalmou,aos poucos,assim que o reconheceu. Limpou o rosto húmido e tentou acalmar a voz.

-D-Desculpa...Eu não quiz te acordar...- Parou num soluço que tomou sua garganta.- Desculpa...

- O que aconteceu? Eu ouvi gritos...

-Não foi...Não foi nada!- Respondeu de imediato.- Só um pesadelo...

-Bem ruim,pelo visto...- Alec acrescentou,olhando para a cama.
          Os travesseiros todos espalhados pelo chão, colchas e lençóis em completa bagunça. Parecia que tinha dançado zumba.

         Ela se pôs de pé,com alguma dificuldade, e caminhou até a cama.

-Quer que eu fique aqui?-Alec perguntou,pegando os travesseiros do chão.

        Margoth o encarou,como quem pergunta Tá pensando o quê?. E,puxando o travesseiros de volta para si, respondeu:

-Não precisa... Foram só pesadelos.

    Alec olhou para os lados,um tanto constrangido.

-Então... Qualquer coisa me chame...- Falou dando-lhe as costas e caminhando até a porta.

-Alec...- Ela o chamou.
    Era a primeira vez que o chamava pelo nome. A voz era tão calma e se parecia tanto.

    Ele se virou para ela,e quase pode ver Jullianne,falando com ele.

-Obrigada...

    Alec não havia entendido. Qual era o motivo da gratidão?

-Por quê está agradecendo?

-Por se importar!- Ela respondeu,fixando os penetrantes olhos azuis nos olhos dele.- É que...- Desviou os olhos para a colcha da cama.- Ninguém nunca fez isso... Então... Obrigada...

    Alec a observou.
    Ela não precisava de jóias nem presentes para ser grata como as outras eram. Ela só precisava de um segundo de atenção... Ela não era tão parecida com Jullianne agora.

-O que foi?- Ela perguntou, tirando Alec do seu breve desvaneio.-Por quê está me olhando assim?

-Ah...-Ele respondeu,desperto.-Não é nada...

    Ela o fitou,confusa.
   
-Se precisar de mim,estou no quarto ao lado.

Acorde!Onde histórias criam vida. Descubra agora