CASAMENTO

101 8 0
                                    

 
              Ele olhava para ela, deitada sobre a cama, dormindo como uma pedra. Não a culpava, também estava morto. Nunca imaginou passar por um dia tão longo quanto aquele. Mas, não era isso que o fazia olhar para Margoth, incessantemente. Era o fato de sentir que estava perdendo-a entre os dedos. Os últimos fatos a fez se afastar dele. Aliás, não foram os fatos, e sim ele. Precisava recuperar a confiança dela, se não, a perderia, para sempre. Logo agora que ele tinha certeza que era ela por quem sempre esperou, parecia ser tarde demais para eles. Ele precisava fazer alguma coisa, algo que mostrasse a ela o quanto era importante para ele.

- É isso!

           

           Margoth acordou sentindo o corpo dolorir e a cabeça latejar. Olhou para o quatro, sem a menor lembrança de ter caminhado para alí. Levantou da cama, coçando os olhos azuis. Desceu as escadas, sem muito ânimo.
              Onde estava Alec? Se perguntou, assim que não o viu lendo algum livro na sala. Entristeceu-se ao imaginar onde ele poderia estar. Depois ficou com raiva de sí mesma por ficar triste com aquilo. Não tinha tempo para se entristecer, e mesmo que tivesse, já estava decidida, não ficaria... Aliás, não sentiria mais nada por ele. Havia feito uma escolha óbvia e objetiva. E não escolheu por ela, então... Por ela escolheria ele? Por que se importaria com ele? Por que o amaria? Ah! Por que você ama esse idiota, Margoth! É por isso que você vai continuar se importando e escolhendo ele... Ela bufou, com raiva de sua nota mental. Cruzou os braços e se jogou na poltrona da sala, de frente para a lareira apagada. Apertou os olhos, notando um par de meias penduradas nela. Estavam bordados dois nomes. alec. Margoth. Uma delas estava cheia com alguma coisa. Era a meia de Margoth. Ela estava lembrando agora, ele devia ter esquecido, já que naquela noite, ela dera vida ao Jardim. Caminhou até as meias, meio fascinada. Ele tinha pensado em tudo mesmo.
               Margoth pegou o presente de dentro da sua meia, e notou, com tristeza, que a dele estava fazia. Abriu a pequena caixinha dourada e encontrou um par de pulseiras de pérolas, com seis fileiras em cada uma. Eram bem unidas e se amarravam em um laço de cetim branco. Eram lindas, ela notou, pegando-as na mão. Ela não tinha nada para dar pra ele. O que daria? Precisava pensar em alguma coisa.

- M-Margoth?

              Ela se assustou ao ouvi-lo. Saltou da poltrona, como se pega roubando algo. Alec enfiou alguma coisa no bolso do casaco, imediatamente, assim que a viu.

- O que está fazendo aqui? Estava dormindo quando eu saí.- Ele falou, exasperante.

- Estava com sede, desci pra tomar água e... E acabei ficando por aqui.- Ela respondeu, sentando de volta na poltrona.- Achei as meias na lareira.

- Ah, é!- Ele sorriu pelo esquecimento indevido, caminhando até ela.- Ela para a gente abrir na manhã de Natal... Acabei esquecendo!

- Aconteceram muitas coisas mesmo... Até eu esqueci...- Margoth respondeu, olhando o presente lindo que ganhara do Alec Noel.

- Vejo que já abriu o seu.- Alec deduziu, sorrindo, enquanto ela levantava o rosto rubro de vergonha para vê-lo.

- Eu... E-Eu não sabia que era para esperar...

- Mas, não era mesmo!- Alec respondeu a pergunta dela, ainda sorrindo.

              Ele pegou uma das pulseiras e, em seguida, pegou umas das mãos de Margoth. Tirou a atadura do pulso dela, que se refestelou um pouco.

- Calma!- Ele pediu, olhando para ela.- Eu não vou te machucar.

            Margoth deixou que ele continuasse. Ela não tinha medo dele a machucar. Tinha medo de machucar a si mesma. Mas, o deixou prosseguir, mesmo assim.
             Alec terminou de tirar as ataduras, e encontrou aquelas cicatrizes. Estavam muito bem cicatrizadas, mas, para Margoth ainda pulsavam. Ele tocou-às, levemente, com o polegar. Ela estremeceu, e não sabia ao certo, se era medo.

Acorde!Onde histórias criam vida. Descubra agora