CORTEJO

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              Demorou um pouco,mas, logo o portal deu passagem para o quarto de Alec. Margoth foi a primeira a saltar do portal, exaurida. Mesmo assim, estava alerta e nervosa.

- Nós temos que ir para lá,Alec! Temos que ir agora!- Ela falou, um tanto desnorteada, limpando o rosto úmido.

- Primeiro se acalma, toma um banho... Nós ainda temos tempo.- Alec pediu, tentando acalma-la.

             Ela desabou na poltrona, enfiando o rosto entre as mãos. Recomeçou a chorar. Ainda doia tanto.- No fim, ele tinha razão... Eu não nasci pra ser boa...

- Ei! O que está dizendo?- Ele se agachou à frente dela, olhando-a.- Quem te disse isso?

- Olha o que eu fiz? Eu matei ela! Eu matei minha própria irmã!- Ela respondeu, fitando Alec. Quanto arrependimento escorria junto com aquelas lágrimas.- Eu devia ter aceitado... Ter ficado no lugar dela.

- E por que? Depois de tudo que o Harry disse, e tudo o que você viu, por que ficaria no lugar dela?- Alec a questionou, confuso.

              Ela o encarou. Pareceu incomodada.- Eu ficaria no lugar dela, por que ela era minha irmã e eu a amo!- Margoth respondeu, levantando da poltrona.- Mas, eu não espero que você entenda...

- Margoth...

- Eu vou tomar banho e a gente vai para Henkel, tudo bem?- Ela falou, pegando uma toalha do braço de um das poltronas.

- Tudo bem...- Ele falou, suspirante, e saiu do quarto.

             Salém não era distante de Holiness, e Henkel, por sua vez, não era distante de Salém, então não demoraram a encontra-la. Alec se surpreendeu em como ela se lembrava de todo o percurso, perfeitamente. Lembrou até da floresta que escondia a entrada da cidade.

- É bem alí, no monte.- Ela apontou, para um pequeno casebre no alto de uma montanha.

               Margoth desceu do carro e correu para o casebre, deixando Alec estacionando o carro, numa ruela arruinada. Harry já estava lá. Havia um buraco aberto no chão, e o corpo de sua irmã, enrolada em um tecido branco. Era fim de tarde, e a neve recuava para que o pôr-do-sol inundasse a grama verde e úmida de luz alaranjada.

- Obrigada por trazê-la, Harry...- Ela agradeceu.

- Alec, me ajude...- Harry pediu, segurando o corpo enrolado.

               Alec fez que sim com a cabeça, e, em silêncio, o ajudou a depositar o corpo na cova. Em seguida, começaram a despejar terra sobre a cova,e em alguns minutos, tinham-na enterrado.
               Harry e Alec se afastaram, dando espaço à Margoth.

- Vem Harry...- Alec o chamou para que se retirassem.- Ela precisa ficar um pouco sozinha...

             Era a primeira vez que Harry concordava com o irmão. Desceram o monte, deixando-a sozinha.

              Margoth se ajoelhou aos pés da cova, tocando a terra com a ponta dos dedos. Tirou do bolso do casaco escuro uma pequena e delicada flor de cerejeira, que trouxera do jardim. O depositou sob o túmulo improvisado.

- Eu trouxe pra você...- Já sentia a voz travar na garganta.- Soube que amava o jardim, então...- As lágrimas já fugiam de seus olhos, e caiam na terra.- Eu... E-Eu prometo, eu sempre vou mante-lo belo pra você.- Caiu ao túmulo, sem forças para manter-se de pé.- Por favor, me perdoa... Me perdoa por tudo...- Margoth pediu e levantando o rosto, limpou a terra das bochechas.- Eu prometo, seu sacrifício não será em vão!

             Ela ergueu-se do chão, limpando a roupa suja de terra. Cambaleou alguns passos para trás, para longe do túmulo, e abruptamente parou.- Jullianne... Eu amo você, irmã! Onde estiver, eu espero que escute...

              Desceu o morro, ao encontro de Harry e Alec.

- Mas, o que é isso?- Alec se apressou à encontra-la.- Está toda suja de terra.

              Ele limpou o rosto de Margoth, com o peito da mão.

- Desculpa, eu... Eu tropecei...- Mentiu, mas, estava longe o suficiente para ele notar que mentia.- Podemos ir para casa, agora?

- Claro que podemos.- Alec respondeu, findando a sessão de limpeza.

- Jasminne.- Harry a chamou.

- Sim?

            Ele remexeu no paletó, e tirou de lá um medalhão dourado, com uma pequena pedra azul no centro do pingente.

- Estava na mão dela...- Falou, entregando o medalhão à Margoth.- Talvez quisesse que ficasse com você.

                 Ela o pegou, e agradeceu. Não lembrava quando vira, mas, lhe era familiar.

- Obrigada Harry...- Limpou o rosto e levantou os olhos para vê-lo.- Obrigada por tudo.

- Eu... Eu preciso ir agora.- Harry falou, desviando os olhos azuis do olhar fixo de Margoth.

- Espera, Harry...- Ela o chamou, e caminhou até ele. Sem mais delongas, o abraçou. Nem o próprio Harry esperava por aquilo. Seus olhos encontraram o olhar fixo de Alec, que, com seriedade, abandonou a cena.- Você não vai embora pra sempre, vai? Eu ainda preciso muito de você...

             Alec caminhou para o carro, levemente incomodado.

- Você não quer mais ficar aqui?- Margoth perguntou, apertando-o contra si, como se não quisesse deixa-lo ir.- Harry, você não pode ir, nós não derrotamos ele ainda...

             Alec se remexeu dentro do carro, queimando dentro de si. Ela precisava ficar tão perto dele assim?

- Harry, responde!- Ela exigiu, soltando-se dele.

             Seus olhos se ardiam em lágrimas, mais uma vez. O rosto ficou vermelho, como um tomate. As mãos frias de Harry voaram até o rosto de Margoth, como se compreendesse tudo. Limpou o rosto dela com tanta suavidade que a fez chorar mais.

- Nunca quiz ser o motivo das suas lágrimas...- Falou calmamente, limpando o rosto dela, uma segunda vez.

- Harry...

- Eu não vou embora, Jasminne...- Respondeu, repousando a mão no rosto dela, de vez.- Eu nunca poderia...

               Margoth precisava dele. Não podia dizer que não. Ele era uma parte importante da sua vida, agora. Não podia perde-lo.

- Você promete?- Ela perguntou.

- Eu prometo...- Harry respondeu, se afastando gradativamente, enquanto seu corpo se desfazia e sumia no ar, até que ele se foi, evaporando dalí, como se nunca tivesse existido.

- Tchau Harry...

            Ela se despediu.
            Se deixou levar para o carro, mas, não foi para o banco da frente. Preferiu o carona.

- Pensei que iria ficar agarrada no Harry para sempre...- Alec desdenhou, irritado, ligando o carro.

- E se fosse esse o caso, o que você teria que ver com isso?- Ela perguntou, olhando ele pelo retrovisor.

- Ah, nada! Em quê que isso me interessaria?- Alec rebateu, arrancando da cidadela.

- Exato! Se não te interessa, não tenha o cinismo de fingir estar incomodado.- Margoth respondeu, fria, e desviando o olhar para a cidade arruinada, pareceu cair em choro contido de novo.- Alec, dá pra brigar amanhã, por favor?

            Alec suspirou. Ela estava derrotada. Desolada. Não era hora para aquilo.

- Desculpe...


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