VISITA

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        A pedido do Dr Carry, Margoth passaria mais aquela noite alí, só por precaução. Alec insistiu em ficar, mas, Margoth pediu que ele fosse para casa. Precisava de descanço, foi a desculpa que ela achou mais convincente, mas, ele havia entendido. E, depois de uns minutos relutando, resolveu que era melhor ir mesmo para casa.

   
        Ela abriu os olhos. Estava num jardim, florido, cheio de vida. Ela conhecia aquele lugar, não? Virou-se para trás e viu o palacete de Alec. Aquele era o jardim morto da casa dele, mas, agora, estava vivíssimo e belo. Ela apertou os olhos e o viu, um pouco mais a frente. Cuidava de algumas plantas, e parecia compenetrado. Correu até ele, sorridente. Ela iria dizer que sim. Que ela também sentia o que ele sentia. "Alec!". Tentou chama-lo, mas, não ouviu o som de sua voz. "Alec, eu...". Tentou mais uma vez, sem qualquer traço de voz. Tentou grita-lo e balançar os braços para chamar sua atenção, mas, ele além de não lhe ouvir parecia não lhe ver, também.

- Não tente chama-lo...- Uma voz a advertiu.

         Ela virou para trás e a viu. Tamanho foi seu susto. Parecia estar olhando para um espelho. Cabelos negros, pele clara, corpo esguio... Só os olhos eram diferentes, negros como a escuridão. Ela lhe sorriu, sombria.

- Ela não vai te ouvir...- Ela desdenhou.- Por quê ele ama a Jullianne... Ou melhor, ele me ama!

         Ela ficou encarando aquela projeção sua. Estava com medo. Por que?

- Você acha que aquilo que ele te disse é real?- Gargalhou sua cópia, divertida.- Ele só está confuso. Quer alguém que me substitua, e você é perfeita...- Rodeou Margoth, olhando-a de cima à baixo.- Mas, quando ele perceber que você não sou eu, vai te deixar...

         Sentiu os olhos arderem. Se sentiu envergonhada.

- De você ele tem pena... A pobre garotinha violentada, que triste...

- Cala a boca!- Margoth berrou.- Você não me conhece!

- Eu conheço ele!- Ela apontou para Alec, e sorriu.- E, quando ele se cansar de você, vai te deixar... Disso eu não tenho dúvidas!

        Margoth engoliu à seco. As lágrimas caiam aos olhos, enquanto sua fotocópia sorria, e gargalhava dela.

    

           Ela despertou, ofegante. Já era dia? O rosto estava úmido. Estava chorando. Limpou o rosto.

         Depois do café, oferecido pelo hospital, ela esperou por ele. Afinal, já era hora de voltar. Ela iria dizer. Diria que sentia o mesmo. Que aquilo não era ilusão... Mas, no fim, Adrian foi busca-la. Ele explicou que o Senhor Watter teve que ir para a empresa, e outras coisas mais importantes que ela, agora, e Margoth sorriu, fingindo não se importar muito com aquilo. Quando chegou em casa, só deu tempo de desabar na cama e acariciar o corvo, que a encarava da janela.

- Oi, passarinho...- Ela o chamou, e ele voou até a cabeceira de sua cama. - Você está bem?

        O pássaro gralhou, balançando as asas. Margoth sorriu.

- Que bom... Eu estou meio quebrada, ainda!- Ela esticou o braço engessado para que o pássaro visse.

         Ele voou até seu colo, e ela lhe deu carinho. Depois de um tempo, ela mesma dormiu, e não sentiu quando o pássaro lhe roubou dois fios de cabelo, e se foi pela janela à fora.

       Quando acordou, e olhou pela janela, viu que já era tarde. Já estava escuro e frio. Ela levantou para fechar as janelas do quarto, mas, abruptamente parou, quando o viu, caminhando na neve. O reconheceu de imediato.

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