FORA DO NORMAL

131 6 0
                                    


Margoth acordou de um apagão. Nem sonho nem pesadelo,só uma escuridão que a arrastou para a inconsciência. Ao abrir os olhos encontrou o teto de madeira. Que horas eram? Já havia amanhecido? Ainda estava no mesmo lugar?

Ergueu a cabeça rapidamente. Estava no quarto. Viu uma fresta de luz atravessar a cortina. Já era dia.

Jasminne... Aonde pensas que vai?. Aquela voz lhe perguntou. Margoth se arrepiou. O mesmo calafrio mórbido lhe subiu a espinha. Era ele?! Não podia ser! Depois de tanto tempo?

-Quem é?- Perguntou nervosa. Era uma pergunta boba. Ela sabia quem era. Bom,mais ou menos.

Não faça perguntas bobas, Jasminne...

-Meu nome é Margoth!- Ela ousou corrigi-lo.

Eu lhe avisei que fugir de mim iria lhe machucar... A voz falou,sem emoção.

- O que você quer?- Margoth berrou,sem controle de sí mesma.

Saia desta casa... A voz exigiu,agora irritada. Agora!

-Não! Você me tirou tudo! O que mais você quer de mim?!

Você sabe do que eu sou capaz! Não tente me contrariar. Se não,seu precioso defensor vai pagar pela sua escolha!

Margoth ouviu um barulho de sucção,e um vento forte invadiu o quarto, levando tudo ao chão. Ela se viu atordoada. Ele iria morrer. Ela não podia ficar alí. Não podia.

* * * * * * * * * * *

Alec não estava naquele almoço. A noite passada não saía de sua cabeça. Aqueles homens de paletós falavam,mas,ele mal os ouviam. Haviam outras preocupações,agora.

Aquele almoço logo terminou e Alec pôde dar uma desculpa qualquer para voltar para casa. Chovia e nevava e Alec sempre considerou aquilo mal sinal. Acelerou mais a picup. Sentia algo apertar no peito. Estava preocupado,e só conseguia pensar em uma coisa... Margoth!

Ele entrou chegou em casa e a encontrou no meio da chuva,toda encharcada.
Ao ver o farol alto do carro,ela se assustou,parando onde estava.

-Margoth?- Ele chamou por ela,saltando do carro.

Quando o viu,a garota saiu correndo,no meio da neve.

-Ei! Margoth!- Alec a seguiu,corendo e chamando. Estava fugindo dele? Por que estava fugindo dele?- Por que está fugindo? Margoth! Para de correr!

Ela tropeçou numa pedra disfarçada de neve,e foi ao chão,de uma vez. Tentou se erguer e recuperar o pique,mas ele a alcançou,segurando-a pelos braços.

- O que aconteceu? O que você está fazendo aqui? Nessa chuva?- Ele perguntou,confuso e preocupado.

- Eu tenho que ir embora! Você não entende!- Ela respondeu. As roupas molhavam, os cabelos encharcavam,ela mal podia vê-lo.

-Então explica pra mim!- Alec pediu.

- Eu não posso!- Margoth gritou.- Você tem que me deixar ir embora!

-Eu não posso deixar você ir embora,ficar por aí,sozinha! Não!- Ele respondeu.- Entra! Essa chuva não te faz bem!

- Não! Eu não posso voltar! Ele vai te matar!- Margoth gritou,mas,abruptamente parou tapando a boca.

-Ele? Ele quem?- Alec perguntou,agora extremamente instigado.

- Não posso dizer! Alec me deixa ir embora! Por favor!

-Não! Você não vai sair por aí sozinha!- Alec respondeu.- Eu prometi que cuidaria de você...

Margoth olhou para ele. Não sabia onde estava se metendo,ele ia morrer por culpa dela. Por que não conseguia chutar ele e sair correndo? Por que? O que tinha nele que a fazia perder todas as estribeiras e o senso?

- Margoth... Por favor,entra! Está frio aqui!- Ele pediu. Ele não sairia daquela chuva se não fosse com ela.

- Tá! Eu... Eu vou!

-Vem...

Depois de tirar aquelas roupas frias e sentar perto da lareira,ouviu os passos dele,se aproximar.

-Toma!- Ele estendeu a caneca para ela. Margoth pegou a caneca,e averiguou. -É chocolate quente... É bom para o frio.

- Obrigada...- Margoth agradeceu, tomando o líquido.

- Agora me explica por que estava fugindo.- Alec quase exigiu,olhando para a caneca de chocolate quente nas mãos.

-Eu não posso ficar aqui, Alec...- Margoth respodeu,olhando para a lareira,para o fogo que ardia.

-E por que não pode?- Alec perguntou. Não havia tocado no chocolate quente.

-É complicado...- Margoth respondeu. Parecia presa dentro da própria garganta.

-Eu vou entender...- Ele falou,tentando se convencer,mas,já nem sabia se entenderia mesmo.

-Não,Alec! Você não vai...- Ela falou. A voz era rasa e distante,triste,sofrida...-Nem eu entendo...- Ela sussurrou.

-Se tentasse me contar... Eu sei que não quer me falar do que passou,mas...

- Se eu contar,vai me jogar fora daqui!- Margoth respondeu, sorrindo melancólicamente.

Alec olhou para ela. Sorria,enquanto que os olhos derramavam lágrimas que,mais pareciam pequenas labaredas nas quais o fogo da lareira se refletia.

-Bom...- Ele falou olhando para a lareira quente e aconchegante.-Que tal se a gente começar de novo?

Ela olhou para ele,confusa.

- Oi? Meu nome é Alexadder Watter. Como você se chama?

Margoth sorriu. Ele estava mesmo fazendo aquilo?

-Margoth!

- Vem sempre aqui?

-Ultimamente... Graças à um atropelo!

-Nossa! Hoje em dia não se tem mais segurança!

Alec sorriu. Margoth o seguiu. Por um minuto havia esquecido tudo o que aconteceu naqueles últimos dias.

- Eu não sei porque você faz isso.- Ela observou,tomando um gole do chocolate quente,e ,nossa,tava bom.

- Isso o quê?

- Você estaria livre de um problema se eu estivesse fugido!- Ela respondeu.

- Você não é um problema,Margoth...- Ele falou, olhando para a caneca de chocolate quente.- Você me faz querer ser uma boa pessoa...

- E você não é uma boa pessoa?- Margoth perguntou,olhando para ele.

- As vezes...

- Eu devia ter medo de você?- Ela o questionou.

Alec sorriu. Margoth congelou.

- Você é única pessoa que me fez sorrir ultimamente... Então,eu acho que não!

- Alec, porquê não deixou eles me levarem pro orfanato?- Ela perguntou,olhando para ele.

Alec encontrou os olhos azuis dela,reluzindo com o reflexo da lareira. Como eles eram lindos... E chamativos. Estava preso à eles. Estava preso à aquela boca rosada. Sentia quase uma vontade louca de beija-la. Como ele queria beija-la...

Margoth podia vê-lo se aproximar,mas,não entendia. Não sentia medo. Sentia algo próximo à fascinação. Aqueles olhos verdes, tão vivos... Seu peito estava disparado. As mãos frias. O estômago esfriava. Que sentimento era aquele? Nem se compreendia. Por que não o repudiava? Por que...?

-TRIIM,TRIIIM-

Tamanho foi o susto. Alec saltou ao ouvir o telefone tocar no bolso da calça jeans.

-Alô?!O quê?- Alec respondeu ao telefone,preocupado.- Mas,agora? Tah! Tudo bem!

Margoth olhou para ele,confusa e levemente aliviada.

- Eu preciso ir na Action agora...- Alec falou,e parecia inconformado.- Eu volto já,tá?

Ela sorriu e a contragosto,falou:

- Tá!

E ele se foi,no meio da noite. E ela ficou alí,tomando chocolate quente.



Acorde!Onde histórias criam vida. Descubra agora