Capítulo 4

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O TRÂNSITO ESTAVA INFERNAL. A cidade estava na rua e seus moradores discutiam no caos do engarrafamento enquanto se encaminhavam ao trabalho.

Ela parou na banca e comprou um jornal. Tinha como mania ler enquanto se locomovia pela cidade, mas esquecera seu livro em casa. Também não se sentia à vontade para continuar relendo o seu exemplar dos Cem Sonetos de Amor, porque sabia que a sua vida estava longe da vivida pela Matilde e que nunca encontraria alguém tão devotado e que lhe escrevesse versos tão belos quanto o Neruda fizera.

Com o periódico nas mãos, desceu as escadas do metrô com toda a calma do mundo. Pessoas, ao fazer o mesmo na pressa, esbarravam nela. Mas ela não se importava, estava desligada da realidade. Enfrentou a fila, comprou dois bilhetes, passou a catraca, desceu mais escadas até chegar à plataforma, caminhou até a sua extremidade, sentou num banco e esperou.

Minutos depois, chegou o trem. Ela embarcou e, em meio à multidão matinal do metrô, e tentou ler o jornal. Na primeira página, tragédias e mais tragédias. Aquilo fez com que revirasse os olhos e, claro, fechasse o jornal. A vida dela já estava trágica em demasia...

Olhou em volta. Ao redor haviam casais de namorados trocando juras as juras de amor matinais. Preferiu voltar ao jornal. Antes tragédias, do que melação a esta altura do campeonato. Desceu duas estações antes da mais próxima do trabalho. Precisava de respirar antes de se enfurnar em um escritório. Foi caminhando calmamente. Já não se importava mais se ia chegar atrasada ou não, se iria levar bronca do chefe ou não. Queria sentir o vento no rosto.

Parou em frente ao prédio onde é o seu local de trabalho. Respirou fundo, sabia que teria um longo dia pela frente.


ELE ENTROU NO CARRO E LIGOU O RÁDIO. As músicas tocavam animadamente, entretanto ele já não as ouvia. Tentava traçar em sua cabeça um plano. O plano da reconquista. Sim, ele tinha apenas um objetivo: reconquistá-la. Depois de uma noite sem dormir, ele decidiu que não perderia o amor da sua vida. Virou a esquina sorrindo. Imaginava a reconciliação: ele de braços abertos, ela correndo em sua direção. Ele beijando-a... Só de imaginar a cena, já sentia o gosto dela em sua boca. Depois, viu a cena mais romântica de todas: ele a pedia em casamento, ela abria um sorriso e dizia "sim" e eles se casavam, tinham uma lua-de-mel perfeita. Depois de um tempo felizes, filhos...

Assustou-se com o som da buzina do carro que vinha atrás do seu. O farol estava verde e ele estava ali parado, sonhando com uma comédia romântica tipicamente hollywoodiana. Os motoristas dos carros ao redor, buzinavam estressados. Ele andou alguns metros e parou o carro. Tinha que pensar. Estava assustado. Nunca, em toda a sua vida, tinha pensado no amor de uma forma romântica. O que ela fez comigo e o que eu fui capaz de fazer com ela?, pensava, enquanto o seu coração estava acelerado com medo de havê-la perdido. Decidiu que falaria com ela de novo. Prepararia uma surpresa, sim, uma surpresa! Flores, massa, vinho, música calma e velas... Mulheres gostam disso, concluiu. Prepararia um jantar à luz de velas como aquele do pedido de casamento da Monica e do Chandler, em Friends, que ela tanto ama – ela sempre chora quando assiste a este episódio, será incrível fazê-la vivenciá-lo. Sorriu mais uma vez, deu partida no carro e foi trabalhar.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora