Capítulo 1

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                       SENTARAM-SE FRENTE A FRENTE. Olharam dentro dos olhos um do outro. Não disseram nada. Absolutamente nada. O silêncio era tão denso que chegava a ser ensurdecedor. O ar estava pesado. Ambos se sentiam como se estivessem acabado de correr uma maratona. Ele continuou fitando-a: mesmo em meio a tanta dor, era bela, com seus crespos fios de cabelos castanhos-escuros bagunçados em meio à raiva que sentia. Ela, por sua vez, desviou o olhar magoado e passou a observar o céu cinzento da chuva que estava por vir. Não queria encarar aqueles olhos que – depois de muita resistência – despiam-se perante ao confronto e contavam a temível verdade.

                       Ele se levantou e tentou se aproximar desejando pegar na mão dela. Ela o ignorou e resolveu ir até a janela, pois precisava respirar. Naquele instante, tudo o que mais queria era que aquilo que viveram juntos nunca tivesse existido, que fosse apenas um sonho ruim. Ao contrário dele, que ansiava por continuar o relacionamento e, por sua vez, tentou uma nova aproximação em formato de abraço. Um toque, uma união. Ele sabia que isso era necessário para quebrar o gelo e, de alguma maneira, abrir caminho para a reaproximação.

                     Ela, que o repudiava mais e mais a cada avanço do relógio, percebeu que não o desejava mais, que o encanto havia se quebrado. Era óbvio que isso aconteceria – que fim não quebra o encanto? – e a postura que ele tinha perante a situação toda despertava nela o nojo a cada tentativa dele de tocá-la.

                     Pela terceira vez, ele tentou abraçá-la. Já farta disto, resolveu tomar uma atitude fincando o seu olhar naquele par de olhos verdes que um dia tanto amou. Sentiu vontade de chorar, ainda que não soubesse se as lágrimas seriam de paixão ou de ódio, mas respirou fundo tentando desesperadamente se conter...

                   – Você pode não acreditar, mas EU TE AMO! – a voz dele ecoou em meio ao silêncio.

                   Ela deu de ombros e sua resposta surgiu fria por entre os lábios:

                   – O que importa?! O que está feito, está feito. Não te quero mais.

                   Foi neste momento em que ele entendeu que havia perdido esta batalha e, como bom estrategista que sempre fora, resolvera sair daquele quarto de maneira resignada. Ele a deixou ali parada, mirando o céu com os olhos marejados e o coração partido.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora