ELES SUBIRAM AS ESCADAS para o terceiro andar sorrindo. Há tempos não se estavam tão radiantes. Quando estavam prestes a entrarem na galeria, entretanto, Mônica parou e disse:
– Antes de a gente entrar, só mais uma coisa...
– Sim – André sorriu.
– Obrigada.
– Mas por quê?! – Ele passava as mãos carinhosamente nos cabelos dela.
– Por que você apareceu no momento que eu mais precisava. – Agora era a vez de Mônica sorrir.
– E você tirou a minha vida do preto e branco... Pode parecer cedo para dizer isso, mas eu acho que te amo, sabia?!
André a beijou ao perceber a emoção nos olhos dela.
– Eu também acho que te amo – eles riram em meio aos seus achismos.
Assim que eles colocaram os pés no recinto, os flashes dispararam em direção ao casal. André, que até então estava de mãos dadas com a namorada, abraçou-a. Eles sorriam ao mesmo tempo em que posavam para as fotos. Era nítido que eles estavam em êxtase.
Quando os flashes cessaram, as perguntas começaram. Mônica, ao perceber a presença de Janaína, segurou-se em André com mais força. Era como se ela precisasse ser protegida por seu mais novo amor e como se, ao mesmo tempo, ela quisesse protegê-lo daquela que já lhe causara tanto sofrimento. Ao mesmo tempo, no entanto, Mônica queria enfrentá-la. Era preciso. Por isso, colocou nos lábios o seu melhor sorriso, quando ouviu a jornalista questionar:
– Teria algum sentimento, de alguma foto, que você diria que mudou a sua vida?
André sorriu. Puxando Mônica pelas mãos, indicou que os seguissem. Neste momento, Mônica viu Jorge, por isso, ficou séria. Ele olhou para ela derrotado. Era muito para um dia só: primeiro, a última vez que se viram na casa dela; depois, a traição de Janaína e agora o namoro dos dois. Mal sabia ele o que viria na resposta do fotógrafo:
– Nunca pensei que um dia diria isso, mas essa foto... Essa foto em especial mudou a minha vida. Eu estava passeando no parque, fazendo algumas fotos... Nada profissional... Quando vi esta cena. Vi as lágrimas, a dor, a angústia... Foi com essa foto que eu entendi o quanto cada ser humano é responsável pelo outro. Foi vendo toda esta amargura que eu passei a valorizar cada gesto, por mínimo que ele fosse. Foi com essa foto também, que eu... – André parou e olhou para Mônica. Ambos tinham os olhos marejados. Ele respirou fundo, abriu um sorriso e continuou: – Foi com essa foto que eu consegui não apenas a melhor foto da minha exposição, mas que eu conheci o amor da minha vida.
Depois de uma resposta como essa nada mais precisava ser dito. A entrevista se encerrara e a exposição se tornara um sucesso.
A CADA PALAVRA DE ANDRÉ, Jorge sentia-se mais fracassado. Ele se enfraquecia a cada menção de dor, já que sabia que era ele a fonte de toda a agonia de Mônica que fora registrada naquela fotografia.
Sentiu vontade de chorar mais uma vez, quando encarou os dois casais bem a sua frente. Mônica estava linda e sedutora, como nunca ele jamais a vira. Janaína, por sua vez, comentava o resultado da entrevista com o seu colega (e amante), de uma forma exuberante. Elas eram como dois lados de uma única moeda: uma representava o amor; a outra, a paixão. Os dois sentimentos que causaram o caos na vida estável do administrador. As duas ali. As duas com outros homens. As duas mulheres que ele desejava ter e que o ignoravam. Pela primeira vez, Jorge experimentava o sabor amargo da solidão de forma tão intensa.
Olhou para Mônica. Ela estava feliz. Pensou em, sarcasticamente, dar-lhe os parabéns. Queria destilar o seu veneno, mas desistiu. Não teve forças. Sabia que não conseguiria e saberia que ela lhe daria uma resposta que lhe causaria mais dor. Pensou em falar com Janaína. Olhou fixamente para a jornalista. Ela, em resposta, o encarou e depois abraçou o fotógrafo que lhe acompanhara. Jorge percebeu então que dali não tiraria nada, além de uma lição. Resolveu abandonar aquele local. Era um perdedor. Falhara no jogo do amor. Estava sem a menor fortuna. Tinha que recomeçar. Recomeçar longe de tudo aquilo, recomeçar longe daquelas mulheres. Deixou a casa de cultura, entrou em seu carro e partiu para nunca mais voltar àquele mundo de traição, dor e engano.
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História de um casal
Teen FictionO que acontece quando tudo acaba? Lidar com a dor do término é uma tarefa árdua. Em "História de um casal", as dúvidas, os medos e, sobretudo, os porquês que permeiam o fim de um relacionamento são retratados de maneira intensa até que a vida ganhe...