ELES CAMINHARAM POR UM BOM TEMPO. A conversa estava boa e o clima agradável. Mônica, que sempre se interessou por artes, estava fascinada por ter um artista ao seu alcance. André compartilhava as diversas aventuras por um bom clique, e ouvir a todos os imbróglios era muito divertido. Além disso, ele também expunha o seu amor pela fotografia analógica – em suas palavras "atualmente quase pré-históricas" – em relação às imagens digitais.
Há tempos Mônica não fazia um amigo de fato, por isto, a sensação daquela conversa era muito prazerosa. Já para André, conhecer o mundo da tradução, da revisão e do escritório fechado era algo instigante. Mônica lhe explicara tudo o que aprendera trabalhando com os mais variados temas e o que teve que fazer quando fora desafiada a revisar sobre assuntos que não dominava. Os dois conversavam como se fossem amigos de infância.
A noite chegara de mansinho, e o sol já havia se posto, quando André fez um convite a Mônica: queria que ela fosse conhecer seu estúdio fotográfico.
A proposta lhe causara surpresa. O que será que esse estranho quer comigo?, ela meditava sem saber se diria sim ou não. André, ao ver sua cara de preocupação, insistiu:
– Vamos. Eu não sou um maníaco que irá te fazer mal, se é isso que você está pensando!
Ele é lindo, inteligente e ainda tem senso de humor! – Mônica riu:
– É muito longe daqui?!
– Não, dois quarteirões... Vamos que eu quero pôr a sua foto para revelar.
– Ai meu Deus! A minha foto. Que medo de ver isso!
– Você vai ver o quanto você estava bonita sentada embaixo daquela árvore.
Mônica aceitou o convite e eles se dirigiram ao estúdio de André. A caminhada passou em um piscar de olhos, e quando ela deu por si, eles estavam em frente a um casarão antigo de paredes cinza. André, por outro lado, não conseguia conter sua animação diante da visita da moça ao seu estúdio-home, embora não entendesse muito bem o porquê de tê-la convidado. Uma atmosfera de curiosidade rondava os dois jovens: ele estava queria saber quais seriam as impressões de Mônica em seu estúdio; ela, por sua vez, tinha curiosidade pelo o que veria lá dentro. Entraram na casa em silêncio respeitoso à situação inusitada e gostaram do que continuaram sentindo.
O ambiente era parte estúdio e parte moradia. O espaço era simples e acolhedor. Havia fotos espalhadas por todos os lados. Do lado esquerdo, próximo a uma varanda, estavam alguns rebatedores de tamanhos variados. A sacada recebia as luzes da cidade e sua cortina se balançava com a brisa quente. Ao centro, via-se um sofá e uma mesa de centro decorada com alguns livros sobre fotografia; na parede em frente, uma grande TV. Do lado direito, havia um computador e ao lado uma porta, que provavelmente levaria à outra sala. Em frente à entrada principal, um belíssimo aquário dava as boas-vindas aos visitantes. A decoração era toda nas cores preta e branca, o que dava um efeito incrível no ambiente.
Ele quebrou o silêncio:
– Bem-vinda. Pode ficar à vontade.
– Obrigada!
– Eu já venho.
Mônica sorriu, enquanto André ligou o computador e ultrapassou a porta que estava ao seu lado. Da outra sala, ele ouvia os passos dela caminhando pelo ambiente. Ela observa os detalhes: cada foto ali tinha uma carga profunda de sentimentos que ele tentava captar por intermédio de suas lentes. De repente, ele parou de ouvir a pequena caminhada.
– Adorei essa foto aqui. Ela me transmite tanta paz.
– Me dá só mais um segundo. Já estou indo aí... – gritou o fotógrafo de dentro do quarto escuro.
DEPOIS QUE JANAÍNA SAIU, a casa de Jorge ficou com um clima para ele desconhecido: o ar pesava-lhe a consciência, já que era um misto entre o amor que ele sentia pela ex-namorada e a paixão que ele sentia por seu novo caso. Por isso, ele resolveu tomar um banho e dar uma volta.
A noite estava fresca e tudo o que Jorge não queria era ficar em seu apartamento. Ele pegou o seu carro e resolveu sair sem destino. Acabou entrando em uma pizzaria; onde, entre uma bebida e outra, refletia sobre sua vida.
Indagava por onde estariam as duas mulheres que transformaram a sua existência. Resolveu ligar para a Mônica. Um impulso lhe dizia que ele TINHA que falar com ela. Pegou o celular e discou o número. Seu coração batia forte. Por que ele fazia isso? Não tinha uma resposta exata. Discou o número que sabia de cor e apertou a tecla verde do aparelho celular. Em alguns segundos, o telefone de Mônica começou a chamar, a chamar e a chamar. Ela, obviamente, não atendeu. É... não tem mais jeito, ele pensou.
Ficou algum tempo parado, resolvendo se deveria ligar ou não para Janaína. Não queria atrapalhá-la em seu trabalho. A pizza de quatro queijos que ele havia pedido chegara e ele continuava ali, com o telefone nas mãos. Entre uma garfada e outra, Jorge teclava seu celular impaciente. Ele sabia que algo estava estranho desde que Janaína o deixara.
Olhou toda a sua agenda, pensando com quem poderia conversar. Olhou as chamadas realizadas e sentiu falta de Mônica; olhou as chamadas recebidas e... Foi quando ele percebeu que a Mônica havia ligado para ele no dia anterior. Mas como eu não vi isso? – Ele se indagava enquanto tentava retornar a ligação. Estava desnorteado. Como a Mônica poderia ter ligado e ele não falara com ela?! A ligação estava nas "chamadas recebidas", não em "chamadas perdidas", o que não fazia o menor sentido. Como isso pôde acontecer?!
Jorge perdeu a fome, perdeu a compostura. Sentiu vontade de chorar pela segunda vez. Pagou a conta e partiu. Já no meio do trajeto de volta para seu apartamento, lembrou-se da cena: era a manhã de sábado, ele estava em um local mais reservado com Janaína. Eles haviam acabado de acordar, quando ele foi ao banheiro e ela – por que ela?! – atendera o telefone, e lhe disse, posteriormente, que era um engano.
– Engano dela, só se for!
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História de um casal
Teen FictionO que acontece quando tudo acaba? Lidar com a dor do término é uma tarefa árdua. Em "História de um casal", as dúvidas, os medos e, sobretudo, os porquês que permeiam o fim de um relacionamento são retratados de maneira intensa até que a vida ganhe...