Capítulo 21

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O FIM DE TARDE ESTAVA LINDO. O sol se punha, e a noite nascia quente. Mônica caminhava com borboletas em seu estômago. Tudo era motivo para sorrir. Não podia – e nem queria – deixar de pensar na exposição que se aproximava.

Resolveu entrar no shopping e comprar um sorvete. No meio do caminho viu, em uma vitrine, um vestido preto lindo. As costas nuas, um belo decote. Não se conteve e já se imaginou dentro dele. Imaginou a expressão do André quando ele a visse dentro dele. Imaginou os dois juntos, desfilando pela galeria de arte, em meio às fotografias. Não resistiu: entrou no estabelecimento e, sem pensar no preço, comprou o vestido. Alguns minutos depois, saiu da loja radiante. Tudo estava dando certo. Continuou andando em direção ao quiosque do sorvete e reparou que alguns rapazes olharam para ela. Há quanto tempo um cara não repara em mim?!, pensou, ainda que não se lembrasse da resposta. E nem era necessário. Não queria viver de seu passado. Começou a fazer planos para o futuro, que, embora sem o Jorge, começou a lhe parecer promissor. Comprou o sorvete e se dirigiu ao metrô.

A esta altura, a lua já banhava a cidade com sua luz, e a brisa noturna lhe afagava a face. Entrou na estação, comprou o bilhete, embarcou no trem. Reparou nos outros passageiros, alguns homens eram bonitos. Eles também repararam nela. Ficou perdida em seus pensamentos até que concluiu: uma nova Mônica está nascendo – uma Mônica que não vive nas sombras de ninguém. Chegou a casa, ligou o rádio. Tomou um banho caprichado. Fez um sanduíche. Ligou o laptop, enquanto organizava um pouco a sala. Entrou na internet, checou as redes sociais e atualizou o seu status para solteira.

Neste meio tempo, recebeu uma mensagem:

Tenho uma certeza é a que a melhor coisa que eu fiz foi ter colocado a sua foto na exposição. Você me dá sorte. Sou mais feliz desde que te conheci.

Ela não teve nem tempo de responder:

Fico feliz por você confiar e acreditar em mim. Não vejo a hora de todo mundo poder conhecer essa sensibilidade do seu olhar.

Mônica não esperava por duas mensagens como essas. Ficou tão feliz que começou a cantar e a dançar a música animada que tocava no rádio. Como ele pode ter esse efeito sobre mim? Isso está acontecendo muito rápido.

Em meio à sua dança, reparou que no canto da sala havia alguns livros. Foi verificar do que se tratava. Eram de Jorge. Parou e ficou observando. De repente, começou a rir. Era incrível como ter um pedaço do ex-namorado não fazia mais sentido. Voltou-se ao computador e digitou:

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De: Mônica de Sousa 

Para: Jorge – trabalho 

Assunto: Seus livros

Olá, Jorge.

Ficaram alguns livros seus aqui em casa. Acredito que eles sejam do seu projeto de doutorado. Você virá buscá-los, mandará um motoboy ou eu posso fazer uma doação para uma biblioteca?!

Atenciosamente,

Mônica de Sousa

Revisora, tradutora e intérprete

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Depois, escreveu sua resposta:

Você também me dá sorte! A exposição será um sucesso. Estou ansiosa por ver minha foto nela! Beijos, Moni.

Feito isso, foi dormir.


JORGE ACORDOU CEDO, ESTAVA MAIS CALMO.Tomou uma ducha, dirigiu até um café. Lá, fez sua primeira refeição. Teriavárias reuniões que tornariam o seu dia seria longo. 

Ao chegar à empresa, passou por Guilherme. Conversaram um pouco. Depois, pegou o jornal com sua secretária e foi para a sua sala. Lá seguiu o ritual matinal: leu a primeira página do periódico; passou, então, ao caderno de economia; depois, ao de esportes; para, por fim, passar às outras reportagens. Findou a leitura quase ao final da manhã. Ligou o computador e resolveu chegar seus e-mails. Para a sua surpresa, encontrou – em meio às chatas mensagens dos outros sócios – um escrito por de Mônica, sobre uns livros dele esquecidos na sala da casa dela.

Ele não acreditou em que seus olhos viam. Leu a mensagem em voz alta, para que seu cérebro processasse seu significado: Você virá buscá-los, mandará um motoboy ou eu posso fazer uma doação para uma biblioteca?! Podia sentir o sarcasmo nas palavras de Mônica. Ela sabia que isso o deixava furioso. Teve raiva. Atirou a caneta que estava em sua mão longe! Sentiu vontade de falar poucas e boas na cara dela, de gritar com ela. Clicou em "responder"; contudo, as palavras certas não lhe vinham aos dedos. Tudo o que ele escrevia – e posteriormente apagava – não lhe era o suficiente. Queria ofender a ex-namorada... Queria possuí-la.

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