A CHUVA COMEÇARA A CAIR LÁ FORA, e ela se via ali deitada – finalmente – chorando. Sabia que aquele fora o verdadeiro fim, o desfecho definitivo de sua relação, entretanto não tinha noção de como reagir perante aquilo tudo. Sentia que a cabeça estava a mil por hora: ao mesmo tempo em que pensava em como tudo havia terminado, se recordava dos momentos bons que eles haviam vivido juntos. E, ao se recordar dos bons momentos, sentia raiva por ter acabado assim...
Numa tentativa de se acalmar e tentar parar de chorar, começou a pôr tudo na balança. De quem seria a culpa?! Dele?! Dela?! De ambos?! Não sabia. No fundo, sua revolta era tamanha, que não queria conhecer o culpado. Não queria assumir a culpa por algo que não fizera e não queria se sentir idiota o suficiente por ter escolhido o cara errado. Escolhas, a vida é feita delas e, além do sofrimento pelo abandono, havia o autoflagelo pela eleição equivocada que fizera. Como pode alguém ter um dedo tão podre assim?
Ela nunca imaginara como a dor poderia ser tão grande. Talvez, não tivesse a menor dimensão da importância dele em sua vida. Talvez esta angústia fosse por não o ter mais ali. No entanto, a única coisa que desejava arduamente durante aquele fim de tarde chuvoso era que aquilo tudo fosse um pesadelo. Queria acordar daquele sonho ruim, olhar para o lado e vê-lo ali, dormindo como um anjo, como se aquela descoberta nunca tivesse acontecido... Ele, anjo?! Não, definitivamente anjo era tudo o que ele não era. Ele havia trocado todo o amor que eu sempre dediquei a ele por outra. Uma aventura apenas. Nada mais. Como quem troca de roupa, ele me trocou. Simples e fácil assim.
Ela estava ali, sentindo raiva de si mesmo. Sim, muita raiva. Via-se descartável, com o horror consumindo por não conseguir parar de pensar nele e porque, enquanto ela estava sofrendo, ele estava se divertindo com a outra. Ao mesmo tempo, se despedaçava pela situação, sentia dó de si mesma, mas não queria desistir. Estava novamente sozinha no mundo e teria de ser forte. Aonde encontraria a coragem que ele sempre me dava? Tinha consciência de que deveria ser madura em meio à loucura, por isso, procurava em si forças para mudar, mesmo sabendo que não as tinha. Não, naquele momento. De tanto chorar, acabou adormecendo.
ELE SAIU DA CASA DELA CHATEADO. Chateado consigo, por causa da grande burrada que havia cometido, chateado com ela que não lhe dera nenhuma chance de explicação. Por que as mulheres são tão difíceis? Estava absorvido em seus pensamentos. Queria reconquistá-la, mas sabia que esta missão era a mais impossível de todas. Ela sempre deixou claro que o único ato que considera imperdoável é a traição – e, é claro, ele tinha que tentar desafiá-la logo com isso.
Seguia pelas ruas, enquanto chuva torrencial começara a se desmanchar sobre a cidade. Depois da tensão que vivenciara, estava totalmente sem rumo. Vagou até alcançar o local em que seu carro estava estacionado: esbarrava em poste, em carro, em gente; molhava-se e não se importava. A cada trombada, ouvia xingamentos de todas as espécies. Mas isto já não lhe fazia mais sentido. Queria reconquistá-la. Pretendia apagar da sua vida aquele happy hour com os amigos, o whisky a mais, a bela mulher que o seduzira... Deletaria aquilo tudo de sua mente.
Como eu pude fazer isto? – questionava-se. E, ao se recordar da expressão de nojo que ela tinha no olhar, percebeu que aquela era a mulher da sua vida, a mulher com quem desejava passar o resto dos seus dias.
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História de um casal
Novela JuvenilO que acontece quando tudo acaba? Lidar com a dor do término é uma tarefa árdua. Em "História de um casal", as dúvidas, os medos e, sobretudo, os porquês que permeiam o fim de um relacionamento são retratados de maneira intensa até que a vida ganhe...