Capítulo 7

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ELE ESPEROU QUE ELA APARECESSE e minutos depois ouviu o ruído dos seus passos se aproximando. Era ela, a mulher da sua vida, por isso, tentou parecer o mais natural possível – seu plano não poderia falhar. Colocou um sorriso – nervoso – nos lábios e, com o coração na boca, esperou pela reação surpresa que teria.

Ela saiu do banho, se vestiu, enrolou a toalha de banho nos cabelos molhados e ligou o laptop sobre a cama – precisava terminar a revisão iniciada no trabalho. Enquanto o computador estava inicializando, resolveu colocar a torta congelada no forno.

Ao abrir a porta do quarto, ouviu uma suave melodia vinda da sala – era o seu tango preferido, o que lhe invocou boas lembranças de uma passagem rápida que fizera com ele em Buenos Aires. Eles elegeram aquele Carlos Gardel como trilha sonora do relacionamento e sentiam-se felizes sempre que narravam aos amigos a tentativa de dança que tiveram nas calles del Caminito. A imagem surgiu em sua mente como um flash e, apesar das boas recordações, sentiu medo, pois tinha uma certeza: não havia ligado o rádio. Será que estava ouvindo coisas? A sensação de loucura tomava conta do seu ser.

Continuou caminhando, pé ante pé até a sala. Foi chegando lá que deu de cara com ele. Lindo e maravilhoso, com aqueles lábios sedutores lhe hipnotizando e um buquê de rosas nas mãos.

– Oi – ele lhe disse.

Como ele consegue ser tão natural?! O que esse filho da puta está fazendo aqui?! Como ele está lindo! Ai Deus, eu vou morrer!, pensava ela, ao mesmo tempo em que respondia seriamente: 

– Posso saber o que VOCÊ está fazendo aqui?!

Ele abriu ainda mais o sorriso enquanto deduzia: Ela sempre durona... Droga, por que eu tenho que amar esta linda mulher de toalha na cabeça?. Diante do olhar misterioso que ele lhe lançava, ela reforçou a indagação:

– Hem?! Posso saber o que VOCÊ faz AQUI?!?!?!!? E como você entrou, hem?!

– Poderia dizer que eu vim te devolver as suas chaves... – respondeu lentamente, enquanto girava o chaveiro por entre os dedos – aquelas que você esqueceu no meu carro um dia desse, mas se eu te dissesse isso, não seria verdadeiro...

– Como se você não mentisse...

– ...eu vim mesmo, porque eu estou sofrendo. Eu sofro quando fico longe de você e eu aprendi isso da pior maneira possível...

Ela ficou muda. Tudo a pegou de surpresa. Estava atônita. Ele, percebendo a admiração da amada, levantou-se e caminhou em sua direção, dizendo:

– Por isto eu vim. Eu não posso deixar morrer todo este sentimento bom que eu tenho dentro de mim... Porque você é a minha melhor parte e eu não posso deixar que nosso relacionamento morra.

Ele se aproximou. Ela recuou. Ele deu mais um passo.

– A propósito, estas flores e este jantar são para você.

– Eu acho melhor você ir embora.

– Por favor, me dá uma única chance. Só uma. Jante comigo esta noite. Só hoje.

Ela olhou dentro daqueles olhos verdes profundos. Ele estava quase chorando. Ela, que nunca o havia visto assim, lembrou-se da mensagem na secretária eletrônica, da voz dele trêmula dizendo: "amor, quero que você saiba que eu chorei por tudo isto", e se sentiu horrível. Queria sumir dali. Ele começou com tudo isto. Foi ELE quem traiu, e porque EU me sinto tão mal por vê-lo sofrer? Ela estava angustiada e travava uma luta interna entre a sua razão e a sua emoção.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora