MÔNICA TERMINOU A MAQUIAGEM, pegou a bolsa e foi em direção a saída. Usava um vestido simples, que lhe conferia uma elegância peculiar: ao mesmo tempo em que parecia uma menina meiga, era uma mulher decidida.
Passou por todos sorridente, embora seu olhar buscasse apenas uma pessoa: o fotógrafo. E lá estava ele, encostado em uma parede, próximo a porta. Uma das mãos, no bolso da calça jeans; a outra segurava uma mochila. A camisa social preta por fora da calça lhe dava um ar despojado. Mônica sorriu ao perceber que ele devaneava enquanto esperava por ela. Sentiu-se feliz.
Ela se aproximou dele e proferiu um tímido "oi" que o trouxe de volta a realidade. Ele, ao vê-la, abriu um imenso sorriso. Abraçaram-se e cumprimentaram-se com um beijo recíproco na face.
– Bom te ver de novo! – disse André jovialmente. Mônica sentiu o rosto corar e sorrindo respondeu:
– Posso dizer o mesmo... Como ficaram as fotos?! Sua mensagem me deixou extremamente curiosa!!!
– Eu... Bem, eu sou meio suspeito pra dizer... – ele respondeu com um sorriso malicioso nos lábios.
– Por quê?! – Mônica estava cada vez mais maravilhada com seu novo amigo. – Porque, modéstia à parte, o fotógrafo é muito bom...
Mônica começara a rir, enquanto André prosseguiu:
– E a modelo é a mais encantadora de todas as mulheres...
O elogio a deixou sem jeito. Ela sorriu em retribuição, e eles caminharam em silêncio.
(...)
Entraram em um restaurante próximo ao escritório em que Mônica trabalhava. O aroma da comida caseira ganhava o lugar e aguçava os sentidos, transformando o estabelecimento em um local acolhedor.
Enquanto almoçavam, conversavam sobre coisas da vida. Ela contava sobre a infância, os estudos, a família. Ele contava como a fotografia deixou de ser algo caseiro para se tornar profissão, como era viver na grande cidade, a falta que sentia dos irmãos. Era fácil falar sem medo e sem amarras, por mais que Mônica não entendesse bem o porquê disso. Eles facilmente transitavam por interesses em comum: música, arquitetura, literatura, culinária. Por outro lado, a conversa seguia um ritmo leve e espontâneo, de forma que as banalidades também apareciam: o tempo, as manias, aquilo mais que amam e o que detestam.
Já degustavam a sobremesa, quando perceberam que uma hora já havia se passado.
– O tempo voou! – Mônica exclamou rindo e, ao mesmo tempo, lamentando-se.
– É... O tempo é nosso inimigo, todas as vezes que estamos juntos ele voa!
– Mas a gente dá um jeito...
– Como?!
– Nos vemos mais vezes.
A solução de Mônica deixou André satisfeito. Ainda mais por ver como o rosto dela se iluminara ao arrumar uma saída.
– E por falar em nos vermos mais vezes, essa semana tem a abertura da minha exposição... Queria muito que você estivesse lá comigo! Vamos?
– Nossa! Será uma honra! Mas só vou com uma condição!
– Qual?!
– Quero ver a minha foto antes!
Eles riram. A felicidade estava no ar. Mônica sentia uma paz incrível ao lado de André, e ele, por sua vez, não se sentia menos feliz.
JORGE ESTAVA AÉREO. Mal ouvia o que lhe diziam durante a reunião. Sua vida estava desmoronando diante de seus olhos e tudo estava muito confuso. Ele revoltava-se por isso. Logo ele: Jorge, o machão que nunca se apaixona – só se faz apaixonar –, sofrendo como uma mulherzinha. Isso era um absurdo.
A reunião acabou já era quase meio-dia. Jorge saiu da sala como se estivera saindo de uma guerra.
– O que você tem, cara?! Tá doido de vir pra reunião executiva desse jeito?! – perguntou-lhe Guilherme, seu amigo e um dos gerentes da empresa.
– Cara, eu estou mal...
Os dois se dirigiram para a sala de Jorge e o administrador contou toda a história para o amigo.
– Espera, deixa ver se eu entendi bem...
– Sim...
– Você está chateado porque você trocou a INSOSSA DA MÔNICA pela GOSTOSA DO BAR?!?!!?!! Você só pode estar louco!
– Você não entende... Ninguém entende...
– Então se explica! Porque se fosse eu, estaria mais do que feliz por essa troca! Você deu um salto, cara!
– Eu teria dado um salto se...
O telefone da sala tocou e Jorge atendeu. Era sua secretária, avisando que a Senhorita Janaína Moreno esperava por ele. Eles se despediram em meio às vibrações de Guilherme. Para ele, era como se Jorge fosse o artilheiro da Copa do Mundo e acabasse de levar a taça do torneio. Jorge, no entanto, estava mais para um curioso conformado do que para um vencedor. De qualquer maneira, foi ao encontro da jornalista.
Ela, como sempre, estava belíssima: usava uma calça skinny, uma bota de salto alto e fino e uma blusinha. Seus cabelos louros, estavam soltos até a cintura, e ela fazia questão de passar as mãos por eles, como que por puro charme.
– Oi, ainda está bravo comigo?!
– Oi. Vamos sair daqui; aí, a gente conversa...
Foram em silêncio até o estacionamento. Chegando lá entraram no carro de Jorge. Ele, por sua vez, encostou a cabeça no banco. Fechou os olhos e respirou fundo pensativo.
– Escute, eu sei que eu sou um mistério. Sei que você tem dúvidas de como eu sei o seu destino e imagino que você se sinta sufocado. Mas eu quero que você saiba que, se eu faço isso, é porque gosto de você... E MUITO!
A ênfase dada a este "muito", fez com que Jorge abrisse seus olhos e olhasse lentamente para os lados. Deparou-se com uma Janaína sincera e ao mesmo tempo sedutora. As palavras de Guilherme ecoaram em sua cabeça: "estaria mais do que feliz por essa troca! Você deu um salto, cara!". Fechou os olhos novamente. Não queria que ela estivesse ali, mas a atração fazia com que seu corpo pegasse fogo.
– Jorge, você está me ouvindo?
Como resposta, Janaína obteve um beijo urgente.
(...)
No restaurante, o casal conversou como de costume. Não falaram sobre o que ocorreu na noite ou na manhã anterior. Não estavam a fim de brigar. Jorge, principalmente. Ele estava convencido de que Guilherme estava certo sobre o tal salto que dera em sua vida. Forçava-se a pensar que fizera a coisa certa, embora fosse difícil admitir – mais uma vez – que Mônica tinha razão quando dizia que eles não deveriam ficar juntos. O pouco que falaram foi sobre seus respectivos trabalhos e, quando Jorge começou a contar do fiasco que a reunião daquela manhã, Janaína o interrompeu dizendo quão animada estava para uma matéria que faria em um festival de arte no final da semana. Acabado o almoço, Jorge deixou a moça na redação e voltou para seu escritório. Quando não estavam na cama, tudo parecia frio, mecânico – e isso tornava a comparação inevitável nos pensamentos de Jorge.

VOCÊ ESTÁ LENDO
História de um casal
Teen FictionO que acontece quando tudo acaba? Lidar com a dor do término é uma tarefa árdua. Em "História de um casal", as dúvidas, os medos e, sobretudo, os porquês que permeiam o fim de um relacionamento são retratados de maneira intensa até que a vida ganhe...