Capítulo 12

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 MÔNICA FICOU UM POUCO PENSATIVA, depois finalmente disse:

– Engraçado... Sempre gostei deste nome... – e pronunciou vagarosamente – Annnnn... dré...

– Meus pais escolheram bem, né?!

Eles riram. Era tão bom estar ali. O sol esquentava a todos, a brisa era acolhedora, e os pássaros cantavam a felicidade do verão. Mônica se sentiu motivada a continuar:

– Então, o que você faz por aqui? Além de me fotografar, claro.

– Vejamos... Além de te fotografar – disse sorrindo –, eu vim aqui... Fotografar!!!

Mônica ouvira tudo atentamente com um ligeiro ponto de interrogação na face, e seu novo amigo deu continuidade:

– Falando sério, estou organizando uma exposição sobre o sentimento na sociedade pós-moderna. Já fotografei em vários lugares, faltava mesmo esse parque. Aliás, quero muito que a sua foto entre na exposição. Tenho certeza que ficou ótima!

– Nossa! Uma imagem minha em uma exposição? Nunca fui objeto de exposição alguma! Você tem certeza que vai querer ter uma chorona na sua mostra?!

– Confia em mim, a foto ficou linda! E para tudo tem uma primeira vez...

Não tem como não confiar. Olha só que sorriso mais lindo, mais doce!

– ... e você? – Ele prosseguiu. – O que você fazia aqui sozinha na parte mais isolada?!

Mônica respirou fundo. Não era muito fácil falar de sua vida, ainda mais com alguém que ela mal havia conhecido. Entretanto, o que ela poderia fazer? Sabia que não tinha com quem desabafar. Seus pais haviam falecido, seus amigos ficaram no interior e... Bem, falar sobre a vida pessoal com os colegas de escritório seria pior do que desabafar com um estranho, então disparou:

– Esta semana não foi nada fácil para mim. Além do problema com o meu na..., com o meu ex-namorado, tive uma semana puxada lá no escritório...

– Você, tão linda assim, trabalha em um escritório?! Você tem cara de uma artista, dessas que ficam em ateliês contribuindo com a beleza do mundo.

– Meu Deus! Estou percebendo que o meu novo amigo é um perfeito galanteador!

Mônica ficara vermelha com o elogio, e André rira com todo o seu charme. Ela prosseguiu:

– Sou tradutora e intérprete, mas trabalho no escritório de tradução fazendo revisões. Esta semana comecei uma interminável de uma tradução de um livro de medicina... Mais de 1000 páginas! Definitivamente, isso sugou as minhas energias.

Enquanto caminhavam, eles se conheciam. André descobria o quanto Mônica estava fragilizada e, ao mesmo tempo, o quão forte ela era. Já ela, por sua vez, percebia que no mundo masculino ainda havia alguém a quem – ao menos aparentemente – ela poderia confiar.


JORGE E JANAÍNA PASSARAM O DIA ALI NA CAMA, intercalando atos sexuais e rodadas televisivas. Ele sentia uma paz estranha, que não conseguiria definir com palavras. Quando tentava entender tudo o que acontecia, uma angústia lhe invadia o peito. Era bizarro. Nunca havia passado por aquilo. Seu quarto agora tinha outro cheiro, outro sabor... Ele estava ali com outra mulher que não era a Mônica. Tudo era muito diferente.

Ao mesmo tempo em que se desligava da partida de futebol na TV e tentava compreender a última semana, Jorge também se sentia um homem sortudo. Nunca, em toda a sua vida, uma mulher como Janaína correra atrás dele. Nunca ele tivera uma companhia tão exuberante ao seu lado. Já se imaginara chegando ao escritório ou ao happy hour por ela acompanhado. Ela estonteante e seus amigos morrendo de inveja por não estarem com mulheres tão bonitas. Ironicamente, Janaína seria o troféu recebido por ter perdido Mônica.

Enquanto Jorge estava perdido em seus devaneios, Janaína assistia à TV com um olhar distraído. Passava a mão em seus cabelos, enrolando algumas mexas em seu dedo indicador. Ela também devaneava, viajava em seus sonhos secretos, até que seu telefone celular tocou, chamando-a para a realidade:

– Alô?... Tudo... Um hum... Sei onde é... Estou indo!

– Aconteceu alguma coisa?! – Perguntou-lhe Jorge assustado, também voltando à realidade.

– Tenho que ir. – Janaína respondeu-lhe. A moça se vestia numa velocidade fenomenal. Ele, que não entendia nada, levantou-se calmamente e parou na frente dela dizendo com um tom já não tão amigável assim:

– Aconteceu al-gu-ma coisa?!?!

– Surgiu uma matéria de última hora... – Ela vestia as sandálias correndo. Ele nunca vira uma mulher se arrumar tão rápido.

– Quer dizer que você é jornalista, é?!

– Sim... E surgiu uma pauta de última hora...

– Você quer que eu te leve?

– Meu carro está na região, não precisa se preocupar.

– A gente se vê quando?!

– Pode deixar que eu dou notícias – disse ela piscando um dos olhos. Depois completou:

– Agora preciso ir.

Deu um beijo nele e se foi. Ele ficou pensando como ela é água em suas mãos.


História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora