Capítulo 6

175 20 6
                                    

O SOL BRILHAVA NO ASFALTO DA AVENIDA. Ela foi caminhando até uma cafeteria. Entrou, sentou. Pediu um croassaint e um café amargo. Comeu e meia hora depois saiu. Estava cansada, mas mesmo assim resolveu passar no supermercado, para comprar alguma coisa congelada para o jantar.

A partir disso a vida seguiu a mesma monotonia de sempre: dúvida entre uma torta salgada ou uma pizza congelada (ela optou pela torta), passar na sessão de doces e comprar duas caixas de chocolate, ir até a parte dos materiais de limpeza e pegar o que está faltando em casa. Depois: fila gigante no caixa rápido. Saindo do mercado, estação de metrô lotada, com trens mais lotados ainda. Empurra-empurra, cheiro de suor, pisões nos pés, aperto. Ela com sua bolsa e com as sacolas do supermercado. Ooooh vida estressante! Já era noite quando ela chegou em casa e guardou o congelado. Ao passar pela sala, apertou o botão da secretária eletrônica e ouviu o seguinte recado: "Oi, sou eu...". Ela começou a tremer. Era ele. "...Por favor, ouça até o fim. Eu te amo. Eu sei que te feri, que te magoei, que sou um sacana que não merece o seu perdão..."

– Ainda bem que ele sabe! – disse para si mesma. "... mas eu tenho que te pedir isto: POR FAVOR, ME PERDOA! Eu sei que eu errei, mas eu te amo, eu tenho tantos planos para nós dois. Já até nos vi casados...".

– Faz as besteiras, e depois vem com este papinho de "eu te amo"... "... amor, quero que você saiba que eu chorei por tudo isto. E que o que eu puder fazer para consertar tudo, eu faço. Amo você".

Ela ficou ali parada, atônita. Instantes depois, voltou ao trecho e ouviu de novo: "...amor, quero que você saiba que eu chorei por tudo isto. E que o que eu puder fazer para consertar tudo eu faço. Amo você". Seus olhos marejaram. Chorou. Ela sabia que se ele não derrama lágrimas por qualquer coisa e que, se o fez, é porque havia alguma coisa de errado. Ela sofria, porque ele NUNCA chorava por nada. Arrastou-se até seu quarto. Pegou algumas coisas. Resolveu ir tomar o segundo banho do dia.


ELE SAIU DO TRABALHO, PEGOU O CARRO E ENCAROU O TRÂNSITO. Já eram quase 6 da tarde, quando conseguiu chegar em casa. No meio do caminho, ligou na casa dela e desabafou para secretária eletrônica: "Oi, sou eu, por favor, ouça até o fim. Eu te amo. Eu sei que te feri, que te magoei, que sou um sacana que não merece o seu perdão, mas eu tenho que te pedir isto: POR FAVOR, ME PERDOA! Eu sei que eu errei, mas eu te amo, eu tenho tantos planos para nós dois. Já até nos vi casados... Amor, quero que você saiba que eu chorei por tudo isto. E que o que eu puder fazer para consertar tudo, eu faço. Amo você".

Ao chegar em casa, tomou um banho e torceu para que suas palavras a tocassem de alguma forma. Se arrumou. Fez alguns telefonemas e saiu novamente. Passou na vinícola e comprou o melhor vinho que encontrou. Depois foi ao restaurante do amigo de seu pai e comprou a lasanha preferida dela. Por fim, entrou numa floricultura e adquiriu um belo buquê de rosas vermelhas. Era tudo ou nada. Respirou bem fundo. Dirigiu-se a casa dela. Parou o carro a alguns metros da residência. Pegou os pacotes e caminhou silenciosamente. Ao parar na porta, viu algumas luzes acesas no 2º andar. Entrou sorrateiramente com as chaves que ela havia esquecido em seu carro há um tempo atrás e ouviu o barulho do chuveiro. Ela estava ali, tão perto. Seu coração batia desesperadamente no peito. Arrumou a mesa de jantar: a lasanha e a garrafa de vinho ao centro; na iluminação, duas velas... E ela ainda no banho...

Ligou o rádio bem baixinho, com uma música suave. Aquele era o tango preferido deles e lhes trariam boas lembranças da viagem que fizeram juntos à Buenos Aires. Era impossível não sorrir ao se recordar dos passos de danças desengonçados que tentaram nas terras portenhas. Tantos momentos felizes não poderiam ficar para trás por causa de um deslize. Ele olhou ao redor e sorriu. Tinha certeza que seu plano daria certo, por isso, posicionou-se em um lugar estratégico. Sentou-se no sofá da sala segurando as rosas nas mãos e esperou que ela aparecesse.

História de um casalOnde histórias criam vida. Descubra agora